Após 2 anos, é hora de chamar pandemia de Covid de endemia?

Autoridades brasileiras querem rebaixar o status da Covid para endemia, mas cientistas defendem que ainda não é hora. Entenda porque a nomenclatura faz diferença
Endemia
Imagem: zhugher/Pixabay/Reprodução

A mudança do status da Covid-19 de pandemia para endemia já vinha sendo discutida no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro chegou a apoiar a ideia publicamente, o que deu ainda mais forças para que o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, passasse a tratar a mudança de nomenclatura como prioridade.

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A pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020. Desde lá, países ao redor do mundo enfrentaram períodos de alta e também momentos de estabilidade do vírus. Reino Unido e Dinamarca rebaixaram o status para endemia no começo deste ano, mas será que devemos seguir o exemplo? 

Muitos cientistas defendem que não. Para entender os motivos, é preciso começar pelas diferenças entre os dois termos. Ao falar em pandemia, estamos nos referindo a uma disseminação generalizada e rápida da doença, em que a emergência sanitária se torna global. 

Por outro lado, a endemia é usada para descrever o cenário em que o vírus tem uma disseminação previsível. Nela, os cientistas já sabem lidar com o patógeno, o sistema de saúde não fica sobrecarregado e o número de casos e mortes se mantém estável. Esse é o caso do vírus influenza, por exemplo.

Paul Goepfert, professor de medicina da Universidade do Alabama, disse em entrevista à ABC News que ainda não estamos prontos para mudar o status. Apesar de ter os EUA como base, sua argumentação se encaixa ao Brasil. 

De acordo com o pesquisador, a Covid-19 não possui um padrão previsível e também não sabemos se outra variante pode chegar e causar uma nova onda da doença. Natasha Chida, professora assistente na divisão de doenças infecciosas da Universidade Johns Hopkins, disse ao noticiário que as pandemias “não são uma experiência estática”. 

Como explicou a cientista, muitos estados americanos ainda possuem capacidade hospitalar baixa. Por isso, decretar uma endemia e liberar o uso de máscaras acabaria prejudicando o serviço de saúde de algumas regiões.

Nessio Fernandes, vice-presidente do Conass e secretário de Saúde do Espírito Santo, disse à Folha de S. Paulo que decretar o fim da pandemia pode, também, atrapalhar a vacinação. Com a mudança, parte da população pode não achar mais importante a campanha de imunização e deixar de aderi-la. 

Além disso, caso seja declarado o fim da Espin (Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional), pode-se perder o aval para uso emergencial da Coronavac, Janssen e outros medicamentos utilizados nesse período. Autoridades estão estudando a possibilidade de mudar essa regra da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A situação está agora em análise por técnicos da pasta. O rebaixamento (ou não) da Covid para endemia deve ser decidido até o final de março.

Carolina Fioratti

Carolina Fioratti

Repórter responsável pela cobertura de saúde e ciência, com passagem pela Revista Superinteressante. Entusiasta de temas e pautas sociais, está sempre pronta para novas discussões.

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