Ciência

Cientistas do Brasil e dos EUA discutem como aumentar o engajamento de estudantes com a matemática

Em seminário on-line promovido por FAPESP e National Science Foundation, dos Estados Unidos, pesquisadores apresentaram iniciativas voltadas a promover a equidade nas áreas de STEM – acrônimo em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática
Imagem: reprodução

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP

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Nos Estados Unidos, um projeto apoiado pela National Science Foundation (NSF) busca estimular a troca entre pais e professores de crianças em idade pré-escolar para o desenvolvimento de atividades cotidianas relacionadas à construção do pensamento algébrico – capacidade de generalizar, representar, justificar e raciocinar com estruturas e relações matemáticas abstratas. Realizado com famílias latinas, o projeto é bilíngue e as atividades podem ser feitas tanto em casa quanto nas creches.

Outra iniciativa norte-americana que envolve mais de 5 mil estudantes negros e latinos do ensino fundamental tenta reverter o baixo engajamento dos jovens com a matemática.

E, no Brasil, uma pesquisa conduzida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com apoio da FAPESP avalia o impacto de clubes de matemática para a formação do pensamento algébrico em crianças de escolas primárias.

Estas foram algumas das iniciativas apresentadas no primeiro webinar “NSF-FAPESP Education in STEM”, realizado na última quinta-feira (06/06). O encontro teve o objetivo de fomentar a colaboração entre pesquisadores dos Estados Unidos e do Estado de São Paulo e apresentar projetos bem-sucedidos que, embora abordem aspectos distintos do ensino de matemática, têm como foco a equidade nas áreas de STEM – acrônimo em inglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática – e promover melhorias na prática de ensino.

“Temos uma longa colaboração com a NSF e nosso objetivo é fomentar novas parcerias entre os pesquisadores dos Estados Unidos e de São Paulo a partir do compartilhamento de ideias, melhores práticas e resultados de pesquisas envolvidas no aprimoramento da educação de STEM”, disse Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico da FAPESP.

Sabe-se que o ensino de matemática é a porta de entrada para o direcionamento de alunos em profissões das áreas de STEM. No entanto, embora o aprendizado dessas disciplinas tenha implicações econômicas, educacionais, sociais e de carreira, há uma discrepância quanto ao acesso de minorias.

“Num mundo com tantos avanços científicos e tecnológicos, sabemos que um dos grandes desafios de hoje é promover a equidade nas áreas de STEM. Só com o maior envolvimento nessas áreas é possível avançar em ciência, tecnologia e inovação. O problema de falta de equidade não é apenas um problema dos Estados Unidos, ele é global. Por isso a importância de trocar experiências com colegas brasileiros”, disse James L. Moore III, diretor-assistente da Diretoria de STEM da NSF.

Além do engajamento de alunos na matemática, também foram apresentados projetos que visam ampliar o ensino dos docentes da área. “No Brasil, professores das fases iniciais quase não têm treinamento em matemática. Somado a isso, existe uma lacuna muito grande no ensino de matemática no país. Um estudo do Sistema de Avaliação da Educação Básica [Saeb] mostrou que, nos 12 anos de estudos desde o fundamental ao fim do ensino médio, os jovens tinham um atraso de 5,1 anos no ensino de matemática. Com a pandemia, esse índice piorou ainda mais, passando para 6,5 anos, ou seja, o atraso é mais da metade do tempo que eles ficam na escola”, disse Marcelo Firer, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que apresentou um projeto sobre treinamento de professores.

O pesquisador afirmou ainda que essa lacuna na matemática já começa nas fases iniciais. “É claro que existe um público mais atingido, como é o de pessoas negras, indígenas, crianças de baixa renda e meninas, mas a exclusão de matemática no Brasil é geral”, afirmou.

Os baixos salários dos professores também foram um ponto considerado como limitador para a maior acessibilidade de jovens nas disciplinas de STEM nos dois países. “São pessoas que geralmente têm dois empregos, estão sempre correndo. Isso dificulta a execução de nossas pesquisas e até o acesso aos treinamentos que oferecemos para os professores”, disse Vanessa Dias Moretti, pesquisadora da Unifesp.

“Nos Estados Unidos também temos esse problema. São profissionais com o tempo muito limitado. Até quando pagamos para participarem das pesquisas, tem sido complicado conseguir uma adesão”, concordou Samantha Holquist, da Child Trends Inc., que realiza o projeto de pesquisa com os 5 mil jovens nos Estados Unidos.

O seminário on-line contou com a participação de Alessandro Jacques Ribeiro, da Universidade Federal do ABC (UFABC), Diane (Ta-yang) Hsieh, da Child Trends Inc, Marcelo Firer, da Unicamp, Reginald Hopkins, da Virginia State University, Samantha Holquist, da Child Trends Inc, Smirla Ramos Montañez, da TERC Inc, e Vanessa Dias Moretti, da Unifesp.

A mediação foi realizada por Toya Frank, program diretor da Division of Research on Learning in Formal and Informal Settings (EDU/DRL) da NSF, e por Ana Maria Almeida, da Coordenação do Programa Equidade, Diversidade e Inclusão (EDI) da FAPESP.

O evento pode ser assistido na íntegra em: www.youtube.com/live/HGmA1yOlzg8.

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