Como este “peixe jardineiro” ajuda na saúde de recifes de corais do sul da Bahia
Um estudo feito por pesquisadores de instituições do Brasil e Argentina revelou a importância dos peixes budiões para a saúde dos recifes de corais do nosso país.
Os recifes de corais são um dos ecossistemas mais importantes do mundo e, em contrapartida, são também os mais ameaçados. Para garantir a saúde desses ambientes, é importante que as algas que crescem sobre eles sejam removidas por peixes herbívoros.
O problema é que, no Brasil, a diversidade de peixes herbívoros é menor em comparação com outros recifes. Por conta disso, muitas espécies estão sofrendo com declínios populacionais por conta da sobrepesca. O budião-azul, por exemplo, está desde 2014 na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza).
Como descreveu o estudo, publicado na revista científica Marine Biology, pesquisadores confirmaram que os budiões se alimentam principalmente de pequenas algas filamentosas. Eles analisaram o consumo de algas por cinco espécies de peixes herbívoros em duas áreas (uma protegida e uma desprotegida) no sul da Bahia: o Parque Nacional Marinho de Abrolhos e o Parcel das Paredes.
Existe, aqui, uma relação simbiótica: algas que crescem sobre corais precisam ser removidas por peixes herbívoros, que ganham uma fonte de alimento. Quando essas algas são consumidas pelos peixes, abre-se espaço para que as larvas de coral se estabeleçam e cresçam, sem precisar ficar disputando espaço.
A pesquisa faz parte do Projeto Budiões, patrocinado pela Petrobrás, e contou com cientistas da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), do Instituto Nautilus de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade e do Centro Nacional Patagônico na Argentina.
Enquanto as espécies de peixes cirurgiões, também se alimentam de pequenos camarões e outros crustáceos, os budiões se alimentam quase que exclusivamente de algas, o que os torna indispensáveis para a saúde dos recifes. O budião-batata foi apontado como o mais eficiente na tarefa de “jardinagem”, limpando as algas dos corais com eficiência maior.
Segundo o biólogo Carlos Hackradt, coordenador geral do Projeto Budiões, é importante não apenas garantir a presença desses peixes nos recifes, mas também protegê-los, para que existam indivíduos de diferentes tamanhos.
“Enquanto um budião-azul jovem consegue apenas cortar as partes filamentosas das algas, exemplares adultos vivem raspando e cavando no recife, removendo algas incrustadas em sua totalidade”, explicou o pesquisador.
Além disso, o estudo revelou que, dentro de áreas ambientais protegidas, os budiões consomem uma maior variedade de alimentos do que quando comparado a áreas desprotegidas. Isso sinaliza a importância da proteção para a dieta dessas espécies – e também a necessidade da proteção dos recifes de corais para garantir a conservação da biodiversidade marinha.