Apesar do consenso cultural sobre o que são as cores, nem todos as enxergamos da mesma forma. E existem motivos para isso, que podem ser explicados pela formação ocular, gênero e até fatores culturais e sociais.
Estudos da neurocientista Jenny Bosten, da Universidade de Sussex, na Inglaterra, apontam que as diferenças começam nas diversas combinações de cones oculares, os receptores da luz nos olhos.
Ao todo, os seres humanos têm três tipos de cone. O mais comum é que a variação aconteça nos cones L e M, que detectam comprimentos de onda longos e médios.
Todos temos opsinas fotossensíveis – ou seja, moléculas que mudam de forma quando a luz é recebida e, assim, determinam a sensibilidade com que enxergamos as cores.
Os genes que codificam cada opsina têm sete variantes genéticas que podem ter diferentes sequências de DNA. É possível que essas variantes tenham combinações bem diversas, o que faz com que um tipo de cone seja diferente dos outros ou nem exista, em alguns casos.
Isso leva à alteração na recepção das cores – como acontece com as pessoas daltônicas, por exemplo. Nesses casos, as pessoas não conseguem distinguir tonalidades como vermelho e verde porque os cones L e/ou M não funcionam como esperado – ou, talvez, sequer estão lá.
Mas também há casos em que a pessoa não chega a ser daltônica, mas tem uma discriminação de cores reduzida. Neste caso, chama-se tricromacia anômala.
“Em casos particulares, como os cones são sensíveis a diferentes comprimentos de onda, essas pessoas podem realmente discriminar certas cores que os tricromatas normais não conseguem”, explicou Bosten em entrevista à revista Knowable. O fenômeno é chamado de metamerismo do observador.
Supervisão, gênero e diferenças biológicas
Há, ainda, casos de tetracromacia – ou seja, quando uma pessoa com dois cromossomos X carrega instruções para um cone alterado e um regular. Isso possibilita o desenvolvimento de quatro tipos de cones.
Na teoria, esse cone extra seria sinônimo de uma nova dimensão de cores, como ver tons que tricromatas normais não conseguiriam ver ou discriminar. Mas não há certeza ou estudos que comprovem que isso de fato acontece.
O que se sabe é que mais de 50% das mulheres têm quatro tipos de cone. Mas o mais comum é que dois deles tenham diferenças sutis, de modo que não dá para aferir que tenham uma visão tetracromática.
Também existem questões pontuais, como o envelhecimento. Estudos já comprovaram que o cristalino (a “lente” dos olhos) amarela com a idade, especialmente depois dos 40 anos. Isso reduz a luz azul que chega à retina, o que pode causar uma leve diferença na forma como vemos as cores.
O que também pode mudar a tonalidade das cores é o pigmento macular, que absorve comprimentos de onda curtos e azuis da luz. Como depende da alimentação, a espessura é diferente para cada pessoa. Quanto mais vegetais (luteína e zeaxantina) você come, mais espesso é o pigmento.
A cor da íris também pode ter relação com a discriminação das cores. “Pessoas de olhos azuis parecem se sair um pouco melhor em testes de discriminação de cores do que pessoas de olhos castanhos”, afirmou Bosten.
Fatores sociais
Se vivêssemos na floresta, nossa percepção das cores também seria diferente? Segundo a neurocientista, pode ser que sim. “A existência de uma palavra separada para verde e azul parece depender, em parte, da proximidade de uma cultura com grandes massas de água, por exemplo”, afirmou.
Um estudo realizado em York, na Inglaterra, apontou para uma percepção sazonal do amarelo. “Em York é bastante cinza e sombrio no inverno, e agradável e verde no verão”, disse Bosten. “Descobrimos que o comprimento de onda que as pessoas percebiam como amarelo puro muda com a estação”.
Quem vive no Círculo Polar Ártico desde que nasceu também pode ver as cores diferente. “Ter a ver com a cor da luz à qual você está exposto durante o seu desenvolvimento visual”, pontuou a neurocientista.