Por que cientistas ensinaram uma foca a cantar a música de Star Wars

Ouvir focas-cinzentas recitarem sons de vogais e cantar as melodias de Star Wars e “Brilha, Brilha, Estrelinha” é um excelente entretenimento, mas, para os pesquisadores que treinaram esses mamíferos aquáticos, isso é um trabalho científico sério. Animais fazem todos os tipos de sons, e alguns são bons em imitar os sons de outros animais. O […]
Foca-cinzenta dentro da água, com a cabeça para fora.
Uma foca-cinzenta. Imagem: Universidade de St. Andrews

Ouvir focas-cinzentas recitarem sons de vogais e cantar as melodias de Star Wars e “Brilha, Brilha, Estrelinha” é um excelente entretenimento, mas, para os pesquisadores que treinaram esses mamíferos aquáticos, isso é um trabalho científico sério.

Animais fazem todos os tipos de sons, e alguns são bons em imitar os sons de outros animais. O mockingbird, por exemplo, imita os sons produzidos por outras espécies de pássaros e, às vezes, até sons produzidos pela atividade humana, como alarmes de carros e sirenes de polícia. Alguns papagaios e corvos são realmente bons em imitar a fala humana.

A maioria dos animais, entretanto, não dominam essa habilidade. Isso é uma pena, porque impede que os cientistas estudem o aprendizado vocal, uma característica essencial para a aquisição de linguagem em mamíferos não humanos.

Como mostra uma nova pesquisa publicada na revista Current Biology, as focas-cinzentas parecem ser uma exceção. Em uma série de testes, elas demonstraram uma notável capacidade de copiar melodias simples e formantes humanos, sugerindo que são aprendizes bastante talentosos.

Formantes, neste caso, significam faixas de frequência variáveis ​​produzidas pelo trato vocal que nos permitem fazer sons de vogais. As focas, na verdade, são muito boas em produzir formantes, e também são muito inteligentes, tornando-as objetos de teste ideais para o novo estudo, que foi liderado por Amanda Stansbury e Vincent Janik, do Instituto Oceânico Escocês (SOI, na sigla em inglês) da Universidade de St. Andrews, na Escócia.

“As estruturas anatômicas usadas para produzir vocalizações, como cordas vocais, laringe e cavidades bucais, são as mesmas para focas e humanos”, disse Janik ao Gizmodo. “Outros aprendizes vocais usam diferentes estruturas. As aves, por exemplo, não têm laringe, mas uma estrutura diferente, chamada siringe, para produzir sons. Os golfinhos usam os músculos em suas passagens aéreas nasais para produzir sons aprendidos.”

O novo estudo mostra que as focas-cinzentas podem imitar alguns sons da fala humana, além de gerar ruídos fora do alcance vocal normal, fazendo isso de forma semelhante aos humanos.

Três jovens focas-cinzentas foram utilizadas no estudo: Gandalf, um macho, e Zola e Janice, duas fêmeas. As focas nasceram na Ilha de May e foram levadas para o abrigo de mamíferos marinhos na Universidade de St. Andrews quando eram muito jovens. Seu treinamento começou logo em seguida e durou 12 meses. As três foram autorizadas a conviver com outros jovens em três recintos e foram devolvidas à natureza um ano depois de terem sido capturadas.

“Nós primeiramente os ensinamos a produzir seus próprios sons de foca, em resposta a nossos sinais de treinamento”, disse Janik. “Nós, então, mudamos esses sons no computador para criar diferentes tons e melodias. Uma vez que eles conseguiram copiar essas músicas, nós apresentamos as vogais faladas por um humano e as transferimos para uma faixa de frequência mais fácil para os animais.”

Zola demonstrou proficiência em copiar melodias, cantando até dez notas de músicas como “Brilha, Brilha, Estrelinha” e a melodia de Star Wars. Janice e Gandolf foram capazes de replicar combinações de sons de vogais humanas. Ao longo de centenas de tentativas, as focas conseguiram copiar e expressar todas as combinações vogais possíveis de A, E, I, O, U.

“As habilidades de aprendizado vocal das focas não haviam sido exploradas antes”, disse Janik. “Uma das próximas perguntas é como elas usam essa habilidade em sua própria comunicação. Essa habilidade sugere um sistema de comunicação mais complexo do que o que tinha sido presumido anteriormente.”

Janik disse que essas descobertas podem ser usadas na conservação marinha e em estudos comparativos sobre o desenvolvimento vocal.

“Em primeiro lugar, saber como as focas usam sons é importante para avaliar como elas são afetados pelo ruído criado por atividades humanas, como o transporte marítimo ou a construção marítima”, explicou ele. “Isso, por sua vez, nos ajudará a gerenciar as populações selvagens com mais cuidado. Em segundo lugar, estudar como a aprendizagem vocal funciona em focas e como ela pode ser naturalmente prejudicada em alguns indivíduos pode ajudar a entender o desenvolvimento vocal e suas limitações em outros mamíferos aprendizes que usam estruturas semelhantes, como os humanos. ”

Além disso, essas descobertas também podem oferecer importantes percepções evolutivas sobre o surgimento da fala e da linguagem.

Focas cantando Star Wars é muito legal, mas os pesquisadores perderam uma oportunidade bastante óbvia de ter uma foca cantando Seal. Quem sabe da próxima vez.

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