Conheça Janus, a estrela que tem “duas caras”
Um grupo de pesquisadores descobriu recentemente uma estrela curiosa, que exibe duas faces: um lado composto somente de hidrogênio e o outro apenas de hélio. Trata-se de uma anã branca — como são chamados os núcleos remanescentes e superdensos de estrelas com massa semelhante à do Sol.
Batizada de “Janus” — em referência ao antigo deus romano de duas caras — essa estrela pode representar um estágio de transição da evolução estelar nunca antes visto. A revista Nature publicou a descoberta, na última quarta-feira (19). Os responsáveis pelo trabalho são cientistas do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia), nos EUA, e a líder do grupo é Ilaria Caiazzo, astrofísica italiana.
Até recentemente, a pesquisadora estava apenas explorando o espaço em busca de corpos de estrelas mortas. Porém, ela nunca imaginava que descobriria uma exótica anã branca de “duas caras”.
“Foi uma descoberta acidental. Não esperávamos encontrar algo assim. Não foi previsto. É uma nova classe de objeto [estelar]”, afirmou Caiazzo ao site Inverse.
A surpreendente anã branca ganhou o nome oficial ZTF J203349.8+322901.1. Ela é o núcleo remanescente de uma estrela que perdeu todo o seu combustível para realizar a fusão nuclear. Esse mesmo destino é o que aguarda o nosso Sol, por exemplo, daqui a cerca de 5 bilhões de anos.
Por que a estrela tem duas faces?
Os dados coletados apontam que a “Janus” dá uma volta sobre seu próprio eixo em apenas 15 minutos, e a luz emitida por ela foi decomposta com um espectrômetro para medir comprimentos de onda que carregam marcadores dos elementos químicos.
Assim, os pesquisadores constataram a presença de hidrogênio, e não de hélio, quando um lado da anã branca era visível, e vice-versa, o que dá esse aspecto esquisito à estrela. A hipótese mais provável é que a anã branca esteja atravessando uma fase rara de sua evolução.
É a primeira vez que os astrônomos observam uma estrela solitária que parece ter desenvolvido espontaneamente duas faces contrastantes. Por isso, essa descoberta pode mudar a forma como entendemos a vida das estrelas após a morte, incluindo o nosso Sol.
O objeto está a mais de mil anos-luz de distância na constelação de Cisne, no hemisfério celestial norte. Se visto de perto, ambos os lados da estrela seriam de cor azulada e teriam um brilho semelhante, mas o lado do hélio teria uma aparência granulada e remendada como a do Sol , enquanto o lado do hidrogênio pareceria liso.
Comportamento peculiar
A natureza da estrela pode ser devida à interação de campos magnéticos e convecção, ou pode ser uma mistura de materiais. Além disso, no lado do hélio, que parece borbulhante, a convecção destruiu a fina camada de hidrogênio na superfície e trouxe o hélio por baixo.
De acordo com os pesquisadores, o intenso campo gravitacional da estrela faz com que os elementos mais pesados afundem no núcleo e os elementos mais leves flutuem, criando a atmosfera de duas camadas de hélio abaixo, coberta por uma fina camada de hidrogênio, que é um elemento mais leve.
Porém, quando a estrela esfria abaixo de cerca de 30 mil °C, a camada mais espessa de hélio começa a borbulhar. Isso faz com com que a camada externa de hidrogênio se misture, se dilua e desapareça de vista. Os cientistas acreditam que um campo magnético assimétrico pode estar causando esse efeito.