Ciência

Baratas se espalharam pelo mundo mais rápido do que humanos

Estudo usou genética para mapear o caminho percorrido quando baratas alemãs se espalharam; pesquisa evidencia alta adaptabilidade do inseto
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Pequenas, com até 1,5 centímetros, elas se alimentam de restos de amido, açúcar e gordura e, felizmente, não têm capacidade de voar. Conhecidas popularmente como baratas alemãs, as Blattella germanicas não têm nada da Alemanha, segundo novo estudo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Elas, provavelmente, saíram do Sul da Ásia e, em um período de apenas dois mil anos, conseguiram ocupar diversos continentes do planeta.

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Hoje, são consideradas baratas domésticas e comumente aparecem nos cantos das casas, apavorando os moradores. Apesar de sua afinidade com os habitats humanos, elas demonstraram uma proeza maior que os homens, que levaram muito mais tempo para se adaptar e espalhar pela Terra.

Em geral, o Homo sapiens surgiu na África entre 300 mil e 200 mil anos atrás. Mas só chegou à Oceania e à América há cerca de de 50 mil anos. Isso, claro, por suas características evolutivas muito mais complexas que as baratas.

Mas, ainda assim, os dados mostram como esses insetos têm uma alta capacidade adaptativa, muito creditada ao seu ciclo reprodutivo curto (de cerca de 60 dias) e o seu oportunismo. 

O caminho das baratas

Para o mapeamento, pesquisadores analisaram genomas de 281 baratas alemãs coletadas de 17 países e seis continentes. Então, utilizaram as características semelhantes e diferentes entre os genes para calcular quando e onde cada uma das diferentes populações podem ter se estabelecido.

De acordo com o estudo, a Blattella germanica provavelmente se originou da barata asiática Blattella asahinai, que ainda é encontrada no Sul da Ásia. Elas se separaram há cerca de 2.100 anos. Depois disso, há indícios de que a barata alemã rumou para o Oriente Médio a 1.200 anos atrás. 

Para os pesquisadores, isso aconteceu em meio ao tráfego comercial e militar dos governos islâmicos de Umayyad e Abbasid, uma vez que os insetos costumam se esconder em pacotes de alimentos, como nas cestas de pão carregadas pelos soldados.

Então, há apenas 390 anos, os cientistas acreditam que a B. germanica pegou carona no colonialismo europeu e suas empresas de comércio internacional, como as Companhias Holandesa e Britânica das Índias Orientais.

Mais uma vez, durante o tráfego comercial, elas percorreram grandes distâncias e chegaram a novos continentes, incluindo a Europa. Lá, em 1776, o biólogo sueco Carl Linnaeus descreveu o inseto e deu seu nome científico oficial. Como o título leva o termo “germânica”, a espécie ficou conhecida como sendo alemã.

“Elas não se originaram lá, mas foram domesticadas lá e então começaram a se espalhar pelo mundo”, explicou à revista Nature o coautor do novo estudo, Qian Tang. Ele é biólogo na Universidade Nacional de Cingapura.

Assim, da Europa, a barata se espalhou para outras áreas do planeta, onde vive até hoje. Em geral, isso só foi possível graças à sua alta capacidade de adaptação – e seu oportunismo de aproveitar caronas nas invenções de transporte dos humanos.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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