Aumento de casos de dengue é reflexo de desmatamento e clima, diz Fiocruz
Até esta segunda-feira (18), o Brasil contabilizava mais de 1,8 milhão de casos de dengue, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde. Assim, os três primeiros meses de 2024 já superaram o total de casos de 2023 inteiro.
O ano também caminha para bater o recorde histórico de 2015, quando o país contabilizou mais de 1,688 milhão de casos de dengue. Nesse cenário, lugares onde antes a doença não era tão comum estão tendo alta incidência de casos.
Agora, um estudo da Fiocruz publicado na revista Scientific Reports analisou o motivo disso acontecer. De acordo com a pesquisa, o desmatamento e as mudanças climáticas são os culpados.
O papel das mudanças climáticas nos casos de dengue
Para compreender o novo padrão de disseminação dos casos de dengue no Brasil, os pesquisadores da Fiocruz utilizaram a técnica de mineração de dados. Eles analisaram tanto indicadores climáticos quanto registros demográficos das regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, que sofreram aumento no número de casos entre 2014 e 2020.
Dessa forma, concluíram que a incidência cada vez maior da doença está relacionada ao aumento da frequência de ondas de calor. Isso, por sua vez, é uma consequência das mudanças climáticas, que levam a eventos extremos como secas e inundações.
De acordo com Christovam Barcellos, pesquisador da Fiocruz e autor do estudo, as temperaturas acima do normal já se tornaram uma constante. Mesmo em lugares onde não era comum.
Por exemplo, no interior do Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, locais que enfrentavam cerca de cinco dias de anomalia de calor no verão, agora passam de 20 a 30 dias com temperaturas acima do normal.
“Isso dispara o processo de transmissão da dengue, tanto por causa do mosquito [Aedes aegypti] quanto pela circulação de pessoas”, explicou Christovam Barcellos, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do estudo.
Desmatamento e urbanização
Além disso, o estudo também aponta o papel do desmatamento no avanço dos casos de dengue. Em geral, as áreas cuja cobertura vegetal foi retirada costumam ser ocupadas por pessoas. Nesses locais, a urbanização e o aumento da circulação de pessoas favorece o aquecimento global, além de facilitar a transmissão.
“Dentro do Cerrado Brasileiro há as cidades que já têm ilhas de calor, áreas de subúrbio ou periferias com péssimas condições de saneamento, tornando mais difícil combater o mosquito”, conclui Barcellos.