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Os 50 anos da Apollo 13 servem para lembrar que apressar uma nova viagem para a Lua é um erro

O programa Apollo foi uma façanha tecnológica impressionante, mas, no 50º aniversário da Apollo 13, lembramos os tremendos riscos envolvidos e por que os EUA não devem mandar novamente humanos à Lua às pressas.

Ilustração de uma missão Artemis com seu hipotético módulo de pouso. Imagem: NASA

O programa Apollo foi uma façanha tecnológica impressionante, mas, no 50º aniversário da Apollo 13, lembramos os tremendos riscos envolvidos e por que os EUA não devem mandar novamente humanos à Lua às pressas.

O grande salto para a humanidade de Neil Armstrong continua sendo o auge das conquistas espaciais, mas ele teve um custo. Em 27 de janeiro de 1967, um incêndio na cabine durante um ensaio de lançamento resultou na morte dos astronautas da NASA Gus Grissom, Ed White e Roger Chaffee. A sessão de treinamento fracassada foi postumamente apelidada de Apollo 1, no que foi um começo terrível para o programa lunar.

Olhando para trás, dá para dizer que foi um milagre que essas três tenham sido as únicas mortes atribuídas diretamente ao programa Apollo. A NASA dançou no fio da navalha perpétua.

A Apollo 11 — a primeira de seis missões bem-sucedidas à Lua — quase terminou em desastre quando o módulo lunar Eagle da tripulação quase ficou sem combustível durante sua descida. Durante o lançamento da Apollo 12, o foguete Saturn V foi atingido por um raio, não uma, mas duas vezes, fazendo com que o sistema de orientação, navegação e controle a bordo ficasse temporariamente inoperante.

E, claro, teve a Apollo 13.

Em 13 de abril de 1970, quando os tripulantes da Apollo 13, Jim Lovell, Fred Haise e Jack Swigert, se aventuraram em direção à Lua, um tanque de oxigênio no Módulo de Serviço explodiu. Esse era um “problema”, como Lovell apontou com indiferença. Mas logo ficou evidente que a missão havia perdido sua principal fonte de oxigênio, água e energia elétrica. Graças à improvisação heroica da tripulação, ao apoio de equipes de solo e a uma boa dose de sorte, os astronautas retornaram à Terra com segurança em 17 de abril.

Por que a pressa?

As missões da Apollo foram feitas aos trancos e barrancos, mas a mentalidade era diferente na época. Os Estados Unidos se envolveram em uma corrida espacial com a União Soviética. Havia um verdadeiro senso de urgência no programa Apollo, e a próxima fronteira importante se tornou subitamente acessível.

A tripulação da Apollo 13 de volta à Terra. Imagem: NASA

O que nos leva a hoje. A corrida espacial certamente não é mais o que costumava ser, com empresas privadas agora integradas e robôs fazendo grande parte das viagens espaciais por nós.

Mesmo assim, a NASA atualmente está tendo que lidar com uma linha do tempo irracionalmente agressiva para o retorno de seres humanos à Lua. Em março de 2019, o vice-presidente Mike Pence, em nome do presidente Donald Trump, disse à agência espacial que tinha que colocar astronautas americanos no regolito lunar até 2024, e não 2028, como planejado inicialmente.

Artemis, como esse programa é chamado, certamente será um trabalho urgente se o atual governo seguir em frente neste objetivo (por motivos que parecem totalmente egoístas: Trump quer crédito por um pouso na Lua). Embora viagens espaciais sejam inerentemente arriscadas, a Artemis não deveria sofrer a perda de vidas que a Apollo sofreu. Um prazo de 2028 permitiria à NASA tornar a missão o mais segura possível, e também poderia fazer a viagem valer a pena.

A linha do tempo acelerada torna mais provável que soluções mais simples e não necessariamente mais seguras sejam elaboradas, juntamente com uma janela limitada para testes e aprimoramentos.

A pseudo-urgência de Trump colocará vidas em risco. Os críticos podem argumentar que uma missão lunar prepara o terreno para uma viagem tripulada a Marte, o que certamente aconteceria, mas também precisamos nos perguntar seriamente por que precisamos enviar humanos para Marte em primeiro lugar.

Novas tecnologias, nova tolerância a riscos

Não há dúvida de que a Artemis será mais segura que as Apollo, mas isso não significa que nossa próxima estadia na Lua não será perigosa. Grande parte das tecnologias previstas para a próxima missão ainda não existe. Muitas outras serão utilizadas pela primeira vez. O mesmo para protocolos de missão, procedimentos e similares. De certa forma, os EUA estão tendo que reinventar o caminho para voltar à Lua, pois nenhum humano esteve lá desde a Apollo 17 em 1972.

Imagem conceitual da espaçonave Orion, que levará astronautas à Lua. Imagem: NASA

Felizmente, parece que a NASA e seus parceiros do setor privado adquiriram uma baixa tolerância a riscos.

Em maio de 2019, por exemplo, um teste de paraquedas da cápsula SpaceX Crew Dragon (que será usada para entregar astronautas à ISS, e não à Lua) resultou em uma maquete do veículo colidindo com o solo “a uma velocidade mais alta que o esperado“. O interessante dessa falha é que o exercício foi projetado para testar o comportamento em um cenário que já não é o ideal, no qual um dos quatro paraquedas teria falhado na hora de disparar.

Não se ouvia falar de tolerâncias de risco como estas durante a era Apollo. Elas são uma das principais razões pelas quais agora leva tanto tempo para desenvolver sistemas que têm o espaço como destino.

Orion, a espaçonave que transportará os astronautas para a Lua, também está passando por testes extensos. Mais recentemente, a sonda foi colocada dentro de uma câmara a vácuo e exposta a todo tipo de sofrimento, incluindo exposição a temperaturas extremamente baixas, oscilando entre -156°C e -128°C, junto com explosões de interferência eletromagnética. A Orion como conceito existe desde 2004. Várias versões foram testadas ao longo de uma década. Portanto, ela não foi feita no calor do momento.

O software também pode ser um problema

Astronautas e desenvolvedores de tecnologia também têm acesso a ferramentas que só existiam nos sonhos das equipes da Apollo. A Agência Espacial Européia, por exemplo, está usando simulações altamente detalhadas da missão Apollo 15 para fins de treinamento e para fornecer uma plataforma de teste para tecnologias recém-desenvolvidas.

Ao mesmo tempo, dados coletados pelo Lunar Reconnaissance Orbiter da NASA e outros satélites estão sendo usados ​​para criar mapas detalhados da superfície do satélite natural. Isso tornará possível sistemas autônomos capazes de evitar terrenos acidentados quando ela for buscar pontos de aterrissagem adequados, por exemplo.

O que traz um problema interessante: nossa crescente dependência de sistemas autônomos executados por computador. Como o repórter de ciência do New York Times Kenneth Chang apontou recentemente:

“Nossa maior vantagem e minha maior preocupação estão todas centradas na mesma área”, disse Joseph W. Dyer, vice-almirante aposentado da Marinha dos Estados Unidos, que presidiu o Painel Consultivo de Segurança Aeroespacial da NASA de 2003 a 2016.

Agora, as naves espaciais podem executar muitas tarefas de forma autônoma, mas no código complexo do software, “os erros podem estar presentes, e às vezes eles são catastróficos”, disse Dyer. “O ponto principal é que, com grande capacidade, vem grande complexidade.”

Essa armadilha surgiu durante o teste sem tripulação, em dezembro passado, da sonda Starliner da Boeing, projetada para levar os astronautas da NASA para a Estação Espacial Internacional e trazê-los de volta à Terra. Testes inadequados deixaram passar pelo menos dois erros sérios de software que levaram a missão a ser encerrada mais cedo e a não atingir seu objetivo principal: atracar na estação espacial.

Além do acidente da Boeing Starliner, houve também o caso do módulo de pouso ExoMars Schiaparelli, que colidiu com a superfície marciana em 2016 devido a uma falha no software. A informática é vital, mas também frágil.

Ainda falta muita coisa, e muita coisa vai precisar ser simplificada

A Artemis envolverá dois componentes principais: a já mencionada espaçonave Orion, que já existe, e o Space Launch System (SLS) da NASA, que não existe.

Não ter o foguete que levará você à Lua é uma limitação bastante significativa, para dizer o mínimo. O primeiro teste do SLS não acontecerá antes do primeiro semestre de 2021, o que é bem perto de um pouso na Lua em 2024. Este foguete deveria estar pronto em 2017, e seus muitos atrasos representam um sério constrangimento para a agência espacial dos EUA.

Como contexto, vale dizer que os EUA não foram capazes de lançar astronautas de solo americano de forma independente desde a aposentadoria do Programa Space Shuttle em 2011. No entanto, estamos aqui, a menos de quatro anos de uma aparente missão lunar.

Representação artística do lançamento do SLS. Imagem: NASA

Orion e SLS representam as peças conhecidas de Artemis, mas ainda não sabemos de outros componentes importantes. Um dos principais é o módulo lunar, que a NASA está terceirizando para parceiros privados. A Boeing e a Blue Origin estão atualmente trabalhando em seus projetos, mas qualquer solução para um módulo de aterrissagem lunar nesta fase será conhecida em um prazo bem apertado.

Deu para sentir? É o mesmo ritmo apressado que a Apollo enfrentou — e sem nenhuma razão para justificar. A linha do tempo acelerada torna mais provável que soluções mais simples e não necessariamente mais seguras sejam elaboradas para a Artemis, juntamente com uma janela limitada para testes e aprimoramentos.

Ah, caso você esteja se perguntando sobre o sistema Lunar Gateway, ele foi adiado, então não estará disponível para a primeira missão Artemis. Um posto avançado permanente em órbita ao redor da Lua seria útil, mas o conceito apresentava uma série de complicações e riscos à missão, incluindo cenários delicados e perigosos de atracação e implantação.

Uma das razões pelas quais o Lunar Gateway foi adiado tinha a ver com o custo, o que traz outra questão importante, se não a principal: dinheiro.

No ano passado, a NASA disse que precisaria de US$ 25 bilhões adicionais nos próximos 5 anos para fazer a Artemis acontecer até 2024, o que representa um acréscimo de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões ao seu orçamento anual. Não está claro se o Congresso cederá esses fundos, especialmente se não houver uma razão racional para o cronograma acelerado.

E isso foi antes da pandemia de COVID-19, que está prestes a mergulhar o mundo em uma grande recessão, se não em uma depressão. Independentemente disso, o Congresso já disse que prefere ver a Artemis acontecer em 2028 e que os humanos cheguem a Marte até 2033.

Uma missão à Lua em 2024 parece cada vez mais improvável a cada dia que passa. Caso isso aconteça até essa data prevista, a NASA voltará a passar pelo mesmo tipo de situação que resultou na Apollo 13.

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