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Cactos nascendo nos Alpes sem neve dizem muito sobre mudanças climáticas

Plantas são naturais da América do Norte e foram importadas à região em 1800. Mas sua presença nunca havia sido tão marcante

Cactos nascendo nos Alpes sem neve dizem muito sobre mudanças climáticas

Imagem: Romain Boisset/Twitter/Reprodução

Um tipo inesperado de planta está ganhando espaço nos Alpes suíços: o cacto. Cientistas já classificam a aparição de cactos nascendo nos Alpes como um alerta para as mudanças climáticas

A variedade pertence a ambientes secos e quentes e não combina muito com a neve e baixas temperaturas comuns na cordilheira. O que pode ser interpretado como um sinal de que o frio já não é tão intenso. 

Segundo as autoridades suíças, a variedade de cacto que surgiu por lá é do gênero Opuncia, mais conhecida como pera espinhosa ou cacto de pera. A planta está se proliferando com rapidez em reservas naturais na região de Valais, e já representa uma ameaça à biodiversidade nativa. 

“Esta planta invasora e não nativa não é bem-vinda no perímetro de pradarias e pastagens secas de importância nacional”, diz um comunicado do município de Fully, do final de 2022. À época, o poder público local anunciou uma campanha de retirada desses cactos. 

Em Sion, capital de Valais, estimativas apontam que essas plantas já representam entre 23% a 30% da cobertura vegetal baixa. Também há registro em regiões vizinhas, como Ticino e Grisões (Suíça) e nos vales de Aosta e Valtellina (Itália). 

O problema para as plantas nativas é que, quando esses cactos competem pelo mesmo espaço, nada mais cresce ao redor. 

Um relatório preliminar aponta que apenas quatro das nove espécies do gênero Opuncia que estão em Valais representam ameaça. O maior risco é para as áreas com solos ácidos ou neutros, que representam um terço das encostas ao sul do vale. 

Plantas resistentes 

Tais cactos apareceram nos Alpes suíços pela primeira vez no final do século 18, trazidos da América do Norte. Desde então, se adaptaram para sobreviver aos climas mais frios e, hoje, suportam temperaturas de até -15ºC. 

“Mas eles querem estar em um lugar seco e não gostam de cobertura de neve”, disse Peter Oliver Baumgartner, professor que desenvolve o relatório preliminar sobre as plantas, ao jornal britânico The Guardian

Por isso, as autoridades da Suíça acreditam que a presença de temperaturas mais altas nos Alpes estão facilitando períodos de vegetação mais longos. Além disso, a diminuição da neve pode ser o que faltava para criar condições ideais para a propagação dessas plantas. 

Além disso, a resistência das Opuncias tende a dificultar as tentativas de retirá-las da região. A variedade se reproduz com facilidade e volta a crescer mesmo depois de arrancada. “Podemos restringi-los”, afirmou Baumgartner. “Mas não acho que podemos nos livrar deles”. 

Menos neve 

Além dos cactos, um estudo de janeiro da Universidade de Padova, na Itália, apontou que a neve cobre os Alpes por quase um mês a menos que as médias históricas.  Segundo a pesquisa, trata-se de uma situação sem precedentes nos últimos seis séculos. 

Outro relatório, do MeteoSwiss, mostrou que o número de dias de neve em locais abaixo de 800 metros de altitude na Suíça caiu pela metade desde 1970. 

Faz sentido. As temperaturas na Suíça estão subindo duas vezes mais rápido que a média global. Por lá, os termômetros já marcam 2,4ºC acima das médias de 1871 a 1900. 

As curvas da Suíça são quase tão íngremes quanto as do Ártico. No pólo norte, as temperaturas estão aumentando três vezes mais rápido que no resto do planeta. Entre 1971 e 2019, a temperatura média anual do Ártico subiu 3,1ºC, em comparação com 1ºC para a Terra como um todo. 

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