A Binance, a maior exchange de criptomoedas do mundo, perdeu mais de R$ 570 milhões depois de um ataque hacker na última sexta-feira (7). A empresa continua com parte das transações suspensas desde então.
Em comunicado, a exchange disse que a invasão ocorreu no BSC Token Hub, a ponte de cadeia cruzada entre duas blockchains, a BNB Beacon Chain (BEP2) e BNB Smart Chain (BSC). Esses são os pontos mais vulneráveis no espaço das criptomoedas, uma vez que é ali que os usuários transferem ativos digitais de uma blockchain para outra.
Na invasão, o hacker criou 2 milhões de BNB, a moeda da Binance — o valor equivale a US$ 586 milhões. Isso foi possível porque um bug no contrato inteligente da plataforma permitiu que o invasor forjasse transações e transferisse fundos para a sua carteira.
Contratos inteligentes são partes de código no blockchain que permitem a execução automática de contratos sem a intervenção humana.
Apesar de ter criado 2 milhões de BNB, o hacker só conseguiu retirar da plataforma uma parte desse valor, estimado em US$ 110 milhões. Outros US$ 7 milhões foram congelados por especialistas de segurança.
O blockchain só não entrou em colapso completo porque as equipes trabalharam para conter o problema quase que imediatamente. Na prática, o sistema de troca de criptomoedas foi desligado e os validadores – pessoas que validam as transações de ativos digitais – trabalharam juntos para impedir a saída de mais moedas.
No processo de tentar impedir o vazamento de fundos, a Binance interrompeu a cadeia BSC, incluindo transações e depósitos, e o BNB perdeu 5% do valor. “Graças à assistência de todos os especialistas em segurança e validadores, a grande maioria dos fundos permanece sob controle”, diz a nota oficial da companhia.
Crime isolado (por enquanto)
Um levantamento da revista Forbesapontou que o ataque foi isolado: um hacker oportunista que aproveitou uma vulnerabilidade no sistema da Binance.
Ainda assim, causou estragos: no domingo (9), a BNB – quinto maior valor de criptomoeda do mercado – caiu para o preço de US$ 278,14, uma queda de 46,3% em 2022.
Quem investe em criptomoedas deve ficar atento: os espaços de finanças descentralizadas dependem do controle de códigos e mecanismos que nem sempre são 100% seguros. Se um hacker fez isso agora, nada impede que outros tentem o mesmo no futuro.
Em agosto, uma invasão no serviço Nomad, que permite aos usuários enviar tokens criptográficos para diferentes blockchains, levou ao prejuízo de US$ 200 milhões. Outro serviço de transferência, o Harmonu, perdeu quase US$ 100 milhões em um hack em junho.
Esses episódios impulsionam a incerteza nas transações criptográficas – especialmente para investidores. “Existem muitas barreiras quando se trata da adoção em massa de criptomoedas, e isso certamente trará muitas dúvidas sobre a moeda digital”, diz o levantamento da Forbes.
No ano passado, a Binance apoiou a regulação para os mercados de criptomoedas. À época, a empresa concordou que as plataformas têm a obrigação de proteger os usuários e implementar formas de prevenir crimes financeiros.
Agora, a exchange disse que vai realizar uma votação para determinar os próximos passos depois da invasão. Entre as possibilidades estão congelar os fundos roubados e oferecer uma recompensa pela captura dos hackers envolvidos no furto.
Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps
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