Apple Watch pode ter transmitido detalhes de morte de jornalista crítico à Arábia Saudita, diz jornal turco
O desaparecimento de um jornalista tem causado grande discussão no cenário internacional. Isso porque Jamal Khashoggi, que estava exilado nos EUA e escrevia para o Washington Post, sumiu após ter entrado no consulado da Arábia Saudita em Istambul no dia 2 de outubro. Desde então, autoridades turcas têm falado, sempre de forma anônima, que o jornalista, por ser crítico ao regime saudita, foi alvo de uma armação e que ele foi torturado e morto no local.
• O recurso de eletrocardiograma do novo Apple Watch presta mesmo?
• Novo Apple Watch Series 4 liga para a emergência caso você caia e não se mexa por um minuto
O jornal turco Daily Sabah, que costuma ter certo alinhamento com o presidente truco Recep Tayyip Erdogan, informou nesta sexta-feira (12) que Khashoggi acabou gravando detalhes de sua morte utilizando um Apple Watch — embora, a história ainda tenha um monte de fatos a serem esclarecidos. A CNN, citando o jornal turco, informa que Khashoggi configurou seu relógio para gravar suas interações enquanto estava dentro do local e que essas informações foram sincronizadas com seu iPhone, que estava com sua mulher em um carro em frente ao consulado:
O momento do interrogatório dele, tortura e morte foram gravados e enviados tanto para seu iPhone quanto para sua conta do iCloud, disse uma fonte do jornal privado e que tem orientação pró-governo. O jornal turco diz que as conversas com os homens envolvidos no assassinato foram gravadas.
A CNN, mais uma vez citando o Daily Sabah, informa que os torturadores só perceberam depois o problema de o relógio ter estado o tempo todo com Khashoggi e tentou apagar alguns dos registros após acessar o dispositivo usando impressões digitais.
O problema disso é que o Apple Watch não tem leitor de impressão digital (o desbloqueio ocorre via senha) ou, em alguns momentos, só de ter o telefone por perto já torna o relógio livre para uso. Um especialista da CNN diz ainda que a distância para transmissão via Bluetooth para um iPhone fora do local é muito grande, o que torna a tese um pouco esquisita.
A Reuters informa que os Apple Watches podem transmitir localização de GPS e batimentos cardíacos, além disso apenas os modelos mais novos do relógio contam com conexão LTE, o que possibilitaria a gravação das informações no iCloud, por exemplo. A questão é que não se sabe qual modelo do relógio da Apple que o jornalista usava.
Apenas recentemente que o jornalista Khashoggi percebeu o perigo em que estava, embora gravações mostrem que ele entrou sozinho no consulado da Arábia Saudita em Istambul.
O analista de inteligência Robert Baer sugeriu em entrevista à CNN que os turcos, na verdade, têm gravações sobre o assassinato, mas estão mentindo sobre como eles obtiveram, pois isso poderia ser uma forma de admitir que eles espionavam o local.
“Acho que os turcos têm escutas no consulado saudita e eles contam com transmissores”, disse o analista de inteligência Robert Baer à CNN. “Os turcos não confiam em quaisquer diplomatas e eles estão presentes em embaixadas e na maioria dos consulados, ouvindo o que acontece nesses locais — e se, de fato, existem gravações provando que o jornalista foi morto, acho que é provavelmente a forma como eles obtiveram essas informações. No entanto, os turcos estão relutantes em admitir isso.”
Funcionários da inteligência dos Estados Unidos disseram à CNN que o país interceptou comunicações de autoridades sauditas, que discutiam um plano de levar Khashoggi novamente para a Arábia Saudita e prendê-lo lá.”
Oficialmente, as autoridades sauditas dizem que Khashoggi deixou o local livremente e desapareceu após isso.
O jornalista Jamar Khashoggi escreveu muitas colunas críticas ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que é o chefe das atividades diárias do governo do país (o que inclui poder sobre as forças de segurança e militares) designado pelo rei Salman.
O príncipe tem tentado parecer como um “disruptor” ao tentar diversificar a economia do país, baseada atualmente apenas em petróleo, e tornar a cidade um hub de logística e uma região tecnológica. Parte desses esforços envolve investir bilhões de dólares do fundo soberano do país em gigantes da tecnologia, como Uber e Softbank. Ao mesmo tempo, Bin Salman tem se interessado em atrair interesse de empresas como Amazon, Tesla e Lockheed Martin, com um foco específico em setores que trabalham com novas formas de gerar e armazenar energia, indústria química, de plásticos, datacenters, além de equipamentos militares super tecnológicos.
Para tentar atrair esses investidores, o reino tem promovido reformas, como a que liberou recentemente as mulheres de poderem dirigir no país.
As alegações sobre o assassinato brutal do jornalista saudita parecem ser demais para Bin Salman, pois isso afetaria diretamente seus planos. Dara Khosrowshahi, CEO da Uber, Bob Bakish, CEO da Viacom, Steve Case, CEO da AOL, e vários parceiros de mídia declararam não ir em um evento chamado Future Investment Initiative (apelidada de Davos no Deserto). Richard Branson, fundador do Virgin Group, suspendeu conversas sobre investimentos e encerrou seu papel como supervisor de projetos turísticos sauditas, dizendo que se “as alegações são verdadeiras, esse fato mudaria a concepção do Ocidente de fazer negócios com o governo saudita.”
Neste sábado (13), o presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu em uma entrevista ao programa 60 minutes, da CBS, que se fosse provado que os saudistas são responsáveis pelo desaparecimento de Khashoggi, eles serão severamente punidos.
[CNN]
Imagem do topo: Consulado da Arábia Saudita em Istambul. Crédito: AP