Como está a vida na Rússia sem o acesso à internet ocidental

Com sanções do Ocidente e censura local, população da Rússia tem de recorrer a VPNs - e driblar a fiscalização rígida do governo russo para divulgar e receber informações
Como está a vida na Rússia sem o acesso à internet ocidental

“Uma cidade fantasma”. É assim que o jornalista britânico Chris Stokel-Walker definiu a internet na Rússia atualmente.

Desde o início da invasão na Ucrânia, a população civil russa está vivendo uma internet mais silenciosa, depois que empresas e plataformas em todo o mundo começaram a anunciar sanções contra a Rússia. O YouTube, por exemplo, impediu que criadores de conteúdo russos monetizassem canais. Já o Instagram está diminuindo o alcance de postagens.

Só que esse silêncio digital não é gerado apenas pelo ocidente. A própria Rússia está limitando o alcance da internet local, após aprovar uma legislação que criminaliza a divulgação do que eles classificam como “notícias falsas” dentro do país.

Com isso, veículos internacionais (entre eles, BBC e Deutsche Welle) estão sendo banidos em solo russo, e a imprensa da Rússia está sendo silenciada — caso veículos locais não estejam alinhados com o discurso do Kremlin.

Facebook, e Twitter foram banidos no país — e o mesmo deve acontecer com o Instagram nas próximas 48h. Até mesmo plataformas de entretenimento, como o Netflix e o Minecraft; assim como serviços essenciais, como Apple Play e Google Play; não estão ativas em solo russo.

Toda essa situação está gerando um país digitalmente fechado e desconectado do mundo, algo que só era visto em países como China, Coreia do Norte ou Irã.

Usuários da Rússia temem prisão

Nas ruas, os russos não podem se manifestar contra a invasão na Ucrânia, sob o risco de serem presos — assim como ocorreu com mais de 13 mil pessoas até o momento.

O mesmo temor também está rondando as manifestações online. Russos ouvidos pela revista Time afirmaram que eles sabem que não podem ficar em silêncio, mas que eles temem se manifestar publicamente na internet e enfrentar os 15 anos de prisão previstos na lei de censura.

É o caso do tiktoker Niki Proshin, que retirou da plataforma vídeos que mostravam manifestações contra o governo russo, em São Petersburgo. Por mais que ele diga não ter participado dos protestos, documentando o acontecimento de forma imparcial, ele teme a ação das autoridades russas.

A Meta, por exemplo, tomou medidas para ajudar a população da Rússia, tornando os perfis de usuários do Instagram como privados. Já o Twitter, lançou uma versão “anônima” e segura para quem usa o navegador Tor. Além disso, os usuários — dentro e fora da Rússia — estão buscando meios alternativos de burlar a censura de Putin.

Isolamento digital

Alguns russos têm utilizado redes privadas para acessar sites censurados ou para conversar com amigos fora da Rússia. A procura por VPNs, inclusive, aumentou mais de 1000% desde o início da invasão. Porém, teme-se que autoridades da Rússia possam encontrar e utilizar meios avançados para analisar esse tráfego via redes privadas.

Muitos se voltaram para o Clubhouse ou Telegram para divulgar ou se informar sobre o que está acontecendo na Ucrânia, mas não há garantias que eles estão totalmente seguros.

Segundo especialistas, aquele ideal de uma internet democrática está ameaçada.

“A visão de uma internet livre e aberta que percorre todo o mundo realmente não existe mais”, afirmou Brian Fishman, ex-diretor de políticas de contraterrorismo do Facebook, ao New York Times.

Hemerson Brandão

Hemerson Brandão

Hemerson é editor e repórter, escrevendo sobre espaço, tecnologia e, às vezes, sobre outros temas da cultura nerd. Grande entusiasta da astronomia, também é interessado em exploração espacial e fã de Star Trek.

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