Brasil perderá certificado de país livre do sarampo após registrar caso endêmico da doença
O Brasil não é mais um país livre do sarampo. O País comunicou um caso endêmico da doença no Pará à Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS).
O certificado tinha sido obtido em 2016, após um ano sem casos de sarampo, o que indicava a interrupção da circulação endêmica do vírus. De lá para cá, porém, a doença voltou a aparecer. Em 2018, foram 10.326 casos. Em 2019, 48 casos já foram confirmados, sendo 20 importados e 28 endêmicos.
O nível de vacinação contra o sarampo também tem caído nos últimos anos. De acordo com a Agência Brasil, em 2018, 49% dos municípios brasileiros não atingiram a meta de imunização, que é de 95%. Dados de 2017 também apontavam que a vacinação estava em seu menor índice em 16 anos.
A agência de notícias também lista uma série de medidas anunciadas pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Entre elas, estão a criação de uma secretaria especial para monitorar os índices de imunização, a veiculação de uma campanha sobre vacinação nos estados do Amazonas, Pará e Roraima e o envio ao Congresso de projetos para exigir o certificado de vacinação (em caráter não impeditivo) para ingresso na escola e no serviço militar.
Você deve estar pensando que isso tem a ver com os movimentos anti-vacinação que tem se proliferado de uns anos para cá. De fato, esse é um problema bem sério, que levou o número de casos de sarampo a crescer enormemente na Europa nos últimos anos. O próprio Ministério da Saúde criou um canal de comunicação via WhatsApp para checar notícias falsas sobre o assunto. O Facebook também pretende combater esse tipo de desinformação.
No entanto, esse não é o único motivo da queda dos índices de vacinação. Uma matéria de 2018 da revista Pesquisa Fapesp, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, aponta que nove fatores interligados podem estar relacionados a essa diminuição, sendo que o Ministério da Saúde aposta em cinco deles como os principais:
O ministério aposta mais em cinco razões: a percepção enganosa dos pais de que não é preciso mais vacinar porque as doenças desapareceram; o desconhecimento de quais são os imunizantes que integram o calendário nacional de vacinação, todos de aplicação obrigatória; o medo de que as vacinas causem reações prejudiciais ao organismo; o receio de que o número elevado de imunizantes sobrecarregue o sistema imunológico; e a falta de tempo das pessoas para ir aos postos de saúde, que funcionam das 8h às 17h só nos dias úteis. Esses motivos são os mais mencionados nos monitoramentos feitos em municípios brasileiros em seguida às campanhas nacionais – no estado de São Paulo foram visitados 58 mil domicílios após a campanha de 2017.
Como se pode ver, só dois dos cinco fatores elencados pelo Ministério parecem estar ligados às notícias falsas propagadas por movimentos anti-vacinação; outros parecem mera falta de informação. A matéria da Pesquisa Fapesp comenta que alguns especialistas acreditam até mesmo que o sucesso do programa de imunização brasileiro nas últimas décadas tenha gerado a percepção errônea de que doenças foram erradicadas e de que não há mais necessidade de vacinas.
O sarampo, como nota a Agência Brasil, é uma doença que pode gerar sérias complicações:
A doença provoca infecções respiratórias, otites, diarreia e doenças neurológicas. Algumas das sequelas são redução da capacidade mental, cegueira, surdez e retardo do crescimento. Nos casos mais graves, o sarampo pode levar à morte.
O governo iniciará um plano com duração de um ano para retomar o título de país livre do sarampo. Torcemos que dê certo.