Cientistas revelam o que é a suposta “sereia” mumificada do Japão
Alvo de curiosidade há décadas, a múmia da “sereia” com corpo de macaco exposta no Templo Enju In, ao sul do Japão, acaba de ter sua composição revelada. A análise partiu de um estudo de um ano da Universidade de Ciências e Artes de Kurashiki, da província japonesa de Okayama.
O artefato de 30 centímetros tem torso de primata e rabo de peixe. Suas mãos parecem ser humanas e o rosto mostra uma posição de ataque com a boca aberta que mostra dentes afiados. A múmia foi encontrada dentro de uma caixa de madeira na costa de Kochi por volta de 1740.
Por anos, cientistas duvidavam que se tratasse de um animal de verdade – e eles estavam certos. Na verdade, a sereia mumificada do Japão não passa de um “brinquedo” bizarro.
Exceto a mandíbula, o objeto não tem esqueleto nem órgãos internos, mas sim uma miscelânea de partes de animais e materiais costurados juntos. A estrutura do macaco é de tecido, algodão e papel, revestido com uma mistura de pó de carvão ou areia com uma pasta indefinida.
Algodão preenche a cabeça, que se mantém firme com um revestimento de gesso. O cabelo parece ser de um animal, enquanto as escamas vêm de dois tipos de peixes: baiacu e corvina.
As unhas dos cinco dedos têm queratina animal, o que abriu a hipótese de que tenha sido feita com algum tipo de chifre. Já a mandíbula era de algum tipo de peixe carnívoro não identificado.
“É feito de papel laminado e pele de baiacu, com algodão e outros recheios e uma substância semelhante a gesso como base, e presume-se que tenha sido feito por volta do final do século XIX”, concluíram os pesquisadores.
Como foi a análise
Para avaliar a composição dos artefatos, a equipe de pesquisadores realizou uma avaliação visual com imagens de raio-X, tomografia computadorizada, microscopia óptica e eletrônica, análise de raios-X fluorescentes, de DNA e datação por radiocarbono.
A análise por radiocarbono mostrou que algumas das escamas são mais antigas que o bilhete deixado na caixa, onde estava escrito que o artefato seria de 1740. O estado dos materiais mostra que, na realidade, a fabricação ocorreu mais de 100 anos depois.
Ainda não se sabe como a macaco-sereia chegou no Templo Enju In. Mesmo assim, é um artefato que remete ao seu tempo. Na mitologia japonesa, misturas de peixes com partes do corpo humano – conhecidos como ningyo – são parte do conhecimento tradicional.
Muitos outros ningyos mumificados já foram encontrados no Japão e estão expostos em museus e templos pelo país. A maioria data de 1603 a 1868. Mas, como ninguém jamais encontrou uma criatura dessas viva, sua origem continuava sendo um grande mistério.
Agora, a múmia da macaco-sereia voltará para o Templo Enjuin, onde continuará em exposição – mas, dessa vez, com a explicação de que é um objeto, e não uma “Frankenstein de verdade”.