Como a geoquímica pode desvendar o sumiço de vôo mais misterioso da aviação

A presença de cracas (um tipo de crustáceos) nos destroços já encontrados permite identificar onde caiu o voo 370 da Malaysia Airlines, segundo pesquisa de um geocientista da Universidade da Flórida do Sul (EUA)
Imagem: Fasyah Halim/ Unsplash/ Reprodução

Você deve se lembrar desta história. Há nove anos, o voo 370 da Malaysia Airlines saiu de Kuala Lumpur rumo a Pequim. No entanto, o avião nunca chegou ao seu destino: no meio do caminho, simplesmente desapareceu do mapa.

Desde então, alguns destroços foram encontrados, mas a parte principal da aeronave permanece desaparecida, juntamente com os passageiros e a tripulação. Mas um geocientista da Universidade da Flórida do Sul (UFS), nos EUA, apontou uma nova maneira de traçar o percurso feito pelo voo e, talvez, encontrá-lo. 

Em um artigo publicado na revista AGU Advances, Gregory Herbert propõe o estudo das camadas das conchas de cracas. Mas apenas as cracas que encontraram os destroços do avião na Ilha da Reunião, na costa da África, um ano após o acidente – não qualquer craca.

As cracas são pequenos crustáceos que aderem a diversas superfícies úmidas. Elas possuem conchas que crescem diariamente — e é esta característica que poderia contribuir para a investigação de Herbert.

A temperatura da água em que o crustáceo estava no momento em que a camada se formou determina a química de cada camada de suas conchas. Por isso, investigar sua composição pode entregar o local exato em que aderiu à superfície dos destroços do avião desaparecido.

Ao longo dos últimos 20 anos, Herbert criou e refinou um método para calcular exatamente isso. E o pesquisador teve a oportunidade de testá-lo nas buscas ao voo 370 da Malaysia Airlines.

Rastreando o percurso do avião pelas águas

Cracas, crustáceos cujas conchas se formam em camadas, diariamente

Cracas, crustáceos cujas conchas se formam em camadas, diariamente (Imagem: May Gauthier/ Unsplash/ Reprodução)

Ele analisou a composição química das conchas de algumas das cracas mais jovens dos destroços. “A colonização do pedaço do avião ocorreu em águas mais quentes, em torno de 27°C, seguida por uma mudança para águas continuamente mais frias, em torno de 23-24°C, durante uma parte significativa da deriva posterior”, escreveu no estudo. 

Em seguida, o pesquisador e a equipe do estudo fizeram uma simulação. Calcularam pontos prováveis no Oceano Índico onde o avião poderia ter caído combinando a análise das temperaturas e a modelagem oceanográfica. 

Nestes pontos, liberaram 50 mil “partículas”. Ao final, apenas uma delas chegou às águas ao redor da Ilha da Reunião, onde os destroços foram encontrados.

Para Herbert, há a possibilidade de encontrar uma localização mais precisa de onde o voo 370 está. Ela consiste em examinar as maiores cracas que estavam sobre os destroços. 

“Eram antigas o suficiente para terem colonizado os destroços muito pouco tempo após o acidente e muito perto da localização real do acidente onde o avião está agora”, disse em entrevista à UFS. Contudo, estas cracas não foram disponibilizadas para pesquisa.

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Bárbara Giovani

Bárbara Giovani

Jornalista de ciência que também ama música e cinema. Já publicou na Agência Bori e participa do podcast Prato de Ciência.

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