Arábia Saudita prende dois editores da Wikipédia por “espionagem”
Um administrador da Wikipédia na Arábia Saudita, Osama Khalid, foi condenado a 32 anos de prisão após ser acusado pelo governo saudita de “facilitar espionagem” no país. Além dele, o também editor do site, Ziyad al-Sofiani, recebeu pena de oito anos.
As prisões aconteceram em 2020, mas só foram esclarecidas na quinta-feira (5) após uma denúncia da organização Dawn (Democracia para a Arábia Já, na sigla em inglês). Segundo a entidade, os dois viraram alvo depois que autoridades do emirado se infiltraram na Wikipedia. O objetivo era controlar o conteúdo do site no país.
“A investigação da Wikimedia revelou que o governo saudita se infiltrou nos mais altos escalões da equipe da Wikipédia na região”, diz a denúncia, que também leva a assinatura da Smex, organização libanesa que defende a regulação da internet nos países árabes.
Segundo os grupos, agentes do governo saudita atuaram como editores dentro da Wikipédia para verificar quem eram os responsáveis pelo conteúdo no país.
As acusações contra Khalid e Soufiani incluem tentativas de influenciar e violar a opinião pública ao publicar conteúdos críticos sobre a perseguição de ativistas políticos no país.
Em dezembro, a Wikimedia anunciou proibições contra 16 editores “envolvidos em conflito de interesses”. Eles atuavam na região do Oriente Médio e Norte da África. A organização começou a investigar os indivíduos em janeiro de 2022. Segundo Whitson, o anúncio da Wikipédia se referia aos sauditas que agiam em nome do governo.
Perseguição a jornalistas
“A prisão de editores demonstra não apenas o uso persistente de espiões dentro de organizações internacionais, mas também os perigos de tentar produzir conteúdo independente no país”, disse Sarah Leah Whitson, diretora da Dawn.
Além do caso da Wikipédia, essa não é a primeira prisão da Arábia Saudita contra jornalistas e funcionários de companhias de comunicação.
Em dezembro, agentes do emirado islâmico condenaram o ex-funcionário do Twitter, Ahmad Abouammo, a três anos de prisão. Eles o acusaram de ser um “agente ilegal de governo estranheiro no país”.
O caso mais emblemático é do jornalista Jamal Khashoggi, que foi morto após ir até a embaixada saudita em Istambul, em 2018. À época, ele estava exilado na Turquia por perseguições do governo saudita. Há evidências de que o príncipe herdeiro Mohammad bin Salman teria ordenado seu assassinato.