China eleva ciência e tecnologia para lista de prioridades; veja o que significa
A conferência anual do Partido Comunista da China, que terminou na última segunda-feira (13), colocou a ciência e tecnologia na lista de prioridades do governo chinês para os próximos anos. O plano é dar ênfase para setores como os de IA (inteligência artificial) e semicondutores.
Nas mudanças anunciadas, Pequim prevê a criação de um órgão de alto nível que vai delegar tarefas para o Ministério de Ciência e Tecnologia. Ainda não se sabe quem integrará o comitê, mas pesquisadores esperam que funcionários importantes — e até o próprio presidente Xi Jinping — participem das decisões.
Esse grupo deve ter o status do ministério. Hoje, o órgão aloca orçamentos para agricultura, ecologia, proteção ambiental e saúde pública. Com a mudança, o mais provável é que essas funções sejam encaminhadas para outras pastas, disse Cong Cao, pesquisador da Universidade de Nottingham em Ningbo, na China, à revista Nature.
Sem tantas divisões, o ministério vai poder focar sua atenção exclusivamente nos setores de ciência e tecnologia, o que abre caminho para novos investimentos e mais atenção à área.
É um novo caminho para a China. Em outubro de 2022, Xi fez uma declaração robusta de apoio à ciência. Li Qiang, o novo primeiro-ministro da China, também destacou a importância da inovação tecnológica e da transição para energia verde.
Mais financiamento
Pequim também vai destinar mais recursos para Ciência e Tecnologia. Os investimentos do governo em pesquisa e desenvolvimento devem chegar a 328 bilhões de yuans em 2023. O valor, que equivale a mais de R$ 250 bilhões no câmbio atual, representa um aumento de 2% na comparação com 2022.
De modo geral, os gastos da China com a pasta saltaram de 2,1% para mais de 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) nos últimos cinco anos. O atual ministro, Wang Zhigang, disse que o investimento em pesquisa básica vai crescer.
Especialistas dizem que no pano de fundo estão as tensões com os EUA. O país impôs restrições à venda de chips semicondutores fabricados internamente e por seus aliados para a China. Assim, Pequim também deve focar em áreas que promovam sua autossuficiência, como big data, armazenamento de energia, biotecnologia e transição para energia limpa.
Mesmo sem considerarmos as disputas com os Estados Unidos, o interesse da China em investir em ciência e tecnologia jamais será um mau negócio. O país já é a segunda maior economia do mundo e pode exportar suas descobertas para o resto do planeta, como já faz em outros setores.
O Brasil também deve se beneficiar: o presidente Lula vai se encontrar com Xi Jinping em 28 de março, na capital chinesa, onde as discussões prometem ser frutíferas. Os dois países são parceiros antigos nas questões comerciais e também diplomáticas, como integrantes do BRICS e do G-20.