Ciência

Brasileiros com genes de neandertal são mais sensíveis à dor, diz estudo

Três variantes de um gene neandertal que atuam em um neurônio sensorial aumentam a sensibilidade a picadas na pele
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Pessoas que carregam três variantes genéticas herdadas dos neandertais são mais sensíveis a alguns tipos de dor. A descoberta foi feita por um estudo liderado pela University College London, no Reino Unido, e publicado na revista Communications Biology.

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Os resultados são as evidências mais recentes de como o cruzamento com genes de neandertal, no passado, influenciou a genética dos humanos modernos.

Entenda o contexto

Desde quando o primeiro genoma neandertal foi decodificado, há 15 anos, diversos estudos buscam compreender o que os humanos herdaram deles. Parte deles seguiu o caminho à procura da resposta para a sensibilidade à dor.

“Os genes são apenas um dos muitos fatores, incluindo o ambiente, a experiência anterior e fatores psicológicos, que influenciam a dor”, afirmou Pierre Faux, autor do estudo.

Em geral, alguns neurônios sensoriais detectam sinais de tecido danificado. O gene SCN9A, dos neandertais, regula a liberação de sódio em níveis elevados justamente nestes neurônios.

Esse processo de bombear sódio para fora da célula acontece ao mesmo tempo em que a membrana plasmática do neurônio transfere potássio para dentro, causando o impulso nervoso.

Neste caso, os genes de neandertal agem nos neurônios sensoriais que identificam células com danos.

Considerando essa informação, pesquisas anteriores identificaram três variações nesse gene, conhecidas como M932L, V991L e D1908G. Nestes estudos, já estava claro que pessoas que carregam essas variantes hoje em dia têm uma maior sensibilidade à dor.

Contudo, esta pesquisa não identificou quais os reflexos sensoriais afetados. Agora, o novo estudo encontrou essa resposta.

A nova pesquisa

Para isso, pesquisadores mediram os limites iniciais de dor de quase duas mil pessoas. A ideia era compreender qual o ponto que algo começava a causar dor no indivíduo, frente a diversos estímulos, como calor, pressão e picadas na pele.

Além disso, eles também analisaram a presença das variantes do SCN9A nos participantes. Os pesquisadores descobriram que a D1908G estava presente em cerca de 20% dos cromossomos dentro dessa população.

Destes cromossomos, aproximadamente 30% também carregavam as outras duas variantes, M932L e V991L.

Assim, associando as características genéticas e as respostas aos testes de dor, os autores do estudo concluíram que as três variantes estavam relacionadas a um limiar de dor mais baixo em resposta a picadas na pele. O mesmo não aconteceu em resposta ao calor ou à pressão. 

Por fim, a pesquisa também identificou que pessoas que carregam as três variantes têm maior sensibilidade à dor do que aquelas que carregam apenas uma.

A herança neandertal nas Américas

Usando dados genéticos de mais de cinco mil pessoas do Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru, os autores descobriram que as três variantes de neandertal são mais comuns em populações com maior ascendência americana.

Eles especulam que isso pode ser o resultado do acaso e de gargalos populacionais que ocorreram durante a ocupação inicial das Américas. Ainda assim, os cientistas alegam que precisam de mais pesquisas para entender por que isso acontece.

E, embora a dor aguda possa moderar o comportamento e prevenir ferimentos adicionais, eles querem entender se essas variantes genéticas específicas foram vantajosas evolutivamente.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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