Só controle de temperatura não protegerá as pessoas do novo coronavírus

Enquanto algumas partes do mundo começam a reabrir comércios e aliviar restrições, uma questão que se coloca é como evitar novos picos de casos de COVID-19. Uma das ideias é checar a temperatura das pessoas em empresas, comércios e espaços públicos. Porém, o método não ajuda tanto quanto se pode imaginar.
Mulher tem sua temperatura checada em frente a Casa Branca, nos EUA
Pessoas que entram na Casa Branca precisam checar a temperatura. Crédito: Getty

Enquanto algumas partes do mundo começam a reabrir comércios e aliviar restrições de isolamento, uma questão que se coloca é como evitar novos picos de casos de COVID-19. Uma das ideias é checar a temperatura das pessoas em empresas, comércios e espaços públicos – alguns supermercados e empresas já fazem isso, por exemplo. Embora pareça uma boa ideia, esse método provavelmente só oferece uma falsa sensação de segurança e pode até mesmo aumentar o risco de transmissão.

É fácil entender a lógica por trás das checagens de temperatura. Um dos sintomas mais comuns e precoces de COVID-19 é a febre. Portanto, se você puder identificar alguém com uma temperatura corporal superior à normal antes de entrar em um local público ou local de trabalho, então você poderia manter todos os outros a salvo de uma possível exposição.

Mas o novo coronavírus, chamado SARS-CoV-2, é complicado. Como muitas infecções, as pessoas podem espalhar esse coronavírus antes de começarem a se sentirem doentes ou até mesmo nem apresentarem sintomas. O quão frequente são esses casos ainda está sendo estudado, mas acredita-se que uma parte substancial da transmissão de um surto aconteça por meio de pessoas pré-sintomáticas e assintomáticas – talvez até da maioria dos casos. Assim, confiar na triagem de temperatura como linha de defesa contra o COVID-19 é tentar tapar o sol com a peneira.

Um exemplo: autoridades sanitárias do Missouri, nos EUA, relataram nesta semana que 412 funcionários e trabalhadores terceirizados em uma fábrica de processamento de carne no estado deram positivo para o coronavírus. Mas todos esses trabalhadores também estavam assintomáticos na época. Sem dúvida, alguns desses trabalhadores, que foram aconselhados a se isolarem e ficar em casa por 10 dias, começarão a apresentar sintomas, mas a janela de oportunidade de transmissão ficaria aberta por dias se a fábrica tivesse contado apenas com a triagem de temperatura.

Também temos evidências do início do surto sugerindo que essas triagens simplesmente não são muito úteis na prevenção da propagação do COVID-19. Quando a doença foi localizada na China no início do ano, os aeroportos ao redor do mundo começaram a implementar controles de temperatura e sintomas para os viajantes, muitas vezes usando tecnologia de leitura de calor corporal. Mas, como sabemos agora, o COVID-19 atravessou o mundo mesmo assim, com os primeiros casos chegando a outros países muito antes mesmo desses exames serem colocados em prática.

Um estudo realizado no final de fevereiro, por exemplo, estimou que mais da metade dos viajantes infectados não seriam detectados por esses exames, mesmo nas melhores circunstâncias, sendo a maioria dos casos “fundamentalmente indetectáveis, pois ainda não desenvolveram sintomas e não sabem que foram expostos.”

Não é apenas a ineficácia da triagem de temperatura que é o problema. Enquanto algumas empresas se comprometeram a conceder licença remunerada aos trabalhadores que adoecem com COVID-19 ou testam positivo, há muitas histórias de pessoas, muitas vezes da indústria de serviços, que afirmam que seu diagnóstico foi usado como desculpa para demiti-los. Se as febres se tornam a linha para decidir se você pode manter seu emprego, algumas pessoas podem ser sentir incentivadas a escondê-la, tomando antitérmicos, por exemplo. Já houve relatos similares nos EUA.

O ideal seria que a triagem de temperatura fosse uma pequena parte do plano para que os negócios voltassem a funcionar. As prioridades mais importantes seriam fornecer equipamentos de proteção adequados e maneiras de evitar contato próximo com os funcionários; testes de rotina e amplamente disponíveis (e possivelmente testes de anticorpos, se e quando pudermos usá-los para determinar imunidade); e segurança empregatícia para aqueles que contraírem o vírus ou que, com razão, não queiram colocar em risco sua saúde. Tudo isso seria precedido de esforços bem sucedidos para realmente reduzir a propagação do vírus em cidades e estados, como aconteceu em países como Coreia do Sul e Austrália.

No entanto, a maioria das respostas ao coronavírus não têm sido ideal.

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