CEO do Netflix veio ao Brasil anunciar a nova série nacional – e falar sobre muitas outras coisas

Reed Hastings revela a série de comédia "Samantha!", próxima produção brasileira, e fala de realidade virtual, banda larga e Donald Trump

Reed Hastings esteve pela primeira vez no Brasil em 1996, um ano antes de, ao lado de Marc Randolph, fundar o Netflix. Nesta terça-feira (7), o agora CEO da empresa retornou ao país que, duas décadas depois, ocupa um espaço importante nos planos de seu negócio bilionário. E, como passo seguinte do fortalecimento da marca entre os brasileiros, anunciou a segunda grande série brasileira: Samantha!.

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Após o relativo sucesso de 3%, Samantha! é a nova produção nacional da Netflix. A série será uma comédia, estrelando uma atriz-mirim (ainda não revelada) que, aos 20 anos, já viveu dias melhores. Ela se casa com uma estrela do futebol que passou dez anos preso e acabou de deixar a cadeia. A descrição inicial parece apelar para alguns estereótipos difíceis de se imaginar como exatamente engraçados, mas Hastings garante que “a tensão na vida dos personagens é lidada com muita comicidade”.

“Acho que esse será o hype do programa, algo que não apenas todos no Brasil irão amar, mas que espalha a cultura brasileira ao redor do mundo, e estamos muito animados de trazer isso ao longo deste próximo ano”, disse o CEO do serviço de streaming.

Apesar de não trazer traços fundamentalmente brasileiros, 3% abriu caminho para grandes produções brasileiras no Netflix ao, na visão de Hastings, tornar-se popular também na Europa e nos Estados Unidos por seu tema “fundalmentalmente humano da desigualdade, da competição, de diferentes personalidades trabalhando juntas”.

O CEO garantiu que a empresa irá produzir cada vez mais conteúdo no Brasil, mas se esquivou ao ser perguntado sobre mais detalhes da futura série baseada na Operação Lava-Jato, limitando-se a dizer que, conhecendo o trabalho de José Padilha, deverá ser controversa, mesmo contando uma história “sem escolher lados”.

Além de detalhes sobre a atuação do Netflix no Brasil, Reed Hastings comentou vários outros tópicos, como realidade virtual e sua introdução no entretenimento, a luta pelo fim de limitações na banda larga, a importância de se criar conteúdos originais para competir com outras formas de entretenimento e até mesmo o assunto do momento para qualquer norte-americano: a administração Trump.

Realidade virtual

Hastings reconhece que a realidade virtual encontrou nos videogames uma plataforma estável na qual se instalar e tomar conta do mainstream, cravando seu sucesso pelo uso da interatividade e por seu caráter de extensão natural dos jogos. Do ponto de vista da produção audiovisual, ele já acha mais difícil de prever. Porém, aponta que, caso tenha sucesso, não vem para tomar o lugar de formas mais tradicionais de se assistir a séries e filmes.

“Ela não precisa derrotar a televisão. Só precisa ser um ótimo entretenimento, em que parte de seu tempo é gasto com realidade virtual. Irá melhorar ao longo do tempo, mas não acho que irá substituir filmes e TVs”, afirmou.

Ele reconhece, entretanto, que essa tecnologia é algo que o Netflix acompanha de perto, apesar de não ser um alvo para o curto prazo. “É uma nova fronteira emocionante dentro do que está acontecendo em realidade virtual, mas, por enquanto, ainda estamos focados em melhorar nossos filmes e séries, nas telas maiores (TVs) e menores (smartphones e tablets)”, revelou, lembrando em seguida que, neste momento, no entanto, já é possível encontrar o aplicativo do Netflix em aparelhos de realidade virtual, como o Google Daydream.

Limites de dados na internet

Hastings brinca que, em todos os cantos do mundo, as pessoas estão insatisfeitas com a velocidade de sua internet, mas lembra que isso tem gradativamente melhorado, com as médias tendo subido em relação a cinco anos atrás, por exemplo. Mas o que reconhece como um verdadeiro problema é a limitação de dados imposta pelas prestadoras de serviço. Porém, o CEO do Netflix acredita que a força dos usuários, quando unidos, é capaz de derrubar isso, lembrando exemplos práticos em que eles “tiveram sucesso em ir expandindo mais e mais o limite, até que os limites desaparecessem”.

Ele espera que o mesmo aconteça de vez também no Brasil, onde o debate sobre o possível fim da internet ilimitada foi reacendido após declaração do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, de que o Governo autorizaria a imposição de limites de dados para assinantes de banda larga – o que foi rapidamente desmentido pela Anatel.

Conteúdo original e a competição pela atenção

Hastings não gosta de pensar na concorrência, e justamente pelo fato de que há muita, difundida nos mais diferentes formatos. Para ele, por exemplo, o Netflix compete com várias coisas no momento de lazer das pessoas. “Se vocês pensarem no último mês, vocês que têm Netflix, sobre alguma noite em que não assistiram ao Netflix, a pergunta é: então o que vocês fizeram? Alguns de vocês assistiram à Globo, alguns viram esportes, outros jogaram Playstation, talvez alguns de vocês beberam demais.”

Porém, pensando especificamente na produção de conteúdo, o CEO identifica um movimento de multiplicação das vozes e, consequentemente, de maior disputa pela atenção do espectador. “Está cada vez mais fácil filmar um programa de TV, a distribuição está ficando mais fácil. Você pode criar um app ou subir no YouTube”, analisa. Portanto, afirma, seu trabalho consiste em “fazer o melhor que podemos para que a experiência seja fácil, conveniente e que também entretenha”. Algo para o qual o Netflix pode contar com seu gigante banco de dados.

Vale do Silício contra Trump

Segundo Hastings, o Netflix se orgulha de ser uma das mais de 100 empresas a assinar um documento entregue à corte americana de apelação à ordem executiva de Donald Trump, que bania a entrada nos Estados Unidos de imigrantes de sete países de maioria muçulmana (Apple, Twitter, Facebook e Google foram outras signatárias).

O CEO afirma que a decisão do presidente norte-americano não muda a forma como a empresa produz e compartilha seu conteúdo ao redor do mundo, mas que, pelo aspecto global da plataforma – e de várias outras companhias do Vale do Silício – e por uma questão moral, se torna uma questão que lhes é cara.

“Muitas empresas do Vale do Silício, incluindo a Netflix, têm funcionários em todo o mundo. Temos iranianos, iraquianos e outros que trabalham no Netflix e nos ajudam a construir um grande serviço global. E então, por uma questão moral, não acreditamos que países e seus cidadãos, individualmente, devam ser banidos dos Estados Unidos, que são um símbolo de abertura e integração. Então continuaremos combatendo isso.”

Imagem do topo: Netflix/Divulgação

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