Como um jovem derrotou uma inteligência artificial no jogo de tabuleiro Go

Não foi mágica, nem super inteligência: um jogador norte-americano amador usou outro computador para encontrar o ponto fraco da IA
Como um garoto derrotou a Inteligência Artificial no jogo Go
Imagem: Elena Popova/Unsplash/Reprodução

Kellin Pelrine, doutorando em ciência da computação e jogador amador do complexo jogo de tabuleiro Go, conseguiu derrotar um sistema de IA de alto nível — e que estava invicto há sete anos. Não é mágica nem superinteligência: ele usou um computador para descobrir o ponto fraco do adversário. 

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No jogo de Go – um dos mais difíceis no ramo dos tabuleiros –, dois jogadores colocam pedras pretas e brancas em um tabuleiro 19×19. O objetivo é cercar as pedras do adversário, deixando-o com o menor espaço possível. 

No confronto direto, o norte-americano venceu 14 dos 15 jogos contra a IA. Ele só precisou aprender as táticas sugeridas pelo software que sondou o sistema em busca de falhas que pudessem fazê-lo “entregar” o jogo. 

O programa, criado pela empresa de pesquisa californiana FAR AI, jogou mais de 1 milhão de partidas contra o KataGo, um dos principais sistemas do jogo Go. O objetivo era encontrar um “ponto cego” no qual um jogador humano poderia tirar vantagem. 

Deu certo. “A estratégia para vencer a máquina não é completamente trivial, mas também não é super difícil para um ser humano aprender”, disse Pelrine ao Financial Times. Segundo ele, qualquer jogador de nível intermediário pode usar a tática para vencer as máquinas. 

Além do KataGo, o método também funciona para vencer o Leela Zero, outro robô com expertise em derrotar humanos no tabuleiro. “Foi surpreendentemente fácil para nós explorar esse sistema”, disse Adam Gleave, executivo-chefe da FAR AI. 

Os programas são similares ao AlphaGo, IA desenvolvido pela DeepMind, subsidiária de pesquisas em inteligência artificial do Google, que derrotou o então campeão mundial de Go, Lee Sedol, por quatro jogos a um em 2016. 

Três anos depois, Sedol anunciou sua aposentadoria de Go. O sul-coreano disse, à época, que os programas de IA eram “entidades que não podiam ser derrotadas”. 

Qual é a tática? 

O triunfo evidencia uma falha compartilhada pela maioria dos sistemas de IA usados atualmente, incluindo o ChatGPT, o chatbot ultra responsivo da OpenAI. 

O tabuleiro tem 19×19, o que torna o número de combinações possíveis enorme. Por isso, os computadores não conseguem avaliar todos os movimentos futuros. A tática de Pelrine consiste, então, em cercar lentamente um dos grupos do oponente enquanto distrai a IA com movimentos em outros cantos do tabuleiro. Isso pode ser facilmente percebido por um jogador humano, mas não pelo cérebro eletrônico.

Essa é uma falha fundamental das máquinas: os sistemas de IA não foram treinados em jogos semelhantes o suficiente para perceber que eram vulneráveis. Além disso, as máquinas só entendem as situações às quais foram expostas no passado. No caso do ChatGPT, por exemplo, só é possível ter acesso via plataforma às informações até 31 de dezembro de 2020. Tudo o que aconteceu depois de 2021 simplesmente não existe para o chatbot. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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