Chuva e calor é a combinação mais favorável à disseminação da dengue
Segundo dados do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia), as temperaturas médias anuais do Brasil têm aumentado anualmente desde a década de 1990. O cenário é propício para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus da dengue.
De modo geral, o período reprodutivo do mosquito fica mais curto durante o calor, fazendo com que ele se reproduza mais rápido. Por isso, o verão costuma ter um aumento de casos de dengue. Mas e quando as temperaturas sobem até fora das estações quentes?
Evolução da dengue aliada às temperaturas
A análise do INMET também destaca que os anos de 2015, 2016 e 2019 foram os mais quentes desde 1961, apresentando aumento de temperatura acima de 0,7ºC. As consequências desse aumento no termômetro já são notáveis.
Por exemplo, no sul do país, a incidência de dengue não era expressiva – até 2022. De acordo com dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, a região alcançou o segundo lugar em taxas de incidência de dengue no ano passado.
Além do sul, o centro-oeste também teve um aumento de casos de dengue, com 2.086,9 casos a cada 100 mil habitantes. Isso fez com que ficasse à frente de regiões como norte e nordeste, mais conhecidas pelo calor constante e, por isso, líderes no ranking de casos de dengue.
Isso indica o avanço da doença em um cenário de aumento nas temperaturas médias e de incidência de chuvas acima da normal.
O caos climático de 2023
Em 2023, o Brasil tem enfrentando graves consequências do fenômeno climático El Niño. Ele aquece as águas do oceano Pacífico e, com isso, altera a circulação de ventos e as temperaturas.
A região sul tem enfrentado um volume de chuvas muito acima do normal, e o país todo atravessa sucessivas ondas de calor.
Além disso, o aquecimento do Brasil não é um fenômeno isolado. De modo geral, a 6ª edição do Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) aponta para um aumento futuro na temperatura da superfície global.
A projeção é que, com a continuidade das emissões de gases do efeito estufa, a elevação anual de temperatura fique entre 1°C a 4°C.
Não à toa, São Paulo teve o inverno mais quente desde 1961. Ao mesmo tempo, a capital paulista viu um aumento significativo nos casos de dengue, especialmente entre março, abril e maio deste ano.
Isso também se refletiu no número de mortes pela doença — a cidade de São Paulo já registra o maior percentual dos últimos oito anos, com uma taxa de letalidade que passou de 0,02% em 2015 para 0,08% em 2023.
Conforme indicado pelo painel de monitoramento de arboviroses do Ministério da Saúde, Santa Catarina também teve uma mudança de panorama. Mesmo sendo uma região conhecida por suas temperaturas mais frias, ele está entre os três estados com maior incidência de casos de dengue do ano, ao lado de Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
De acordo com Érique Miranda, gestor médico de Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan, esse aumento de casos em regiões pouco propícias para o desenvolvimento do Aedes aegypti sugere que a dengue tornou-se endêmica em todo o país. Por isso, ele alerta que o controle da proliferação do mosquito é crucial.