Com automação, sindicato no Reino Unido quer menos horas de trabalho sem perda salarial

Nesta segunda-feira (25), a Agência de Estatísticas e Dados do Reino Unido liberou um relatório que mostra que 1,5 milhão dos trabalhadores do país têm “alto risco” de perder seus trabalhos para a automação. “Em 2017, dos 19,9 milhões de empregos analisados na Inglaterra, 7,4% das pessoas estavam desempenhando funções com alto risco de automação”, […]
Trabalhadores com bandeiras e balão do sindicato Unite, no Reino Unido
Warrick Page/Getty

Nesta segunda-feira (25), a Agência de Estatísticas e Dados do Reino Unido liberou um relatório que mostra que 1,5 milhão dos trabalhadores do país têm “alto risco” de perder seus trabalhos para a automação.

“Em 2017, dos 19,9 milhões de empregos analisados na Inglaterra, 7,4% das pessoas estavam desempenhando funções com alto risco de automação”, destaca o relatório. Mulheres e trabalhadores de meio período são os mais vulneráveis.

Durante a última década, caixas, trabalhadores de lavanderias e do campo viram seus números serem reduzidos, por razões previsíveis: o trabalho manual de rotina é o mais fácil de automatizar.

Embora o relatório tenha ganhado destaque na mídia britânica, a maioria das reportagens se encaixam em um modelo que ficamos acostumados a ver: “robôs irão tomar os nossos empregos, a educação é importante, insira o seu modo preferido de lamentação aqui”.

O Unite, segundo maior sindicato do Reino Unido, no entanto, resolveu aproveitar essa oportunidade para fazer algo relativamente novo: pedir por uma semana mais curta de trabalho.

“A nova tecnologia vai gerar muita riqueza”, disse Sharon Graham, diretora executiva do Unite e responsável por assuntos de automação, em um comunicado. “Vamos lutar para garantir que essa riqueza seja usada para fazer coisas que ajudem os trabalhadores e suas famílias, como reduzir o tempo de trabalho sem perda salarial. A automação precisa entregar benefícios para as pessoas comuns, não somente gerar mais lucros para as corporações”.

“Uma semana de trabalho mais curta sem redução salarial pode ajudar a manter empregos, mesmo quando a tecnologia reduzir o número de tarefas que precisam ser feitas por pessoas. […] Os ganhos da tecnologia devem ser usados para mudar a vida dos trabalhadores, incluindo melhores aposentadorias e menor tempo de trabalho”.

O fato de essa proposta poder parecer radical mostra que nos afastamos da promessa centenária de automação, articulada por pessoas como John Maynard Keynes, que acreditava que as máquinas fariam com que tivéssemos uma sociedade com mais tempo para o lazer.

E faz bastante sentido; se as máquinas estão aumentando a produtividade a ponto de dispensar a necessidade de trabalhadores em tempo integral, diminua o tempo de trabalho de cada um. É o que uma sociedade sã e preocupada com todas as pessoas faria.

Dado o domínio corporativo sobre as economias modernas, alcançar esse equilíbrio e permitir que a classe média se beneficie igualmente da automação, provavelmente vai exigir um forte movimento político e uma grande quantidade de leis.

Há algum barulho sendo feito em defesa da adoção de uma semana de trabalho de 4 dias no Reino Unido, e o Unite está reforçando a ideia agora. O sindicato representa 1,2 milhão de trabalhadores.

“A Unite realizou uma análise aprofundada das ameaças que a automação representa para os 21 setores da economia britânica e irlandesa onde o sindicato está organizado”, disse Graham ao Gizmodo.

O sindicato consultou três mil representantes de todos esses setores para obter informações sobre como lidar com os planos de automação. Eles identificaram os 10 maiores empregadores em cada um desses setores, diz Graham, bem como os 10 maiores empregadores de mulheres e pessoas de minorias étnicas que estão em risco de perder seus trabalhos para a automação ou sofrer algum tipo de maus-tratos causados por sistemas de inteligência artificial tendenciosos.

O Unite convidará os principais empregadores a adotar um “contrato de novas tecnologias”, que incluirá as políticas citadas. “Ao conduzir os acordos nas dez principais corporações, pretendemos elevar os padrões em todos os setores”, diz Graham.

“Uma previsão da PWC sugere que a automação poderia impulsionar o PIB do Reino Unido, somando £ 232 bilhões à economia até 2030. Não podemos ter uma repetição da década de 1980. Na época, perdemos empregos e salários para a tecnologia, enquanto os conselhos administrativos lucraram”, acrescentou.

“Desta vez, a riqueza e os benefícios gerados pela Indústria 4.0 devem ser compartilhados com os trabalhadores. Para este fim o Unite está desenvolvendo um Manifesto do século 21, onde o trabalho continua a ser um pilar central da sociedade e que a automação fortalece os trabalhadores com uma semana de trabalho mais curta e flexível, sem redução salarial. Também deve haver programas de aprendizado de alta qualidade, treinamento e melhores políticas de aposentadoria”.

O movimento para conectar a automação com menos trabalho para a classe média será uma articulação importante a ser observada.

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