Ciência

Cientistas encontram lago secreto com fósseis vivos na Argentina

Nas lagoas, os pesquisadores identificaram estruturas rochosas conhecidas como estromatólitos, fósseis que marcam a história da Terra. Confira detalhes!
Imagem: Brian Hynek/ Universidade de Colorado/ Reprodução

Nas planícies de sal em Puna de Atacama, do lado argentino, pesquisadores encontraram um ecossistema de lagoas provavelmente desconhecido pela ciência. Por lá, o ambiente é desértico e as chuvas são raras, mas ainda assim há cerca de 12 lagoas.

Foram Brian Hynek e Maria Farías que encontraram o local. Segundo eles, por lá há estruturas semelhantes a estromatólitos. 

Eles são fósseis que existiram durante um período na história da Terra chamado de Arqueano inicial, quando o oxigênio era quase inexistente na atmosfera. O geólogo e a microbiologista apresentaram suas descobertas na reunião anual da União Geofísica Americana, em São Francisco.

Como foi a descoberta

Era uma viagem como qualquer outra. Farías levou seu parceiro de pesquisa Hynek para um de seus locais de estudo, no noroeste da Argentina. Apenas no último dia, depois de examinar algumas imagens de satélite do deserto próximo onde estavam, o pesquisador identificou algo desconhecido: uma rede de lagoas.

Então, os dois cientistas foram visitar o local. “É incrível que ainda seja possível encontrar coisas não documentadas como essa em nosso planeta”, disse Hynek em entrevista à Universidade de Colorado. Para ele, esse foi o maior momento Eureka de sua vida.

Eles encontraram 12 lagoas, que se estendem por aproximadamente 100 quilômetros quadrados entre as montanhas desérticas. Sob suas águas cristalinas, Hynek conseguiu ver um tipo de fóssil chamado estromatólito.

O que são os estromatólitos

De modo geral, os estromatólitos são estruturas rochosas que se formam pela ação de colônias de cianobactérias. Elas são microrganismos que fazem fotossíntese e, dessa forma, produzem oxigênio. 

Conforme se acumulam em regiões com águas rasas, elas se desenvolvem em camadas. Assim, criam os estromatólitos, um amontado de sedimentos milimétricos que, quando juntos, parecem rochas arredondadas.

De modo geral, os estromatólitos podem estar vivos ou fossilizados – quando não colonizam mais. Os fósseis dos primeiros estromatólitos conhecidos têm cerca de 3,5 bilhões de anos, o que liga essas estruturas ao planeta em seus primórdios, antes de plantas, dinossauros e seres humanos.

Nessa época, período chamado de Arqueano inicial, o oxigênio era quase inexistente na atmosfera da Terra. Então, como as cianobactérias produzem o elemento, os estromatólitos ajudaram a aumentar o volume de oxigênio para cerca de 20%.

Em geral, os estromatólitos vivos são raros de se achar. Mas parecem estar presentes na Argentina, onde Farías e Hynek encontraram as lagoas.

Nesse caso, os estromatólitos eram compostos por camadas de gesso, um mineral comum em muitos fósseis, cianobactérias e um núcleo rosado rico em arqueias, que são organismos unicelulares.

“Achamos que esses montes estão realmente crescendo a partir dos micróbios, o que estava acontecendo nos mais antigos”, disse Hynek.

Contudo, por que os estromatólitos se formaram neste local tão inóspito ainda não está claro. Por enquanto, os pesquisadores suspeitam que a lagoa tenha características similares às condições na Terra antiga, como águas salinas e ácidas. 

Além disso, devido à elevada altitude, estão expostas a níveis severos de radiação solar.

Ameaças

Por enquanto, os pesquisadores ficam no aguardo para retornar à lagoa, onde pretendem confirmar seus resultados iniciais. A ideia é compreender se esses novos estromatólitos estão realmente construindo camadas de rochas atualmente. 

Além disso, os cientistas também querem explorar os motivos pelos quais os micróbios conseguem viver em condições tão adversas.

No entanto, tanto Hynek quanto Farías se preocupam que não tenham tempo suficiente para responder essas dúvidas. Isso porque uma empresa de fora da Argentina já alugou a área para a mineração de lítio, o que poderia destruir o ecossistema em questão de anos.

“Esperamos proteger alguns desses locais, ou pelo menos detalhar o que está lá antes que desapareça ou seja perturbado para sempre”, afirmou Hynek.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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