Apesar de críticas à coleta de dados, CEO da Apple não vê nada errado em receber bilhões do Google

No último ano, o CEO da Apple, Tim Cook, fez questão de criticar empresas de tecnologia por coletarem dados de usuários indiscriminadamente e por desconsiderar preocupações de privacidade. Mas um problema em suas críticas é que a Apple recebe uma fortuna do Google para usar seu mecanismo de busca como padrão em seus dispositivos. Em […]
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No último ano, o CEO da Apple, Tim Cook, fez questão de criticar empresas de tecnologia por coletarem dados de usuários indiscriminadamente e por desconsiderar preocupações de privacidade. Mas um problema em suas críticas é que a Apple recebe uma fortuna do Google para usar seu mecanismo de busca como padrão em seus dispositivos. Em uma nova entrevista, Cook finalmente falou da questão.

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Cook se encontrou com o site de notícias Axios para um programa na HBO na noite de domingo, em que falou sobre alguns dos atuais problemas na indústria de tecnologia. A Apple manteve durante algum tempo que a “privacidade é um direito humano fundamental” e até inclui isso como primeira linha de sua política de privacidade. Cook repetiu uma variação dessa frase ao ser perguntado pelo Axios sobre privacidade. Ele explicou que “isso não é uma questão de privacidade contra lucros ou de privacidade contra inovação técnica — essa é uma escolha falsa”. Os poucos dados que a Apple coleta sobre uso de dispositivo são anonimizados. A maioria dos dados sensíveis são criptografados, de modo que a Apple só tem informações limitadas, como o momento do dia em que você enviou uma mensagem, mas nada do conteúdo da mensagem.

A Apple usou sua política como ferramenta para criticar empresas impulsionadas por anúncios como o Facebook. “Isso é vigilância, e esses estoques de dados servem apenas para enriquecer as empresas que os coletam”, disse Cook em uma conferência de privacidade da União Europeia em outubro. Ele acrescentou: “Isso deveria nos deixar desconfortáveis”. Portanto, falar sobre o fato de a Apple receber do Google para torná-lo o mecanismo de busca padrão de seus dispositivos deveria deixar Cook desconfortável. Mas, quando perguntado sobre isso pelo Axios, ele foi relativamente positivo. Abaixo, o comentário completo do CEO sobre o assunto:

Primeiro: acho que o mecanismo de pesquisa deles (do Google) é o melhor, e isso é muito importante. Mas, em segundo lugar: veja o que fizemos com os controles que criamos. Temos navegação privada na web. Temos uma prevenção inteligente de rastreamento. O que tentamos fazer é encontrar maneiras de ajudar nossos usuários no decorrer do dia. Não é algo perfeito. Eu seria a primeira pessoa a dizer isso. Mas ajuda bastante.

Navegação privada na web é legal, e a prevenção inteligente de rastreamento no Safari ajuda os usuários a controlar se os cookies os seguem pela rede, embora o Google tenha rapidamente encontrado um jeito de contornar isso após o anúncio do recurso. Mas é difícil discutir com o argumento de Tim Cook de por que o Google é o navegador de escolha da empresa. A Apple poderia escolher um mecanismo de pesquisa padrão que tivesse como foco a privacidade, como o DuckDuckGo, mas seria como vender um Bentley com assentos de couro falso — ou pelo menos é o que Cook parece estar argumentando. Ele não falou especificamente sobre a receita anual que a Apple recebe do Google, mas analistas financeiros estimam que ela fique entre US$ 3 bilhões e US$ 9 bilhões.

O DuckDuckGo nunca conseguiria pagar à Apple uma quantia como essa, e, com a desaceleração nas vendas de dispositivo, a Apple está cada vez mais dependente de serviços para criar novas oportunidades. No último trimestre do ano fiscal de 2018, a Apple teve US$ 62,9 bilhões em receita, dos quais US$ 10 bilhões vieram de serviços como iCloud, Apple Music e do acordo lucrativo com o Google.

Deveria a Apple se envergonhar por sua disposição hipócrita de obter lucros de uma empresa que considera antiética? Claro. Mas é assim que a Apple funciona. Ela toma algumas ótimas decisões e faz alguns ótimos dispositivos. Ela também usa práticas trabalhistas péssimas para montar esses dispositivos, se opõe ao direito de reparar celulares fora de assistências técnicas autorizadas e contribui com quantidades incalculáveis de resíduos eletrônicos.

Por enquanto, para a sorte dela, várias outras empresas são claramente mais malignas na superfície. Quanto ao mundo da tecnologia ser mau, em geral, Cook disse: “A tecnologia é boa ou má, como você coloca, dependendo do criador, e muitas vezes não é que o criador se propôs a fazer o mal, é que não havia uma ideia de que ela poderia ser usada para essas coisas negativas”.

[Axios]

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