Por 20 anos, o código para o lançamento de mísseis nucleares dos EUA foi 00000000

Hoje eu descobri que durante a fase mais intensa da Guerra Fria, os militares dos Estados Unidos colocaram tanta ênfase em resposta rápida a possíveis ataques feitos no solo americano que, para minimizar qualquer atraso possível no lançamento de mísseis nucleares, por quase duas décadas eles colocaram a senha para lançamento deles em todos os […]

Hoje eu descobri que durante a fase mais intensa da Guerra Fria, os militares dos Estados Unidos colocaram tanta ênfase em resposta rápida a possíveis ataques feitos no solo americano que, para minimizar qualquer atraso possível no lançamento de mísseis nucleares, por quase duas décadas eles colocaram a senha para lançamento deles em todos os silos como sendo oito zeros.

A primeira coisa que precisamos entender é como isso se tornou necessário. Bem, em 1962, John F. Kennedy assinou o Ato de Segurança Nacional do Memorando 160, que supostamente garantia que todas as armas nucleares dos Estados Unidos fossem protegidas por um Permissive Action Link (PAL), basicamente um pequeno dispositivo que garantia que o míssil só poderia ser lançado com o código correto e a autoridade certa.

Essa foi uma preocupação em particular com os mísseis nucleares posicionados em outros países, alguns deles com lideranças instáveis, e que poderiam ser apreendidos e lançados por esses governos. Com o sistema PAL, isso se tornou um problema menor.

Além da apreensão internacional, outro problema era que praticamente qualquer comandante dos EUA poderia lançar as bombas sob seu controle a qualquer momento. Uma pessoa com uma ideia errada em um momento errado poderia iniciar a Terceira Guerra Mundial. E isso era possível de acontecer – comandantes não confiavam em outros comandantes. O General Horace M. Wade disse o seguinte sobre o General Thomas Power:

Eu me preocupava com o General Power. Eu me preocupava que ele pudesse não ser estável. Me preocupava com o fato dele ter tantas armas sob controle e sistemas que, sob certas condições, poderiam iniciar um ataque. Naqueles tempos, antes do controle do PAL, ele tinha poder para fazer muitas coisas, e isso estava em suas mãos, e ele sabia disso.

Para dar uma ideia do quão seguro era o sistema PAL, passar por cima de um foi certa vez descrito como “quase tão complexo como realizar uma tonsilectomia ao entrar no paciente pelo lado errado“. Esse sistema supostamente era à prova de ligação direta, para certificar-se de que apenas pessoas com os códigos certos poderiam ativar as armas nucleares e lançar os mísseis.

No entanto, mesmo que os dispositivos supostamente deveriam ser colocados em todos os mísseis nucleares após a decisão de JFK, os militares continuaram sem se preocupar com a questão. 20 anos após a compra dos PALs para serem colocados em todos os dispositivos nucleares, metade dos mísseis na Europa ainda eram protegidos por travas mecânicas simples. Alguns tinham o novo sistema, mas ele não foi ativado até 1977.

Os que estavam em território americano foram protegidos com os dispositivos. Os presentes no Silo Minuteman foram instalados sob observação de Robert McNamara, secretário de defesa de JKF. No entanto, o Comando Estratégico Aéreo não gostou da presença de McNamara durante a instalação e, assim que ele foi embora, modificou os códigos de lançamento dos mísseis – todos os 50 – para 00000000.

Ah, e caso alguém esquecesse a senha, ela foi escrita em uma lista entregue aos soldados. Como o Doutor Bruce G. Blair, que esteve uma vez no escritório de lançamento do Minuteman, explicou:

Nossa lista de lançamento de fato instruía a equipe a checar duas vezes o painel de bloqueio no nosso bunker de lançamento subterrâneo para garantir que nenhum dígito diferente de zero fosse colocado no painel.

Isso garantia que não seria necessário esperar por uma confirmação presidencial que só desperdiçaria o tempo precioso para bombardear a Rússia. Para ser justo, havia a possibilidade dos centros de comando ou linhas de comunicação serem cortados, então alguns desses mísseis se tornarem não-lançáveis porque ninguém tinha o código era visto como um risco maior pelos militares do que alguns poucos soldados simplesmente decidindo lançá-los por conta própria.

O Dr. Blair, cujo currículo é longo demais para ser escrito aqui, foi um dos que divulgou a informação dos “8 zeros” ao mundo no artigo de 2004 “Mantendo Presidentes na Escuridão Nuclear”. Ele também destacou a desconexão significativa entre os líderes eleitos dos EUA e os militares em relação às armas nucleares durante a Guerra Fria.

O Dr. Blair anteriormente tinha dado dicas disso quando escreveu um artigo em 1977 chamado “A Ameaça Terrorista aos Programas Nucleares Mundiais”. Ele inicialmente tentou falar sobre os sérios problemas de segurança nos silos nucleares com congressistar por volta de 1973. Como foi ignorado, ele decidiu levar ao público neste artigo de 1977 onde descreveu como apenas quatro pessoas poderiam facilmente ativar um lançamento nuclear nos silos onde ele trabalhou. Além disso, entre outras coisas, o sistema PAL tão alardeado por McNamara mal estava em operação e, portanto, os lançamentos poderiam ser feitos por qualquer pessoa sem necessidade de autorização presidencial. Ele também ressaltou que virutalmente qualquer pessoa que pedisse permissão para visitar uma instalação de lançamento poderia ganhar autorização sem nenhuma verificação do seu passado. Então não foi coincidência que todos os sistemas PAL foram ativados e os códigos alterados no mesmo ano da publicação do artigo.

Então, para resumir, por cerca de 20 anos, o Comando Estratégico Aéreo fez de tudo para garantir que o lançamento de um míssil nuclear fosse simples e rápido. Eles tinham seus motivos, como o fato dos soldados dentro dos silos precisarem ser capazes de lançar os mísseis sem precisar se comunicar com ninguém fora deles em caso de um ataque nuclear. Dito isso, as ações violaram as ordens do Presidente dos Estados Unidos durante uma época de extrema tensão nuclear. Além disso, não ativar os escudos e relaxar na segurança fazia que, com um pouco de planejamento, alguém com três amigos poderia começar a Terceira Guerra Mundial.

Nós nem precisamos de filmes ruins com teorias da conspiração fajutas. A história muitas vezes é ainda mais estranha que a ficção.

Bônus

  • Se fossemos capazes de converter perfeitamente matéria em energia, com 1kg de matéria sendo completamente aniquilada, a energia produzida seria próxima a 42.95 megatons de TNT. Então um homem adulto pesando cerca de 90kg tem o potencial de gerar 4.000 megatons de TNT caso sua matéria seja completamente aniquilada.
  • Isso é cerca de 80 vezes mais energia do que foi produzido pela maior bomba nuclear já detonada, a Bomba Tzar, que produziu uma explosão cerca de 1.400 vezes mais poderosa do que as explosões combinadas das bombas lançadas em Hiroshima e Nagasaki.
  • Para ilustrar melhor, 1 megaton de TNT, convertido em kilowatt hora, gera eletricidade o suficiente para alimentar um lar comum dos Estados Unidos por cerca de 100.000 anos. Isso é o suficiente para render energia para os EUA durante pouco mais do que três dias. Então 1kg de matéria sendo completamente aniquilada poderia fornecer energia elétrica para os EUA por cerca de quatro meses. Um homem adulto médio, então, poderia fornecer energia para os EUA por cerca de 30 anos. Solucionamos aqui a crise de energia.
  • Em uma escala completamente absurda, uma explosão supernova gera cerca de 10.000.000.000.000.000.000.000.000.000 megatons de TNT.
  • Este sistema codificado PAL foi proposto antes de JFK assinar a lei. Foi em 1953, e ele foi sugerido para ser colocado nos submarinos Polaris, uma ideia que jamais foi implementada.
  • Hoje em dia esse sistema foi atualizado usando o “Sistema de Gerenciamento de Códigos”, que foi implementado em 2004 para supostamente superar muitos problemas de eficiência de tempo do sistema anterior ao mesmo tempo que manteve a segurança do sistema.

Karl Smallwood escreve para o popular site de fatos interessantes TodayIFoundOut.com. Para assinar a newsletter Daily Knowledge, clique aqui ou curta a página dele no Facebook.

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