Crime digital: novos ladrões de arte vendem obras roubadas como NFTs
Esqueça aqueles cinematográficos roubos a museus, tão comuns em séries e filmes. Os ladrões de arte da atualidade agora agem na internet, roubando obras e vendendo como NFTs.
O NFT (sigla de “token não fungível”) é um tipo de certificado digital que tem revolucionado o mundo das moedas digitais. Com ele é possível provar a propriedade ou a autenticidade de conteúdos digitais, por meio da rede blockchain.
A tecnologia tem chamado a a atenção nos últimos meses por levantar somas milionárias de dinheiro em leilões de ativos na internet.
Na prática, é possível comprar um NFT que representa uma obra de arte. Ao atrelar um NFT a algo, acontece uma escassez de conteúdo, o que acaba chamando a atenção não apenas de colecionadores e investidores interessados, mas também de ladrões.
Tecnologia nova, mas cheia de incógnitas
Por ser uma tecnologia nova, a prática ainda é cheia de “senões”, o que abre margem para crimes contra artistas.
É o caso de RJ Palmer, conforme relatado na Mel Magazine. O artista vem construindo uma carreira ao longo da última década, produzindo artes para a área de games e enviando para galerias online, como a DeviantArt.
Entretanto, tudo mudou quando ele foi surpreendido com uma enxurrada de notificações da galeria dele. Um ladrão pegou todo o trabalho de Palmer –datado desde 2008–, atrelou tokens e carregou as imagens no OpenSea, uma conhecida plataforma de compra e venda de NFTs usando criptomoedas.
O criminoso se aproveitou que o sistema permite criar uma NFT de qualquer imagem, mesmo que o usuário não tenha criado o conteúdo ou possua um IP.
O próprio RJ Palmer explica:
This is how much of my work was stolen and minted as NFTs just today. The DeviantArt NFT protection is great but man this sucks to see. pic.twitter.com/uNHinQsAGV
— RJ Palmer (@arvalis) November 23, 2021
Milhares de roubos diários
Assim como Palmer, outros milhares de artistas estão sendo roubados todos os dias. Segundo a DeviantArt, uma ferramenta de detecção identificou mais de 11 mil peças de arte furtadas entre julho e setembro.
Como não há regulamentação, remover artes das plataformas de negociação NFT não é algo fácil. As próprias plataformas têm evitado qualquer responsabilidade na verificação de autenticação ou prevenção de crimes.
A artista Brittany Fanning, por exemplo, fez vários apelos para que a OpenSea removesse suas obras de arte roubadas. Entretanto, ela foi sumariamente ignorada. Segundo Fanning, ela só conseguiu ter a postagem retirada após encontrar o número do telefone do ladrão e enviar uma mensagem para ele.
Apesar da pequena vitória, a artista acredita que pode ser alvo de novos crimes. “As pessoas podem roubar a mesma imagem novamente. Não há salvaguardas para impedir isso”, ressaltou.