Estudo mostra como os apps de encontro mudaram nossa forma de se relacionar
Os anos 1990 foram lar do pontapé de uma revolução nos relacionamentos. Foi nesta década que surgiu o primeiro site de encontros: o Macth.com, lançado em 1995. Quase uma década depois, em 2004, veio o OkCupid, e, dois anos depois, surgiu o ParPerfeito no Brasil. O Tinder estreou em 2012, e então tivemos ainda mais mudanças. Como esses serviços mudaram a maneira como nos relacionamos e a sociedade? Os casamentos estão durando mais tempo e há mais ocorrências de uniões interraciais, pelo menos com base nos dados dos Estados Unidos.
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A conclusão foi feita por dois pesquisadores: Josue Ortega, da Universidade de Essex, na Inglaterra, e Philipp Hergovich, da Universidade de Viena, na Áustria. O objetivo do estudo era descobrir como os encontros online mudaram a integração social. Com base em um dado que aponta que um terço dos casamentos atuais acontece entre pessoas que se conheceram pela internet, eles desenvolveram um modelo matemático para investigar como essa conexão que era inexistente há algumas décadas está ligada à diversidade da sociedade moderna.
Antes, os relacionamentos aconteciam por meio das redes de pessoas que conhecíamos. Mas eles aconteciam principalmente nos elos fracos de ligação dessas redes. Enquanto a maioria das pessoas provavelmente não vai se relacionar com seus amigos mais próximos, a possibilidade de sair com pessoas que estão ligadas a esse grupo de amigos é grande, por exemplo. De acordo com o estudo e a teoria de rede, parceiros em potencial estão nas nossas redes de amigos e a nossa rede geográfica. E é um fato, pesquisas sobre a maneira como as pessoas encontraram seus parceiros costumam indicar amigos em comum, bares, trabalho, instituições de educação, igreja e por aí vai.
Gráfico mostra as maneiras mais comuns que casais se conhecerem
Os serviços de encontros online mudaram isso. O estudo revela um dado que encontros online são a segunda forma mais comum para que casais heterossexuais se conheçam e a principal para casais homossexuais. “Pessoas que se encontram por meio da internet tendem a ser completas estranhas”, escrevem Ortega e Hergovich.
Os encontros online podem aumentar o número de casamentos entre pessoas de diferentes etnias, que são incrivelmente raros. Apenas 6,3% e 9% dos casamentos nos Estados Unidos e Reino Unido são interraciais, respectivamente. Os autores afirmam que esse número é esperado, já que esse tipo de matrimônio deixou de ser ilegal nos Estados Unidos há apenas 50 anos, depois do caso judicial Loving v. Virginia. O modelo matemático proposto pelos pesquisadores é consistente com o aumento de casamentos interraciais nos Estados Unidos nas últimas duas décadas. Esse aumento aconteceu justamente depois que os sites de encontros começaram a aparecer.
“É intrigante que, pouco depois da introdução dos primeiros sites de encontros em 1995, como o Match.com, a porcentagem de novos casamentos entre casais interraciais aumentou rapidamente”, escreveram. O aumento foi ainda maior nos anos 2000, com a popularização dos sites, e houve mais um salto em 2014, com a chegada do Tinder. “É interessante que esse aumento tenha acontecido depois da criação do Tinder”, completam.
Outro efeito interessante observado pelos pesquisadores é o que eles chamam de força do casamento. O modelo matemático prevê que os casamentos que se dão em uma sociedade com encontros online tendem a ser mais fortes, ou seja, duram mais tempo. Esses resultados foram obtidos ao considerar sociedades geradas de forma aleatória pelo modelo matemático e analisar a evolução de sua diversidade em mais de dez mil simulações.
Como aponta o MIT Technology Review, existem outros fatores que podem ter contribuído para o aumento do casamento interracial, como a redução da porcentagem de americanos brancos. Mas, segundo os pesquisadores, “a mudança na composição populacional dos Estados Unidos não pode explicar o grande aumento nos casamentos interraciais que observamos”. Apesar do modelo se basear em dados dos Estados Unidos, as conclusões são interessantes para o mundo todo: o que o estudo mostra é que os aplicativos de encontros permitiram que pessoas de diferentes comunidades se encontrassem, independentemente dos elos de ligação ou de quais grupos da sociedade aos quais elas pertenciam – o que, no final das contas, leva a uma mobilidade social e diversidade maior, em todos os níveis da sociedade.
Foto do topo: Tsering Topgyal/AP