Astrônomos usam nova técnica para caçar planetas fora do Sistema Solar
Um grupo de astrônomos da Universidade Harvard fez uma descoberta que pode levar a uma nova técnica para descobrir planetas fora do Sistema Solar. Basicamente, o que eles fizeram foi detectar um campo de detritos nos pontos de Lagrange de um jovem sistema planetário. Parece grego? Calma, a gente explica.
Atualmente, já foram confirmados mais de 5.000 exoplanetas em nossa galáxia. A maioria deles foi descoberta por meio da técnica do trânsito, que envolve estudar as variações de brilho das estrelas quando um planeta passa na frente delas. Na prática, esse “mini eclipse” formado pelo exoplaneta pode ser medido para confirmar a existência do objeto.
O problema desse tipo de método é que ele possibilita descobrir apenas os planetas grandes, deixando de fora a maioria dos planetas pequenos e rochosos, como o nosso. Além disso, o exoplaneta precisa estar alinhado com a Terra para ser detectado.
Com a nova descoberta dos astrônomos de Harvard, tudo isso pode mudar. A partir de dados do Observatório Alma, instalado no Chile, os pesquisadores encontraram um anel de poeira brilhante no sistema LkCA 15. Ele está localizado a cerca de 518 anos-luz da Terra, na direção da constelação de Touro.
A estrutura brilhante fica a cerca de 6 bilhões de km da estrela e está separada em dois grupos por um ângulo de cerca de 120 graus. Essa separação é importante, pois ela pode ser matematicamente explicada pelo teorema dos pontos de Lagrange.
Uma nova maneira de caçar planetas
Quando dois corpos celestes – como uma estrela e um planeta – estão gravitacionalmente ligados, eles acabam formando cinco pontos – chamados de L1 a L5 – em que a força gravitacional é cancelada. Qualquer objeto localizado nesses pontos acaba ficando em uma espécie de ponto de equilíbrio gravitacional, como se estivesse “estacionado” no espaço.
O maior exemplo disso são os asteroides troianos, que dividem a órbita do planeta Júpiter e estão localizados nos pontos L4 e L5 do planeta. Já o telescópio espacial James Webb foi colocado no ponto L2 da Terra.
No caso de LkCA 15, o sistema ainda está em formação, com a maioria dos seus objetos estando sob um disco espesso de poeira e gás. Contudo, a descoberta dos grupos de anéis brilhantes pode indicar que um planeta pode estar escondido embaixo da poeira e a cerca de 60 graus entre eles.
De acordo com o estudo publicado no The Astrophysical Journal, o planeta deve ter um tamanho entre o de Netuno e o de Saturno, e ter cerca de três milhões de anos de idade – para comparação, a Terra tem 4,5 bilhões de anos.
Em comunicado, a astrônoma Feng Long, que liderou o estudo, afirma que a descoberta pode levar ao desenvolvimento de uma nova abordagem de caça aos exoplanetas a partir da localização de detritos em pontos de Lagrange, principalmente em sistemas estelares jovens e em formação. Isso permitiria estudar como esses astros se formam.
Recentemente, o James Webb também conseguiu fazer a sua primeira foto direta de um exoplaneta “bebê”, a 385 anos-luz da Terra. Por mais que este planeta já fosse conhecido pelos astrônomos, a pesquisa dos cientistas de Harvard, assim como a foto do novo telescópio espacial da NASA, podem ajudar a validar novos métodos científicos para descobrir planetas ainda não revelados por outras técnicas tradicionais.