Como é morar por mais de um ano no Google
Trabalhar em grandes empresas do Vale do Silício, como o Google, pode ser o sonho de muita gente. Nem todo mundo sabe, entretanto, que o custo de vida na área não é nem perto de barato. “São US$ 2.000 para alugar basicamente um porão no bairro Mission District” em San Francisco, explica à Bloomberg Ben Discoe, o programador que não só trabalhou no Googleplex, como também morou e viveu lá.
Discoe morou no Google por um ano e um mês, de outubro de 2011 a novembro de 2012, logo após se divorciar — ele e a esposa moravam no Havaí, onde esperavam criar filhos e cuidar de uma fazenda. O romance não deu certo e o programador se viu funcionário do Google uma vez que a empresa que ele trabalhava, a 510 Systems, foi comprada pela gigante de buscas.
E foi por escolha própria que ele não quis alugar um apartamento. Mesmo tendo gastos com pensão alimentícia para a esposa, Discoe poderia pagar os absurdos US$ 2.000 dólares se quisesse – afinal, ele recebia um salário anual de US$ 135.000.
Foi graças a uma infância de frequentes mudanças (filho de pais separados, Discoe se mudou diversas vezes para a Califórnia e o Havaí durante a infância) e a educação zen-budista dada por seus pais que Discoe não se tornou uma pessoa materialista – por muito tempo, ele teve apenas um único par de sapatos. Quando ele se tornou funcionário do Google, percebeu que poderia encaixar todos os seus pertences dentro de uma van – uma GMC Vandura branca customizada de 1990 pela qual ele pagou US$ 1.800, para ser mais específico.
Com um colchão, um estrado da Ikea e algumas gavetas que ele mesmo construiu dentro do veículo, Discoe passou a morar no estacionamento do Google.
E como ele fazia para comer e tomar banho? No Googleplex, oras, e tudo de graça. O complexo oferece mais de 25 opções para comer. “Se eu me enjoasse da comida do Google, era só ir até outro restaurante”, explica Discoe. Mas ele tinha uma preferência pelo Café 150, que oferecia alimentos com ingredientes orgânicos. Ele fazia tudo ali: carregava a bateria de seus dispositivos no escritório e tomava banho nas academias. A Bloomberg explica que, além da conta de celular e eventuais valores de transporte público e lavanderia, os gastos de Discoe eram quase nulos.
Entretanto, o programador teve alguns problemas quando o assunto era namoro. “Você menciona a van no terceiro encontro, quando já existe uma relação emocional”, conta. Além disso, a solução foi sempre ir para a casa da garota.
E por que ele passou por isso, mesmo tendo dinheiro para alugar um apartamento? Para se aposentar mais cedo e poder voltar para o Havaí. Discoe é dono de uma fazenda na cidade rural de Ahualoa, onde ele cuida de galinhas e cultiva chá. “Foi tudo para poder comprar um lugar para meus netos”, explica.
Discoe não é primeiro, e dificilmente será o último, a morar nos arredores de grandes complexos tecnológicos do Vale do Silício, mas a estadia dele bateu o recorde de um antigo morador do Google, Matthew Weaver. O também programador morou por 54 semanas em um trailer no estacionamento da empresa. Mas ele tinha um pouco mais de conforto e privacidade, além até mesmo de um jardim feito com gramado artificial e cercas em frente ao trailer e instalados por Weaver, permitindo a ele convidar os amigos para churrascos e drinks semanalmente. Discoe, entretanto, faz pirraça da praticidade de morar em um trailer. “Isso é trapaça”.
Mais comum que morar é passar dias, ou até semanas, dormindo nestas empresas. O próprio Elon Musk, hoje dono da SpaceX, passava algumas noites em um pufe ao lado da mesa de trabalho em uma de suas startups, segundo biografia da Bloomberg Business. Alguns fazem da própria casa o trabalho, como Aaron Levie, diretor executivo da Box. Mas Discoe julga impossível passar muito tempo morando dentro do Google. “Não existe conforto ou privacidade, e o aspirador passa às 2h da manhã”, conta.
Você pode ler a história completa de Discoe aqui: [Bloomberg]
Foto por Robbie Shade/Flickr