Ciência

Cientistas descobriram como “desligar” o medo no cérebro

Novo estudo publicado na revista Science mapeia mecanismo do medo no cérebro; cientistas apontam dois métodos de controle
Imagem: Anderson Rian/ Unsplash/ Reprodução

Em uma tentativa de entender melhor o medo e como ele funciona no organismo humano, cientistas mapearam as mudanças cerebrais que o sentimento causa e ainda descobriu como pará-lo. 

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“O benefício de entender esses processos com esse nível de detalhe molecular – o que está acontecendo e onde está acontecendo – permite uma intervenção específica ao mecanismo que impulsiona os distúrbios relacionados”, afirmou Nicholas Spitzer, um dos autores do estudo.

Por enquanto, o estudo foi realizado apenas em ratos de laboratório e os resultados iniciais foram publicados na revista Science.

Entenda a pesquisa

Primeiramente, os pesquisadores modificaram geneticamente os ratos de laboratório. O objetivo era que os animais expressassem uma proteína fluorescente no núcleo dos neurônios, o que facilitaria o rastreamento de mudanças no cérebro conforme o experimento ocorresse.

Então, os ratos receberam choques elétricos com duas intensidades diferentes. A cada tipo de descarga elétrica, eles estavam em lugares específicos. Depois de duas semanas, quando regressaram ao mesmo ambiente, os animais ficaram tremendo de medo.

Por fim, os pesquisadores examinaram uma região do cérebro dos mamíferos chamada rafe dorsal. Essa parte cerebral é responsável pela modulação do humor e da ansiedade, além de fornecer boa quantidade da serotonina do organismo e atuar na aprendizagem do medo.

Dessa forma, os cientistas descobriram que o choque elétrico que causou susto e, posteriormente, medo, mudava um interruptor nos neurônios. Em vez de ativar o mecanismo de neurotransmissão do glutamato, que excita as células nervosas, ele alterava o sistema para o GABA, que inibe a atividade neuronal.

“Desligando” o botão do medo

Então, os pesquisadores analisaram estudos anteriores sobre cérebros de pessoas que sofreram de TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). Assim, encontraram a mesma mudança de neurotransmissão de glutamato para GABA. 

Isso ofereceu um ponto de partida para descobrir como suprimir a resposta ao medo. E eles encontraram duas maneiras de fazer isso.

A primeira consiste em injetar um vírus que suprime o gene responsável por produzir GABA. Dessa forma, quando treinados com os choques elétricos, os ratos não desenvolveram mais sinais de medo.

Contudo, os cientistas apontam que esse método funcionaria de forma preventiva. Isso significa que teria que ser usado quando um indivíduo soubesse que algo ia causar um estresse e, assim, gerar medo.

Ainda, os pesquisadores encontraram um método para mitigar os efeitos do medo depois do fato. Eles trataram os ratos com um antidepressivo comum chamado fluoxetina. Isso aconteceu imediatamente após o animal receber um susto e, então, a mudança de neurotransmissor não aconteceu, o que também evitou o sentimento de medo.

O avanço na ciência

Os pesquisadores afirmam que mais estudos em humanos precisam ser realizados e que isso não representa a cura para o medo. No entanto, é um começo promissor em um caminho que poderia levar a tratamentos eficazes para transtornos de ansiedade e estresse.

Nesses casos, a resposta ao medo pode ser tornar desproporcional à situação. Por isso, as condições prejudicam a saúde mental e a qualidade de vida das pessoas. Dessa forma, explorar novas possibilidades de tratamento permite que isso se torne algo menos grave.

“Agora que temos um controle sobre o núcleo do mecanismo pelo qual o medo induzido pelo estresse acontece e o circuito que implementa esse medo, as intervenções podem ser direcionadas e específicas,” conclui Spitzer.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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