Clima: como a produção de chocolate pode ajudar no combate ao aquecimento global
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente (5), é bom lembrar: hoje, a Terra está retendo muito mais calor do que o necessário – e pode esquentar 2,4°C até o final do século. O cenário, previsto pela organização Climate Action Tracker, está entre vários que ultrapassam o limite de 2°C estabelecido pelo Acordo de Paris e preveem um resultado catastrófico para o planeta.
O aumento da temperatura média acontece por causa da intensificação do efeito estufa. Em condições normais, uma camada de gases aprisiona parte da radiação solar que chega à Terra e mantém o planeta quentinho e propício à vida como a conhecemos.
Lance toneladas de CO2 (gás carbônico) na atmosfera e você aumentará a quantidade de calor presa por aqui. É isto que vem acontecendo desde o século 20.
Há algumas maneiras de tentar mitigar o problema e frear as mudanças climáticas. Você pode, por exemplo, investir no reflorestamento. Veja só: a fotossíntese das plantas pega o CO2 que está na atmosfera e transforma este carbono em raízes, galhos e folhas (ele é a matéria-prima de seres vivos como plantas, eu e você). Por isso, diz-se que as florestas “sequestram” toneladas de carbono: elas guardam tal material consigo e impedem que ele se acumule na atmosfera.
Mas você também pode investir em soluções mais inusitadas – relacionadas, por exemplo, à produção de chocolate.
Chocolate e mitigação das mudanças climáticas
Uma das estratégias consideradas mais promissoras para remover carbono da atmosfera é o biochar: um carvão vegetal produzido a partir da pirólise de biomassa, ou seja, da queima de material orgânico em um processo sem oxigênio a temperaturas aproximadas de 600°C. (Note que a palavra “biochar” é a junção de duas em inglês: biomass, “biomassa”, e charcoal, “carvão”.)
Uma das maiores fábricas europeias de biochar, da Circular Carbon, trabalha justamente com chocolate. Mais precisamente, com o que sobra da produção de chocolate de uma fábrica vizinha. A produtora de biochar, na cidade alemã de Hamburgo, recebe cascas de cacau usadas. E transforma este material orgânico aparentemente sem utilidade em um amontoado de pó preto, vendido em grânulos aos agricultores locais.
Se as cascas de cacau fossem descartadas normalmente, o carbono ali contido voltaria para a atmosfera à medida que o cacau se decompõe. Em vez disso, este carvão vegetal –que pode aumentar a absorção de água e nutrientes pelo solo substituindo fertilizantes artificiais– aprisiona o carbono por centenas de anos.
Os resultados do projeto
Estima-se que uma tonelada métrica de biochar pode armazenar de 2,5 a três toneladas de CO2. De acordo com o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) da ONU, em condições ideais o biochar poderia capturar 2,6 bilhões das 40 bilhões de toneladas métricas de CO2 produzidas pela humanidade a cada ano.
O processo de produção do carvão vegetal também produz biogás, que é revendido para a fábrica vizinha – afinal, para garantir que o sistema armazene mais carbono do que produz, é preciso que ele funcione localmente, sem a necessidade de transporte que utilize combustíveis fósseis e lance mais CO2 na atmosfera.
A cada ano, a indústria de Hamburgo produz 3,5 mil toneladas de biochar. E “até 20 megawatts-hora” de gás a partir de 10 mil toneladas de cascas de cacau vindas da produção de chocolate. Peik Stenlund, CEO da Circular Carbon, afirma que a ideia é abrir três novos locais para produzir mais biochar nos próximos meses.