Ciência

Azolla: planta aquática pode ser nova fonte de proteína da humanidade

Alimento, fertilizante e recurso para reduzir a concentração de gases do efeito estufa, a Azolla é uma planta prodígio que fascina cientistas
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Pequena o suficiente para caber em apenas um polegar, a samambaia aquática chamada Azolla pode ser uma opção de alimento para humanos. Além de auxiliar no combate às mudanças climáticas e ser um potencial fertilizante natural. É o que dizem cientistas, que se surpreendem a cada novo estudo sobre a planta.

Ela se desenvolve na superfície da água na fixando nitrogênio e utilizando fósforo e luz solar para se reproduzir. Assim, apenas com esses nutrientes, a Azolla cresce rapidamente, dobrando sua biomassa em um curto espaço de tempo – praticamente a cada dois dias.

Em sua composição, cientistas encontraram nutrientes em grande quantidade, como zinco, manganês, ferro, cálcio e potássio. Além disso, ela também é relativamente rica em proteínas.

“Não estou aqui dizendo que todo mundo deveria sair e comer isso imediatamente. Há muito trabalho a ser feito. Mas, nossa, ela tem tanto potencial”, afirma Daniel Winstead, que está estudando a Azolla na Universidade Estadual da Pensilvânia.

Polifenois em excesso

O principal motivo pelo qual Winstead ainda não sugere que as pessoas comam diretamente a Azolla é a quantidade de polifenois em sua composição. Apesar deles atuarem como antioxidantes, quando estão em grande quantidade, podem interferir na capacidade do corpo de absorver nutrientes. 

No caso da samambaia aquática, há uma concentração muito alta deste composto. Então, cientistas encontraram duas opções para tornar seu consumo viável: o preparo da Azolla, que diminui a quantidade de polifenois, ou a propagação de uma espécie que não tem esse problema, que é a azolla-da-Carolina, nativa do sudeste dos Estados Unidos.

Ela tem níveis muito mais baixos de polifenois, que se alinham com a concentração comum em frutas e legumes que fazem parte da dieta das pessoas. Além disso, em experimentos fermentando, fervendo e cozinhando a Azolla sob pressão, os pesquisadores descobriram que conseguem reduzir esse composto em até 92%.

Assim como podem reduzir um nutriente da samambaia aquática, os cientistas agora também pretendem estudar maneiras de aumentar a concentração de outros compostos. A ideia é criar plantas com alto conteúdo de proteínas, por exemplo.

Vantagens produtivas

Além do fator nutricional, a Azolla também apresenta outros benefícios que, do ponto de vista produtivo, fazem com que seja um alimento potencial. Por conseguir fixar seu próprio nitrogênio, a planta não precisa de fertilizantes sintéticos para se proliferar.

“Ela só precisa de 2 polegadas de água para crescer. Então você poderia ter um monte de bandejas de 2 polegadas empilhadas umas sobre as outras com luzes de crescimento. E você poderia obter uma quantidade enorme de biomassa saindo desse espaço pequeno”, explica Winstead.

Em países da Ásia, a samambaia aquática é utilizada em plantações de arroz. Assim, ela fornece nitrogênio e impulsiona o crescimento de outras culturas.

Dessa forma, os cientistas acreditam que podem encontrar maneiras de cultivar a azolla de forma sustentável e transformá-la em fertilizante para outros cultivos além do arroz.

Controle do aquecimento global

Assim como outras plantas, a Azolla absorve dióxido de carbono durante o processo de fotossíntese. Contudo, sua capacidade de captura de carbono é tão significativa que um evento global, o Evento Azolla, foi nomeado em sua homenagem.

Ele aconteceu há cerca de 49 milhões de anos, quando a planta floresceu em quantidades tão grandes no Ártico que ajudou a reduzir drasticamente os níveis globais de CO2 atmosférico. Isso fez com que o planeta resfriasse.

Dessa forma, cientistas afirmam que cultivar mais Azolla pode capturar mais carbono e, se ela for adicionada aos campos como fertilizante, parte desse carbono será sequestrado no solo.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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