Asteroide que extinguiu dinossauros gerou uma enorme câmara de magma que durou milhões de anos
Quando o asteroide que extinguiu os dinossauros atingiu a Terra há cerca de 66 milhões de anos, ele produziu uma piscina subterrânea de magma aproximadamente nove vezes maior que a atual caldeira do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA, de acordo com nova pesquisa.
O impacto de Chicxulub que ocorreu no Cretáceo Superior extinguiu 75% da vida na Terra, incluindo todos os dinossauros que não eram aviários. Porém, o evento também gerou um enorme e duradouro sistema hidrotérmico cheio de magma, de acordo com uma nova pesquisa publicada na Science Advances. Evidências disso foram encontradas em amostras de núcleo retiradas da Península de Yucatan, no México, o local do impacto.
A energia cinética produzida pelo impacto foi de cerca de 100 milhões de megatons, o que equivale aproximadamente a 10 bilhões de bombas de Hiroshima. Essa energia foi suficiente para derreter uma porção significativa da crosta terrestre, resultando na câmara de magma. Essa “central de fusão”, como os pesquisadores a chamam, durou centenas de milhares de anos e possivelmente mais de 2 milhões de anos antes de finalmente esfriar, de acordo com o artigo.
No seu auge, o maciço sistema hidrotermal de Chicxulub tinha cerca de 3 quilômetros de espessura, abrangendo 140.000 quilômetros cúbicos da crosta terrestre. Isso é mais de nove vezes o tamanho do sistema hidrotermal do Parque Nacional de Yellowstone, nos EUA.
Minerais hidrotérmicos extraídos da cratera de Chicxulub. Imagem: David A. Kring
Mas enquanto “calderas vulcânicas como Yellowstone são alimentadas por magma das profundezas da Terra”, o sistema hidrotermal Chicxulub foi “movido por uma quantidade maciça de magma criada no centro da cratera”, disse David Kring, principal autor do estudo e pesquisador do Instituto Lunar e Planetário do Texas, ao Gizmodo.
Os cientistas haviam suspeitado anteriormente da existência de um antigo sistema hidrotérmico no local de Chicxulub, mas faltavam detalhes cruciais, tais como seu tamanho geral e profundidade, seu efeito sobre o ambiente ao redor e sua vida útil total.
Para o estudo, Kring e seus colegas analisaram as rochas quimicamente alteradas retiradas da cratera de Chicxulub. Essas amostras foram fornecidas por uma expedição de perfuração liderada pelo Programa Internacional de Descoberta do Oceano (IODP, na sigla em inglês) e pelo Programa Internacional de Perfuração Científica Continental (ICDP), que adquiriu rochas entre 617 e 1.335 metros abaixo do fundo do mar.
Amostras armazenadas de núcleo obtida a partir de uma expedição que perfurou a cratera de Chicxulub. Imagem: David A. Kring
A análise desses minerais sugere que a temperatura inicial da piscina de magma estava entre 300 e 400 graus Celsius. Durante este tempo, a câmara de magma era como um gigantesco forno, cozendo a crosta ao redor. A piscina central de fusão estava aproximadamente 700 metros abaixo da superfície, que é 600 metros mais baixo do que as estimativas anteriores.
Um aspecto interessante desse estudo é como ele potencialmente nos dá pistas sobre a origem da vida na Terra. Há bilhões de anos, poderosos impactos de meteoritos geraram argilas hidrotermais, que estão ligadas à formação do RNA, um ácido nucleico básico auto-replicável e um alicerce para a vida.
“Chicxulub é a maior e mais bem preservada cratera da Terra e é, portanto, nosso melhor exemplo das crateras que foram produzidas no início da história da Terra”, disse Kring ao Gizmodo. “Havia milhares de crateras do seu tamanho e maiores do que ela quando a vida surgiu na Terra. Há evidências que sugerem que a vida emergiu de sistemas hidrotermais, potencialmente produzidos pelo impacto de asteróides e cometas.”
Para o futuro, Kring disse que sua equipe analisará amostras adicionais do núcleo de 1,3 quilômetro de profundidade na esperança de descobrir detalhes adicionais sobre o sistema hidrotermal Chicxulub e seu potencial para hospedar ecossistemas microbianos.
Este é o segundo grande artigo recente sobre o evento de impacto Chicxulub, sendo o outro uma análise do ângulo de impacto do asteroide. O estudo descobriu que o asteroide desceu num ângulo de 60 graus em relação à horizontal, o que maximizou seu potencial destrutivo. Kring contribuiu para esse trabalho, que também se baseou em dados retirados das expedições IODP e ICDP.