Últimas descobertas científicas sobre o coronavírus: asilos, desigualdade racial e projeções para o Brasil

Aqui está nosso resumo das mais recentes pesquisas sobre o COVID-19, incluindo mais evidências de disparidades raciais durante a pandemia, os possíveis riscos mais altos em casas de repouso com fins lucrativos e o agravamento do desastre no Brasil. Como o coronavírus se espalha dentro de casa Um novo estudo da BMJ Global Health é […]
Foto: Getty Images

Aqui está nosso resumo das mais recentes pesquisas sobre o COVID-19, incluindo mais evidências de disparidades raciais durante a pandemia, os possíveis riscos mais altos em casas de repouso com fins lucrativos e o agravamento do desastre no Brasil.

Como o coronavírus se espalha dentro de casa

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Um novo estudo da BMJ Global Health é um dos primeiros a fornecer evidências para responder se as máscaras faciais podem impedir a transmissão do COVID-19 entre pessoas que moram juntas. Pesquisadores na China estudaram mais de 120 famílias em Pequim com pelo menos um membro confirmado como portador do coronavírus, abrangendo um total de 335 pessoas.

Entre 28 de fevereiro e 27 de março, outras 77 pessoas que faziam parte do estudo contraíram o vírus. No entanto, dentro das famílias, certas intervenções podem ter impedido sua propagação.

O uso diário de desinfetantes à base de cloro ou álcool em casa, por exemplo, foi associado a uma chance 77% menor de infecção secundária. As chances de infecção eram 18 vezes maiores se alguém relatasse contato diário frequente com a pessoa infectada. Manter as janelas abertas e manter um metro de distância também foi relacionado à redução da propagação do vírus nas famílias.

Os familiares que usavam máscaras regularmente em casa apresentaram uma chance 79% menor de infecção, mas apenas se o uso da máscara tivesse começado antes que a primeira pessoa infectada começasse a apresentar sintomas.

O estudo foi retrospectivo, o que significa que os pesquisadores tiveram que confiar nas lembranças das pessoas, que podem ser falhas. Mas, como apontam, é aparentemente a primeira evidência do mundo real da “eficácia do uso de máscara, desinfecção e distanciamento social na prevenção do COVID-19”.

Curiosamente, eles também encontraram evidências de transmissão fecal, com as chances de infecção por membros da família sendo quatro vezes maiores se o primeiro doente tivesse diarreia. Pesquisas anteriores sugeriram que partículas de cocô no ar poderiam ser uma fonte de infecções por coronavírus.

As descobertas reforçam os benefícios do “uso universal de máscaras faciais e distanciamento social, não apenas em espaços públicos, mas dentro de casa com membros em risco de serem infectados”.

Diferenças em casas de repouso

Os efeitos mais sérios do COVID-19 nas pessoas mais velhas, e as casas de repouso têm sido uma das principais fontes de casos graves e mortes. Mas um artigo preliminar divulgado nesta semana sugere que os lares de idosos com fins lucrativos no Canadá foram ainda mais mortais para seus residentes.

O artigo, divulgado no site de pré-impressão medRxiv, utilizou dados do governo sobre casos e mortes por COVID-19 para comparar como todos os lares de idosos em Ontário se saíram durante a pandemia. No total, eles analisaram 623 casas de repouso, mais da metade delas com fins lucrativos.

Entre 29 de março e 20 de maio, houve 5.218 casos de COVID-19 e 1.452 mortes em lares de idosos. As casas com fins lucrativos, segundo o estudo, não eram mais propensas a ter um surto do que as casas sem fins lucrativos ou aquelas administradas pelo governo local. Mas elas tinham maior probabilidade de ter surtos maiores, com mais mortes.

As descobertas do estudo ainda não foram submetidas à revisão por pares, portanto devem ser lidas com cautela. Mas, se forem precisas, sugerem que há fatores de risco adicionais que podem colocar em perigo quem mora em residências desse tipo.

Quando os autores tentaram encontrar possíveis explicações para a diferença entre casas com e sem fins lucrativos, encontraram apenas uma: as casas com fins lucrativos eram mais frequentemente feitas com padrões de projeto mais antigos e desatualizados.

Esses padrões tendem a incluir menos quartos para residentes únicos, quartos menores em geral e banheiros compartilhados. Isso provavelmente ofereceu mais oportunidades para o vírus se espalhar entre os residentes e os funcionários. Os espaços mais abertos e privativos, que seguiam novos padrões de design, escreveram os autores, “além de promover a qualidade de vida, são projetados para ajudar na prevenção e no controle de infecções”.

Desigualdade racial e COVID-19

Um novo estudo publicado esta semana no New England Journal of Medicine destaca o abismo racial da pandemia nos EUA até agora.

Os médicos examinaram casos de um único sistema de saúde que cobre grande parte do sudeste da Louisiana. Os negros representavam cerca de 31% da população coberta pelos hospitais e centros médicos do sistema, mas entre 1º de março e 11 de abril representaram 70% de todos os casos confirmados de COVID-19 que passaram pelo sistema (mais de 3.500 no total), bem como 77% das hospitalizações.

Os negros também eram mais propensos a morrer de COVID-19 do que os brancos. Sua maior taxa de mortalidade estava ligada a fatores de risco, como a gravidade de sua doença na admissão, condições pré-existentes e outros indicadores sociodemográficos, como morar em um bairro de baixa renda.

As descobertas sugerem, como outras pesquisas, que os negros tem sido especialmente vulneráveis ​​ao COVID-19 e que apresentam casos mais graves ao pegar a doença. Pessoas de minorias étnicas trabalham desproporcionalmente em empregos de serviço e em outras empresas consideradas essenciais durante a pandemia, o que as leva a ficarem expostas ao vírus. Os negros também têm maior probabilidade de desenvolver problemas de saúde que podem aumentar o risco de gravidade do coronavírus, como diabetes ou doenças cardíacas.

Como muitos desastres naturais anteriores, o COVID-19 parece ter apenas ampliado as desigualdades existentes em nossa sociedade.

A tragédia no Brasil fica cada vez maior

No início desta semana, os EUA ultrapassaram o marco lamentável de 100 mil mortes confirmadas por COVID-19 — o número real de mortes provavelmente ultrapassou esse número há um tempo, se os dados sobre mortes em excesso forem precisos. Mas, embora os EUA certamente tenham fracassado em várias frentes ao lidar com o COVID-19, não são o único país a falhar na resposta à pandemia.

Novas projeções desta semana do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), da Universidade de Washington, preveem que o Brasil terá cerca de 125 mil mortes documentadas até agosto, superando em muito o número provável de mortes de seus vizinhos.

As projeções do IHME, particularmente nos EUA, foram criticadas por subestimar as mortes. Mas suas previsões mais recentes estão alinhadas com outros modelos existentes, e a receita para o desastre do Brasil parece estar em fase de elaboração.

Com mais de 400 mil casos relatados, o país agora tem o segundo maior surto do mundo, e seu número diário de mortes relatadas (mais de 1.000 na quarta-feira, 27) começou a superar o dos EUA, que lideram em número de casos e mortes.

Assim como Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro menosprezou a gravidade da pandemia, e o país tem tido problemas para fornecer testes e recursos suficientes para seus médicos e hospitais. Bolsonaro promoveu o uso de cloroquina como cura para COVID-19, agora considerada um tratamento ineficaz por muitos especialistas.

Outro modelo elaborado pelo pesquisador de dados independente Youyang Gu e por outros, que tem sido muito preciso até agora, prevê que o Brasil terá cerca de 195 mil mortes até setembro. Para não ficar para trás, o mesmo modelo prevê que os EUA atingirão 200 mil mortes nessa época.

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