Ciência

100 dias após implante, Neuralink assume que chip cerebral apresentou defeitos

Elon Musk comemorou sucesso do experimento em post, mas comunicado da Neuralink comenta falha nas primeiras semanas de uso do chip cerebral
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Na última quarta-feira (8), Elon Musk comemorou em sua conta no X, antigo Twitter, o aniversário de 100 dias desde o primeiro implante em humano do chip cerebral da sua empresa, a Neuralink. 

Na postagem, o bilionário compartilhou a publicação da conta oficial da corporação, que inclui um link para um resumo do progresso do experimento.

No documento, a empresa conta que o chip cerebral se comportou de maneira inesperada nas semanas logo após o implante.

“Nas semanas seguintes à cirurgia, vários fios se retraíram do cérebro, resultando em uma diminuição líquida no número de eletrodos eficazes. Isso levou a uma redução no BPS”, escreveu a Neuralink, em comunicado.

BPS é a sigla para o termo bits por segundo, que se refere a uma medida utilizada para quantificar a velocidade de transmissão de dados em sistemas de comunicação. 

Dessa forma, o defeito no chip da Neuralink parece ter afetado os sinais que o cérebro de Noland Arbaugh, quem recebeu o primeiro implante, enviava com os comandos para a interface do usuário.

Em resposta a essa mudança, modificamos o algoritmo de gravação para ser mais sensível aos sinais da população neural, melhoramos as técnicas para traduzir esses sinais em movimentos do cursor e aprimoramos a interface do usuário. Esses refinamentos produziram uma melhoria rápida e sustentada no BPS, que agora substituiu o desempenho inicial da Noland.

Neuralink, em comunicado

Com o problema aparentemente superado, Musk comemora o 100 dia após o implante do chip cerebral como um sucesso. No comunicado da Neuralink, o participante do estudo afirma que conquistou autonomia para atividades do dia-a-dia que, por ser tetraplégico, exigiam que ele tivesse um acompanhante.

O que pode ter acontecido

De acordo com o que especialistas em implantes cerebrais disseram à Bloomberg, o chip da Neuralink fica dentro dos ossos do crânio, não na superfície do tecido cerebral. Contudo, o cérebro se move dentro do espaço intracraniano, segundo apontou Eric Leuthardt, neurocirurgião da Escola de Medicina da Universidade de Washington.

“Apenas balançar a cabeça ou movê-la abruptamente pode causar perturbações de vários milímetros”, explicou à Bloomberg. Dessa forma, os eletrodos podem ter se movimentado, retraindo os fios que se conectam a eles. 

Por isso, experimentos do tipo costumam instalar os implantes no topo do tecido cerebral. Leuthardt acredita que os testes realizados em animais não entregaram a falha antes porque, como o cérebro dos bichos é menor que o humano, os eletrodos não se deslocam tanto.

Próximos passos

De acordo com o comunicado da Neuralink, sua equipe está trabalhando em melhorias no sistema. Além disso, também pretende ampliar o uso dos chips cerebrais para o mundo físico, em conjunto com braços robóticos e cadeiras de roda, por exemplo.

Por enquanto, a empresa busca aprovação da FDA (Food and Drug Administration, que equivale a Anvisa nos EUA) para implantar mais chips cerebrais em humanos.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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