Criptomoedas no futebol: como os clubes lucram com fan tokens

Clubes de futebol como Santos e Corinthians, já têm seu próprio fan token, modalidade de criptomoedas criada para engajar torcedores
Criptomoedas no futebol: como os clubes lucram com fan tokens
Imagem: Jannes Glas/Unsplash/Reprodução

Santos, Corinthians, Internacional, Coritiba, Flamengo e até a seleção brasileira: esses times têm em comum o uso de fan tokens, modalidade do sistema de criptomoedas criada para engajar torcedores e apaixonados por futebol. 

O estudo “Mapeamento dos contratos entre entidades esportivas e empresas cripto no Brasil”, lançado em outubro, aponta que existem pelo menos 52 contratos entre empresas de “criptoeconomia” e entidades esportivas assinados no país. 

Grandes clubes, como os que citamos acima, acumulavam no final do ano passado R$ 2,2 bilhões com fan tokens, segundo levantamento do escritório Marcello Macêdo Advogados e Win The Game, ao qual a revista Forbes teve acesso. 

Os dados mostram que, no ano passado, 14 dos 20 clubes que disputavam a série A do Campeonato Brasileiro já tinham algum tipo de contrato ligado a NFTs (Tokens Não-Fungíveis, na sigla em inglês). 

E a tendência não está no futebol: o NBB (Novo Basquete Brasil) e outras instituições da Fórmula 1 e o vôlei, por exemplo, já investem no mercado de criptomoedas, em especial em fan tokens.

Afinal, o que são fan tokens 

Fan tokens estão dentro da categoria “utility tokens”, ou “tokens de utilidade”. Na prática, são parecidos com os programas de sócio-torcedor: os compradores dos ativos digitais têm acesso a produtos e serviços exclusivos do clube, assim como o direito de participar de votações. 

A diferença, nesses casos, é que os tokens são armazenados em blockchains. Por isso, os torcedores não precisam pagar mensalidade e podem vender o “passe” do clube a qualquer momento – inclusive, o fan token pode valorizar ou desvalorizar com o tempo.

Outro ponto sobre os fan tokens é que, diferente de criptomoedas como o Bitcoin e Ethereum, não é possível usá-los como forma de pagamento. A única função deles é engajar fãs e torcedores. 

Ao comprar um fan token do clube, os torcedores podem influenciar nas decisões do time, concorrer a prêmios, escolher o design de produtos, etc. As ofertas variam conforme a abertura do time aos donos dos ativos digitais. 

Os clubes lucram com fan tokens 

Fan tokens podem ser uma alternativa bastante lucrativa no mundo das criptomoedas – e do futebol. Isso porque esses ativos digitais entram no mercado através de uma FTO (Oferta Inicial de Token) – movimento parecido com uma IPO (Oferta Pública Inicial), do mercado de ações. 

É nessa primeira oferta que saem os lucros, porque, a partir da venda inicial, uma parte do valor fica no time. Também existem casos em que as empresas compram o direito sobre os ativos digitais dos clubes. Nesses casos, elas pagam pelo direito e assumem todos os riscos da venda. 

Outro ponto é que os emissores dos tokens e os clubes recebem 0,25% de toda a negociação realizada entre os usuários. Por isso, quanto mais benefícios houver, mais torcedores buscarão o ativo digital – e mais dinheiro entrará no clube. 

Segundo o site CoinGecko, o fan token com maior valorização até 10 de março de 2023, data da produção desta reportagem, era o do Barcelona ($BAR). Em seguida estava o Manchester City ($CITY), Paris Saint-Germain ($PSG), Arsenal ($AFC) e Santos ($SANTOS).

Riscos e regulamentação 

O mercado de criptomoedas, seja no futebol ou de modo geral no Brasil, ainda não está 100% regulado. Um projeto de lei (PL 4401/2021) criado para regularizar o setor foi aprovado pela Câmara no final de novembro, mas ainda depende da sanção presidencial. 

A regra tem o objetivo de combater a prática de crimes com criptoativos, como lavagem de dinheiro, e cria mecanismos para proteger investidores. Isso porque também existem riscos em usar ativos digitais – incluindo fan tokens. 

No caso dos tokens dos clubes, em específicos, é possível comprar os ativos como forma de especulação. Assim, o mercado, que já é pequeno e de baixa liquidez, deixa compradores vulneráveis a perdas financeiras.

Isso significa que é possível, sim, ganhar e perder dinheiro com isso. Na Copa do Mundo, os fan tokens da seleção brasileira ($BFT) subiram 13,5% em meio à expectativa para ganhar o hexacampeonato. A maior esperança estava sobre a seleção peruana, que viu o fan token $FPFT valorizar nada menos que 33%. 

Quando começaram os boatos de que Lionel Messi iria para o PSG, em 2021, o valor dos ativos do clube saltaram de R$ 33 para R$ 58 em menos de 48 horas. Esses exemplos foram positivos, mas mostram a flutuação do fan token, que pode ser positiva ou negativa dependendo das decisões do clube.

Nesses casos, é possível que o dinheiro investido no começo já não seja o mesmo na hora de vender o fan token. Assim, fica a cargo do torcedor escolher se vale a pena, ou não, recorrer ao ativo pelo time do coração.

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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