EUA começaram a investir na fabricação de chips. E o que nós temos a ver com isso?

Joe Biden assinou lei para fornecer US$ 52 bilhões em incentivo à instalação de fábricas de chips semicondutores nos EUA nos próximos anos. Entenda o que está por trás do movimento
EUA começaram a investir na fabricação de chips. E o que nós temos a ver com isso?
Imagem: Vishnu Mohanan/Unsplash/Reprodução

Na última terça-feira (9) o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou uma lei para fornecer US$ 52 bilhões em subsídios à indústria de chips semicondutores no país. O objetivo  é estimular a criação de grandes fábricas de chips nos EUA e, com isso, reduzir a dependência da Ásia — em especial, a China. 

Os recursos, que também vão para a pesquisa de computação quântica e inteligência artificial, são uma resposta à escassez global de microchips – uma realidade consolidada durante a pandemia, quando subiu a demanda e faltaram fabricantes dos componentes essenciais a veículos e eletrônicos. 

Esse dinheiro deve levar grandes fábricas de microchips para o território norte-americano, como as estrangeiras TSMC (Companhia de Manufatura de Semicondutores de Taiwan, na sigla em inglês), que representa mais da metade do mercado global, e GlobalFoundries, por exemplo. Outras empresas nacionais, como a Intel e Micron, também devem se beneficiar nos próximos anos. 

O movimento de Biden tem potencial para transformar, pelo menos economicamente, a vida do consumidor de eletrônicos no Ocidente. A questão é: de que maneira? É o que vamos entender daqui para frente.

O que muda para os EUA 

A crise de microchips no mundo e as disputas comerciais e tecnológicas com a China praticamente forçaram Washington a investir no setor. E bota investimento nisso: em termos ajustados à inflação, o pacote excede o financiamento do Projeto Apollo, programa que levou o homem à Lua na década de 1960. 

A fabricação de semicondutores é subsidiada por governos asiáticos há anos, o que os ajudou a dominar a maior parte da produção nas últimas décadas. Em 1990, por exemplo, os EUA fabricaram 37% dos semicondutores no mundo. Em 2020, o número ficou em 12%, segundo relatório da Associação da Indústria de Semicondutores

É claro que os recursos do governo norte-americano beneficiarão o país. De um lado, diminui a dependência da Ásia e possíveis complicações com a China, que têm forte influência – especialmente econômica – entre países como Coreia, Cingapura e Japão. 

A chegada de novas fábricas ao país deve impulsionar a criação de novos postos de trabalho. Só a empresa Micron deve criar 5 mil novas vagas ao subir de 2% para 10% na fabricação global de chips. 

O mesmo acontece com a Intel, que abrirá novas fábricas no Arizona, Ohio e Novo México. A TSMC, de Taiwan, também deve entrar nos EUA, no estado de Phoenix. Em resumo, a demanda de profissionais para a área sobe para 30 mil a mais, como estimou um analista do Centro de Segurança e Tecnologia Emergente da Universidade de Georgetown ao Washington Post

Mas, mais que isso, a missão de Biden é clara: fortalecer a própria indústria. A escassez de chips já forçou montadoras de automóveis a parar de produzir mais de 100 mil veículos nos EUA. 

Além disso, o país não fica para trás no aumento dos preços de eletrônicos. A própria Apple deve aumentar o preço do iPhone 14 por causa da crise. É um verdadeiro efeito em cadeia. 

O que muda para o Brasil  

A falta de chips não preocupa só aos EUA. Na quinta (11) o ministro das Comunicações brasileiro, Fábio Faria, anunciou que fez um memorando de entendimento com o governo sul-coreano para avaliar a possibilidade de construir uma fábrica de semicondutores no território brasileiro. A implantação seria de uma fábrica da Samsung, segundo o Valor Econômico

O Brasil depende quase que exclusivamente da produção externa de chips. Em junho de 2021, o governo federal optou por fechar a única fábrica de semicondutores do hemisfério sul, localizada em Porto Alegre. Segundo informações do site Metrópoles, o motivo dado foi que o empreendimento estatal era muito custoso aos cofres públicos. 

Além de Washington, a UE (União Europeia) também assinou um tratado para incentivar a fabricação de microchips em seu território. Agora, o mais provável é que, com o aumento da fabricação doméstica dos EUA, tanto o Brasil quanto outros países passam a comprar também do país norte-americano.

Isso reduziria os preços de veículos e eletrônicos? Pode ser que sim, mas ainda é cedo para afirmar. Tudo vai depender de quão rápido será o retorno das novas fábricas e quão aquecido, ou não, estará o mercado de semicondutores no mundo. 

É hora de otimismo?

Especialistas alertam que não se constrói uma fábrica de chips da noite para o dia. Os empreendimentos devem, sim, ajudar a fabricação dos EUA, mas ainda estão longe de construir a rica rede de microchips que trabalha a todo gás na Ásia. 

Alguns críticos duvidam que o impacto da lei de chips tenha alcance similar, como disseram ao The Economist. Há motivos para que as fábricas de semicondutores tenham saído dos EUA nos últimos anos: custos trabalhistas mais altos beneficiam as partes mais sofisticadas da cadeia de produção, como pesquisa, software e design.

“A legislação vai melhorar a posição a longo prazo dos EUA em torno da produção de chips mais novos e complexos”, disse Paul Romano, diretor de operações da Fusion Worldwide, distribuidora global de chips, ao site CNET. “Mas provavelmente não fará muito para aumentar a oferta de componentes de energia mais antiga”. São esses componentes que continuam em falta – e têm alta demanda – na produção de carros e eletrônicos. 

Até lá, os preços de veículos, eletrodomésticos e eletrônicos devem continuar nas alturas. Por quanto tempo? Ninguém sabe dizer ao certo, mas as expectativas estão longe de serem positivas.

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Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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