A acne é a condição de pele mais comum nos Estados Unidos – ela afeta cerca de 50 milhões de rostos por ano, de acordo com a Academia Americana de Dermatologia. Mas também é uma das mais complicadas, pois suas causas e tratamentos eficazes parecem diferir de pessoa para pessoa.
Qualquer estudante do ensino médio com conexão à internet sabe que pápulas, pústulas e cravos começam a se formar quando as células mortas da pele e os óleos entopem os minúsculos folículos capilares que cobrem o rosto e a parte superior do corpo. Isso cria o espaço perfeito para um micróbio comum, Cutibacterium acnes, se instalar. Mas apenas alguns poros entupidos tornam-se espinhas vermelhas e inchadas. Isso acontece quando nossas próprias células imunológicas se precipitam, desencadeando uma inflamação. Mesmo para dermatologistas, os meandros dessa resposta imunológica ainda não estão claros ou sob controle.
Tradicionalmente, os médicos pensam na acne como uma condição crônica da pele, como a psoríase, com sua erupção cutânea escamosa ou rosácea, que causa vermelhidão e inchaços no rosto. Mas, em um novo artigo publicado na última quinta-feira (26) na revista Trends in Immunology, uma equipe de cientistas húngaros argumenta que a acne é mais parecida com aparelhos ortodônticos ou convites para festas de formatura: um “estado inflamatório transitório natural”, ostensivamente importante para o desenvolvimento dos adolescentes. Usando pesquisas existentes em modelos animais, experimentos em amostras de pele humana e dados genéticos, os pesquisadores concluem que tudo se resume a alterações relacionadas à idade no microbioma da pele.
A maioria das pessoas passa a infância com a pele impecável, mas algo muda com a puberdade. Especificamente, as glândulas sebáceas. Esses sacos microscópicos, presos aos folículos capilares, bombeiam óleo para manter a pele lubrificada. Embora eles forneçam uma aparência brilhante por toda a nossa vida útil, as glândulas são particularmente agressivas na puberdade, quando nossos sistemas são inundados com hormônios androgênicos, que estimulam a produção de sebo entre outras funções transformadoras.
Os autores argumentam que essa produção de óleo na adolescência fornece aos microorganismos lipofílicos (literalmente amantes da gordura), como C. acnes, o combustível necessário para eles dominarem seu ambiente. Mas não é apenas qualquer C. acnes que prolifera: evidências genômicas recentes indicam que a bactéria existe em muitas variedades diferentes, algumas das quais são benéficas e outras com maior probabilidade de desencadear inflamação. Ao sentir que o microbioma está fora de controle, o sistema imunológico então corre para a batalha, mexendo com a pele no processo.
“Na verdade, é uma proposta muito interessante sobre o motivo de termos acne”, disse Suzan Obagi, professora de dermatologia do Centro Médico da Universidade de Pittsburgh e diretora do Centro de Saúde da Pele e Cirurgia Plástica da UPMC, ao Gizmodo. “Uma das coisas que estamos percebendo cada vez mais é a importância desse equilíbrio entre os seres humanos e o microbioma”.
Esses anos de pele oleosa na adolescência não duram para sempre, é claro. A produção de sebo diminui naturalmente à medida que o período da puberdade passa. Os pesquisadores pensam que isso explica por que 85% dos adolescentes sofrem de acne, mas 50% desses casos são resolvidos espontaneamente. Embora possa ser uma condição física e psicologicamente traumática, o artigo especula que a acne pode ser uma experiência de aprendizado para o sistema imunológico, o que leva à pele cristalina que esperamos da vida adulta. Exceto que… não é sempre assim que funciona.
“Não concordo com o elemento transitório”, disse Adam Friedman, dermatologista da Faculdade de Medicina da Universidade George Washington e que não estava envolvido no novo artigo, ao Gizmodo. “Como um dermatologista praticante, o paciente número um que eu recebo são adultos, não adolescentes”.
Enquanto algumas pessoas podem superar a acne aparentemente da noite para o dia, muitos pacientes precisam de um regime de cuidados com a pele ou tratamentos prescritos para manter as espinhas afastadas entre os 20 e 30 anos, e, em alguns casos, até os 40 e 50 anos. “Acho que muitas pessoas subestimam a acne”, disse Friedman. “Ela pode ter implicações duradouras”, incluindo cicatrizes e descoloração.
Outros dermatologistas se mostraram céticos em relação à ênfase do artigo nas glândulas sebáceas, talvez excluindo outras vias importantes. Whitney High, dermatologista da Universidade do Colorado e que não era afiliado à pesquisa, disse ao Gizmodo que o artigo ignora o papel crucial dos hormônios, que podem agravar ou aliviar alternadamente a acne, principalmente em mulheres. E Friedman observou que pesquisas recentes mostrando que C. acnes podem produzir ácidos graxos de cadeia curta que interrompem a regulação imune em células sebáceas estavam ausentes no estudo. (Andrea Szegedi, a autora correspondente do artigo, se recusou a comentar esta matéria.)
“Este é um tópico muito quente”, disse Friedman. Tradicionalmente, os médicos prescrevem aos pacientes com acne retinóides, ácido salicílico e antibióticos sistêmicos como a tetraciclina.
Nos últimos anos, no entanto, os dermatologistas perceberam que seu campo é um grande colaborador da resistência aos antibióticos, em parte porque as pessoas com acne costumam tomar antibióticos por meses ou até anos. Mas o crescente reconhecimento de que a acne é causada, pelo menos em parte, por um microbioma rompido (e não, como diz a mitologia popular, por alimentos gordurosos ou falta de higiene) significa que alguns médicos estão mudando de rumo.
Em vez de destruir bactérias ruins, disse Friedman, eles querem restaurar o que é bom. Ele descreveu abordagens modernas projetadas para combater a acne, ajudando o microbioma da pele a manter o equilíbrio, como probióticos, feitos a partir de microorganismos vivos que incentivam o crescimento de bactérias e fungos benéficos e prebióticos, derivados de compostos de alimentos que servem a um objetivo semelhante. Essas soluções “ainda são prematuras”, disse Friedman, mas a mensagem é clara: você pode ensinar novos truques à pele antiga.
Mesmo com os tratamentos para acne se tornando mais sofisticados, os cientistas ainda não conseguem entendê-la completamente. E para grande desgosto de quem sofre com espinhas por todo o corpo, não parece que uma cura infalível está prestes a ser descoberta.