Como Nova York pode impedir o colapso dos seus portos
Nova York está sempre à beira de um colapso. A população se preocupa com a próxima grande tempestade. Ou a próxima crise econômica. Ou apenas o próximo tsunami de ratos. Mas no ano passado, a Corporação de Desenvolvimento Econômico de Nova York (NYCEDC, na sigla em inglês) chamou a atenção para uma crise imediata e pouco comentada: a decadência de milhares de estacas perto dos rios da cidade.
Essas estacas são a madeira ou coluna de aço que sustentam os cais da borda da cidade. Elas frequentemente são ancoradas a alguns metros abaixo da linha d’água, e precisam suportar grandes tempestades, o sal do mar e o desgaste do tempo. O problema com as estacas podres é que é assustadoramente caro para repará-las, muito mais caro do que qualquer coisa que esteja acima delas. Ao longo das próximas décadas, a cidade provavelmente vai gastar bilhões de dólares reforçando as margens dos rios. Ou isso, ou então vai deixar tudo cair no mar. É o tipo de problema que não chama a atenção que vai confrontar a cidade mais e mais conforme envelhece.
Em dezembro, a NYCEDC abriu uma audiência pública para formas alternativas de consertar as estacas, pedindo ajuda a engenheiros e designers locais para chegar a métodos mais baratos e mais inteligentes. Semanas depois, o grupo anunciou um vencedor improvável: D-Shape, a famosa empresa de impressão em 3D que vai receber US$ 50.000 para um conceito que vai digitalizar em 3D as velhas estavas e imprimir em 3D reforços de concreto.
Eis como as coisas vão funcionar. Uma equipe de trabalhadores vai usar um scanner 3D para pegar uma leitura precisa de cada estaca. E então, com base nos arquivos, eles vão usar um algoritmo generativo para criar os reforços de estrutura ideais para cada estaca. A equipe da D-Shape vai imprimir cada coluna e vai enviá-lo em um bote inflável, que seria rebocado para o porto e esvaziado lentamente. Isso permitiria que uma equipe de mergulhadores controlem a colocação dos reforços enquanto eles afundam no porto. Ao todo, a equipe estima que pode economizar US$ 2,9 bilhões para a cidade. E se a cidade decidir testar, o projeto poderia ser o primeiro exemplo bem sucedido de impressão 3D em escala de infra-estrutura.
A D-Shape, caso você não conheça, é o projeto de Enrico Dini, um engenheiro italiano que passou a última década construindo uma impressora 3D que pudesse imprimir concreto. Alguns dizem que ele é um revolucionário, outros o consideram um tolo – existe até um documentário sobre ele, chamado O Homem Que Imprime Casas, que o mostra como um cara infeliz que desistiu de toda a vida para se dedicar a uma ideia. Mas ele tem muitos defensores, também. “Pense no que a imprensa fez pela tipografia”, diz JF Brandon, CEO do braço canadense da empresa e seu representante em Nova York. “Isso tem o mesmo potencial para revolucionar a indústria como um todo.”
Brandon está encarregado de levantar capital para a primeira parceria pública da D-Shape (ele espera conseguir instalar até dezembro, mas se recusa a dizer quanto isso vai custar). Parte do seu trabalho é provar o que a D-Shape consegue fazer, com projetos como o reforço das estacas. Ele também visa uma colaboração com a European Space Agency para testar a ideia de impressão 3D para habitats na Lua, e também quer artistas que façam esculturas usando a D-Shape. A ideia, ele explica, é para capturar a imaginação do público e despertar o interesse de empresas que possam se interessar em investir. O reparo das estacas não é tão animador, mas combina com os benefícios da máquina com as coisas boas do concreto pré-moldado (é barato!) e concreto moldado no local (é de alta qualidade!).
A D-Shape em si – e o projeto de reparo das estacas – estão longe de prontos para uso amplo, e é provável que demore muito tempo até componentes de estruturas confiáveis emergirem da máquina. Mas considerando como a prototipagem rápida poderia solucionar problemas de infra-estrutura, o plano está certo. Talvez Dini estivesse apenas um pouco errado: a D-Shape não foi feita para imprimir novas estruturas, mas sim para imprimir melhorias para antigas.
[Imagens via Infoniac; imagem de topo via European Space Agency]