Cientistas podem reescrever a história dos primeiros humanos a partir de… piolhos de múmias. Pois é. Para entender essa história é preciso começar lembrando de um detalhe simples: no passado, não havia remédios para tratar esses parasitas. Então, eles podiam permanecer no couro cabeludo humano por muito tempo – até depois da morte, para sermos mais precisos.
A situação não devia ser nada agradável para os antigos humanos, mas permitiu que os pesquisadores de hoje contassem sobre suas trajetórias. Veja bem: os piolhos utilizam uma espécie de “cimento” para colar as lêndeas (ovos) no couro cabeludo. Nisso, acabam também prendendo amostras de DNA humano. São elas que estão sendo agora estudadas por uma equipe internacional.
Cientistas da Argentina, Dinamarca e Reino Unido investigaram o material genético de oito múmias cabeludas sul-americanas que datavam entre 1.300 e 2.000 anos atrás. O estudo completo foi publicado na revista científica Molecular Biology and Evolution.
Apesar de o DNA ser normalmente extraído de ossos e dentes, essa não é uma prática recomendada pois pode estragar os vestígios. O uso das lêndeas evita esse problema e ainda traz um bônus: de acordo com pesquisadores, o material genético dentro do “cimento” parece ficar melhor protegido de danos químicos do que aquele encontrado em outras partes.
A partir da análise, os pesquisadores descobriram as rotas de migrações destas múmias sul-americanas, que foram do noroeste da Amazônia aos Andes do centro-oeste argentino. Teorias baseadas em evidências de sítios arqueológicos já apontavam para a possibilidade, que foi agora confirmada.
Fora isso, os cientistas puderam ainda conferir o sexo das múmias e até mesmo concluir que alguns indivíduos enfrentaram temperaturas baixas na época em que morreram. Isso porque, em situações deste tipo, os parasitas ficam mais próximos do couro cabeludo, onde há mais calor.