Apple realiza evento para Trump “inaugurar” fabrica que existe desde 2013
Não foi um evento oficial de campanha, mas poderia muito bem ter sido. Quando Donald Trump voou no Air Force One para Austin, Texas, na quarta-feira (20), o presidente visitou a pequena fábrica que está montando os computadores Mac Pro da Apple. É a mesma fábrica que produz modelos Mac Pro mais antigos desde 2013, mas esse fato aparentemente não parecia importar para o presidente. Logo após a visita, Trump assumiu o crédito pela abertura da fábrica e alfinetou os democratas. A Apple não disse uma palavra sobre o caso.
Levar crédito por coisas que ele não fez não é um novo hobby para o presidente. Nem mentir, em geral. Inclusive, havia duas mentiras no tuíte de Trump sobre a fábrica da Apple:
Today I opened a major Apple Manufacturing plant in Texas that will bring high paying jobs back to America. Today Nancy Pelosi closed Congress because she doesn’t care about American Workers!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) November 20, 2019
Tradução: Hoje, eu abri uma grande fábrica da Apple no Texas que vai trazer empregos altamente remunerados de volta aos EUA. Hoje, Nancy Pelosi fechou o Congresso porque ela não se importa com os trabalhadores americanos!
Na verdade, Nancy Pelosi não fechou o Congresso na quarta-feira (20), embora Trump talvez estivesse fazendo uma referência ao inquérito histórico de impeachment que vem atraindo a atenção do mundo e que está acontecendo agora na Câmara. Mas essa fala sobre a fábrica da Apple é claramente falsa. Operada pela Flextronics America – Flex para abreviar – a instalação de Austin foi aberta durante o governo Obama e vem fabricando Mac Pros desde 2013. Enquanto a Flex esperava inicialmente que a fábrica da Apple gerasse 1.700 novos empregos, o New York Times relata que, atualmente, a instalação emprega “cerca de 500 pessoas”. O que há de novo na fábrica é o mais recente Mac Pro, que Trump passou algum tempo observando na quarta-feira.
“Para mim, este é um dia muito especial”, disse o presidente após fazer um tour pelo local. Trump destacou como os produtos fabricados nos EUA não enfrentam tarifas e disse que seu governo “investigaria” a oferta de isenções tarifárias à Apple no futuro. Ele acrescentou: “Tim Cook é alguém que eu respeito muito”.
Tim Cook, CEO da Apple, deveria saber o que estava acontecendo. Embora o executivo da Apple tenha criticado certas políticas de Trump no passado, ele parecia realmente disposto a deixar o presidente usar sua fábrica como uma plataforma para se gabar de sua guerra comercial. Cook até deu a Trump um painel de um Mac Pro em que se lia: “Projetado pela Apple na Califórnia. Fabricado nos EUA”. Acompanhado pelo Secretário do Tesouro Seth Mnuchin e sua filha Ivanka, Trump o segurou como um cinto de campeonato de luta livre e sorriu para fotos.
Foto: Getty
“Sou grato pelo apoio deles em fazer esse dia acontecer e por nos ter levado até aqui”, disse Cook após as declarações de Trump. “Não seria possível sem eles”.
É difícil imaginar como isso é verdade. Novamente, a fábrica do Mac Pro monta Macs desde 2013 e a Apple anunciou há dois meses que a mesma fábrica montaria o novo modelo. Talvez Cook estivesse se referindo a um evento diferente que ocorreu em Austin apenas algumas horas antes da chegada do presidente Trump. Na manhã de quarta-feira, a Apple iniciou a construção de um novo campus de US$ 1 bilhão que foi anunciado há um ano e deve ser inaugurado em 2022. Porém, não será uma instalação de fabricação. O Times relata que ela hospedará “cerca de 5.000 funcionários em áreas como engenharia, vendas, operações e suporte ao cliente”.
Então, por que Trump não visitou o canteiro de obras e segurou uma pá ou algo do tipo? Não é disso que ele gosta?
Uma explicação óbvia é que Trump sabe que sua base não quer ouvir falar de cargos administrativos. Trump prometeu a eles que traria empregos operacionais de volta aos Estados Unidos, e isso é ostensivamente uma grande razão pela qual o governo está em guerra com a China por tarifas. A guerra comercial não está indo bem, no entanto, nem o esforço de Trump para abrir mais fábricas domésticas. Dados recentes mostram que a manufatura está agora em declínio nos Estados Unidos e não parece que se recuperará no futuro próximo. Claro, a fábrica da Apple que vem produzindo Mac Pros nos últimos seis anos continuará fabricando os computadores. A Apple, no entanto, não anunciou nenhuma nova fábrica local nesta semana.
A Apple também não comentou as falsas alegações do presidente Trump sobre a fábrica do Texas, e a empresa não respondeu a um pedido de comentário sobre o assunto. Como John Gruber argumenta na Daring Fireball, a empresa não tem motivos para se manifestar, porque o governo Trump está dando a eles um alívio das tarifas muito bem-vindo. Sobre a visita de Trump a Austin, Gruber escreveu:
Não foi uma promoção para o Mac Pro ou sua montadora. Foi uma promoção para Trump. Este vídeo faz parecer que as políticas comerciais de Trump foram boas para a Apple e que Tim Cook apoia Trump. Ambas as ideias são falsas. Até a afirmação previsível de Trump de que esta é uma nova instalação é falsa – a Apple, na época em que houve uma mudança de alto cargo, fabrica Mac Pros nas mesmas instalações desde 2013. A Apple não está trazendo de volta a fabricação do Mac Pro aos EUA por causa das políticas comerciais de Trump; A Apple mantém a produção do Mac Pro aqui apenas porque Trump concedeu à Apple uma isenção de suas tarifas – tarifas que ele próprio claramente não entende.
Mas Cook entrou no jogo sabendo que era assim que Trump jogaria – uma grande pilha de bobagens absurdas por todo o caminho.
Parece que a farsa pode valer a pena para Cook e amigos. Afinal, Trump sugeriu que mais isenções tarifárias poderiam estar a caminho da Apple. A empresa já se beneficiou dos cortes de impostos do governo Trump e o presidente continuou pressionando a Apple a adicionar mais empregos à economia norte-americana. Com base no que está acontecendo no Texas, parece que a Apple adicionará um monte de cargos administrativos, e isso é bom para esses trabalhadores . Trump simplesmente mentirá e os chamará de empregos operacionais.