Ciência

Aranha violino é comum no Brasil? Picada pode causar sintomas graves e morte

Ocorrem pelo menos 19 espécies do gênero Loxosceles no país; aranha é peçonhenta e seu veneno pode ser letal, mas soro antiaracnídico auxilia a neutralização do veneno
Imagem: Wikimedia Commons/Reprodução

Reportagem: Camila Neumam/Instituto Butantan

Um homem de 23 anos morreu nesta semana na Itália em decorrência de complicações causadas pela picada de uma aranha do gênero Loxosceles, conhecida popularmente como aranha-marrom ou aranha-violino. Segundo a impressa italiana, o homem foi picado na perna direita em 13 de julho em uma área rural de Collepasso por uma aranha da espécie Loxosceles rufescens. Dias depois um abscesso se formou em sua perna, o que levou o membro à necrose. O rapaz morreu de choque séptico e falência múltipla de órgãos em 17 de agosto.

O caso ganhou repercussão mundo afora, inclusive no Brasil. Com a tragédia, ficam as perguntas: quão perigosa de fato a Loxosceles pode ser? Toda picada dela mata? Tem tratamento para a picada?

“As aranhas não querem necessariamente picar ninguém. A grande maioria das que aparece nas casas ou em outros ambientes é inofensiva, mas há espécies que podem realmente causar sérios problemas à saúde de quem for picado. Identificá-las pode ser um desafio, mas para isso vale uma preciosa dica: nem sempre as maiores são as mais perigosas”, afirma o aracnologista e pesquisador científico do Instituto Butantan Antonio Brescovit*.

Dá para identificar uma Loxosceles?

As Loxosceles têm em torno de três centímetros de comprimento e podem ter cores variadas, tornando o nome “aranha marrom” inadequado. “Chamá-la de marrom não ajuda a identificá-la, já que existem algumas como a Loxosceles intermedia que é avermelhada e ocorre praticamente em todo o Sul do Brasil”, afirma Antonio Brescovit.

Ela também é conhecida como aranha violino porque tem um desenho em seu abdômen que lembra um violino.

As aranhas do gênero Loxosceles ocorrem, sobretudo, na América do Sul, mas algumas também em outros continentes, como a Loxosceles rufescens, que se originou no mediterrâneo, mas atualmente é encontrada em outras regiões. As Loxosceles rufescens são minúsculas, podendo ter menos de 10 milímetros, e podem ser encontradas em cavernas e em residências, mas não estão registradas no Brasil.

Todas as aranhas do gênero Loxosceles são peçonhentas e consideradas de “importância médica”, termo que indica que os venenos delas são perigosos para a saúde humana, ao mesmo tempo em que são matéria-prima na produção do antiveneno, usado no tratamento.

No Brasil, ocorrem pelo menos 19 espécies de aranhas Loxosceles que não são consideradas agressivas, tendendo a picar somente por defesa quando pressionadas junto ao corpo humano. Apesar do temperamento dócil, elas estão entre as aranhas mais perigosas para os seres humanos.

“Geralmente as picadas com a aranha-marrom ocorrem quando ela se esconde entre as roupas nos armários ou enquanto se deslocam nos tetos durante a noite e caem em cima da cama de pessoas que estão dormindo, que podem ser picadas quando se mexem e pressionam o animal”, explica o pesquisador do Butantan.

Na natureza, elas costumam ficar escondidas sob cascas de árvores, barrancos e em folhas secas.

A picada de Loxosceles causa, geralmente, dor leve a moderada no local. Em até 24 horas, porém, pode surgir uma lesão arroxeada e dolorida, que tende a progredir para uma necrose em até três dias. Essa evolução vai depender da quantidade de veneno que foi injetada.

Em alguns casos, o envenenamento pode causar anemia e icterícia, e os de maior gravidade podem levar à insuficiência renal e à morte. Estes quadros ocorrem devido ao processo de hemólise (quebra de hemácias do sangue), típico deste tipo de envenenamento, que é comprovado por exames de sangue.

A necrose característica do veneno da Loxosceles pode ser confundida com infecções cutâneas, por isso outras manifestações também devem ser consideradas. “Não é só o veneno da Loxosceles que causa necrose: infecções fúngicas, bacterianas e algumas virais também. Se um paciente chega com necrose dizendo que foi picado ontem, não pode ser por Loxosceles. Além disso, a picada dela não causa pus”, afirma a médica Ceila Malaque, do Hospital Vital Brazil (HVB), vinculado ao Instituto Butantan.

Tem tratamento?

O soro antiaracnídico produzido pelo Instituto Butantan tem a função primordial de neutralizar o veneno e, por isso, é indicado mesmo dias depois da picada, se for comprovado o processo de hemólise no organismo. Se aplicado em até 48 horas após o acidente, o soro pode ainda prevenir a necrose cutânea e, por consequência, a perda de tecido no local da picada.

O que fazer ao encontrar uma aranha?

A aranha tende a somente picar alguém se se sentir realmente ameaçada ou pressionada ao corpo. No geral, elas tentam fugir ao se depararem com pessoas, explica Antonio Brescovit. E o fato de se movimentarem mais à noite, justamente por serem noturnas em sua maioria, diminui ainda mais essa probabilidade. “Ao se deparar com uma aranha, o ideal é não tocá-la diretamente, mas deslocá-la para fora da residência com uma vassoura ou outro objeto”, orienta o aracnologista.

 

* O conteúdo do texto foi validado pelo aracnologista e pesquisador científico do Instituto Butantan Antonio Brescovit 

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