No passado, caso os pesquisadores quisessem estudar doenças neuropsiquiátricas, teriam que limitar suas análises aos cérebros de animais ou então avaliar o órgão humano após a morte de pessoas.
Os exames de imagem ajudaram a melhorar esse cenário, mas ainda não são suficientes. Cientistas da Mayo Clinic, nos EUA, pretendem ir ainda mais longe, estudando minicérebros desenvolvidos a partir de células humanas em laboratório.
A equipe utilizou minicérebros criados a partir de células do sangue de pacientes diagnosticados com transtorno por uso de opioides, que foram colocadas em uma placa de Petri e “reprogramadas” para voltar a um estado semelhante ao de uma célula-tronco.
Neste primeiro momento, a equipe pretende usar os modelos 3D para estudar a dependência de opioides – medicamentos com efeitos analgésicos e sedativos que apresentam risco quando usados de forma indiscriminada.
No estudo, os cientistas utilizaram dois medicamentos: a oxicodona, amplamente prescrita para tratar ou evitar a dor, e a buprenorfina, comumente indicada para aliviar os sintomas da abstinência. Em resumo, a primeira pode causar o vício e a segunda é usada para tratar o problema.
O foco dos pesquisadores era entender como as substâncias e os medicamentos usados para tratar o transtorno do uso de opioides podem alterar a função das células cerebrais em nível celular.
Segundo Ming-Fen Ho, bióloga e autora do estudo, os minicérebros oferecem pontos fortes distintos. Eles permitem aos cientistas “trabalhar com células que retêm o histórico genético único dos pacientes, tem a capacidade de recapitular o tecido cerebral humano e também a capacidade de ser manipulado experimentalmente livremente em um ambiente de laboratório, ao contrário do tecido cerebral pós-morte.”
Ao final, os pesquisadores identificaram uma relação entre dependência de opioides e inflamação, que ocorre quando o sistema imunológico no cérebro está hiperativo. Tal análise deve ajudar os cientistas a encontrar novos medicamentos para tratar o problema. O estudo completo foi publicado na revista Molecular Psychiatry.
“Seremos capazes de aplicar os insights obtidos com esta pesquisa para entender quem corre o risco de desenvolver um vício em opioides ao considerar as opções de controle da dor como parte de um procedimento médico complexo e prescrever uma intervenção diferente para evitar um evento de dependência não intencional”, completou Ming-Fen Ho.