Ciência

Cientistas encontram micróbios intraterrestres a 1 km de profundidade

Estudo usou amostras de uma mina inativa dos EUA e sequenciou 600 genomas de micróbios da Terra, alguns inéditos para a ciência
Imagem: Wikimedia Commons/ Reprodução

Nas profundezas da Terra, há um vasto mundo de micróbios. De acordo com pesquisadores, de tão variados, eles superam toda a vida existente nos oceanos. Contudo, por viverem abaixo da superfície terrestre, esses micróbios intraterrestres são difíceis de estudar.

“São organismos que muitas vezes não podemos cultivar no laboratório ou estudar em contextos mais tradicionais. Eles são frequentemente chamados de ‘matéria escura microbiana’, porque sabemos tão pouco sobre eles”, explica Magdalena Osburn, professora no Weinberg College of Arts and Sciences da Northwestern, nos EUA.

Agora, Osburn liderou uma nova pesquisa que avançou no estudo desses micróbios, caracterizando quase 600 genomas desses seres — muitos deles, inéditos para a ciência. O estudo foi publicado em uma versão preliminar na revista Environmental Microbiology.

Um portal para a crosta da Terra

Para conseguir acessar as profundezas da Terra, a equipe de Osburn coletou durante dez anos amostras geoquímicas e microbianas na antiga Mina Homestake em Lead, no estado de Dakota do Sul, nos EUA.

O local está desativado e é, agora, uma instalação dedicada à ciência subterrânea. Foi furando rochas da mina que os pesquisadores capturaram fluídos de até 10 mil anos de idade e gases dissolvidos.

No total, oito amostras foram coletadas a até 1,5 quilômetros de profundidade da superfície terrestre.

O que encontraram por lá

Como resultado, os pesquisadores caracterizaram quase 600 genomas de micróbios que pertencem a 50 filos diferentes. Com essas informações, os cientistas puderam identificar que havia dois perfis entre todos esses microrganismos.

O primeiro perfil corresponde aos micróbios minimalistas, que simplificaram suas vidas comendo a mesma coisa todos os dias. Eles exercem uma única função e se juntam a outros micróbios que também têm funções especializadas, de forma que compartilham recursos.

Por exemplo, entre os minimalistas há representantes que não têm genes para fazer seus próprios lipídios, o que torna impossível formar uma célula. Mas, juntos, eles fazem o esquema funcionar.

Já o segundo perfil de micróbios consiste nos maximalistas, que estão prontos para todos os recursos que aparecem.

“Se houver uma oportunidade de gerar alguma energia ou transformar uma biomolécula, ele está preparado. Se os nutrientes são escassos, ele pode simplesmente produzir os seus próprios”, afirma Osburn.

Para além da Terra

De acordo com os pesquisadores, os micróbios encontrados podem fornecer pistas sobre o que poderia potencialmente estar vivendo em outros lugares.

Como eles vivem em recursos encontrados dentro de rochas e água que são fisicamente separados da superfície, podem potencialmente sobreviver enterrados — nas profundezas de Marte ou nos oceanos de luas, por exemplo.

Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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