“Cultura da impunidade é desgastante”, diz Debora Lamm, atriz da série da Boate Kiss

Em entrevista exclusiva ao Giz Brasil, a atriz Debora Lamm traz impressões sobre sua personagem na série "Todo Dia a Mesma Noite", da Netflix. Confira
"Cultura da impunidade é desgastante", diz Debora Lamm, atriz da série da Boate Kiss
Imagem: Netflix/Reprodução

A impunidade e a luta por justiça das famílias que perderam seus filhos na Boate Kiss são o que existe de mais doloroso ao olhar para a tragédia dez anos depois. 

Essa é a percepção da atriz Debora Lamm, que na recém lançada série “Todo Dia a Mesma Noite” (Netflix), interpreta a mãe de Mari (Manu Morelli), personagem inspirada em uma das vítimas do incêndio que matou 242 jovens na madrugada de 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria (RS).

“Como se não bastasse a tragédia, tem toda uma cultura da impunidade que faz com que a luta das pessoas por justiça seja muito desgastante”, disse a atriz em entrevista exclusiva ao Giz Brasil. “Essas pessoas que já estão inteiramente dilaceradas, que viveram uma tragédia, e ainda precisam ser mais fortes para passar por tudo isso. É muito doloroso”. 

A série se baseia no livro “Todo Dia a Mesma Noite: A História Não Contada da Boate Kiss”, da jornalista Daniela Arbex. A partir da narrativa do incêndio, a produção explora o caminho das vítimas na justiça brasileira – que continua até hoje. 

“A partir da tragédia vem uma luta incessante que há dez anos está inacabada”, reiterou a atriz. Ela se refere ao processo criminal iniciado ainda em 2013 em que familiares das vítimas lutam para responsabilizar os culpados pelas 242 mortes e 636 feridos no incêndio.

A ação acusa quatro pessoas: 

  • os sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Hoffmann;
  • o vocalista da banda Gurizada Fangangueira, Marcelo Jesus dos Santos, que começou o incêndio ao realizar um show pirotécnico
  • o auxiliar do grupo, Luciano Augusto Bonilha Leão, que comprou os fogos de artifício disparados dentro da casa de shows

Encontro com a mãe

Depois do lançamento da série, Debora Lamm se encontrou com a mulher que inspirou sua personagem: Ligiane. Ela é mãe de Andrielle Righi da Silva, jovem que estava na Kiss para comemorar seu aniversário de 22 anos. 

Andrielle conseguiu sair da boate e foi hospitalizada, mas morreu por não resistir à fumaça tóxica. “O que me tocou na produção dessa série foi me aproximar da luta, da fortaleza dessas pessoas, desses pais”, lembrou a atriz. 

A empresária santa-mariense é uma das mães mais engajadas nos movimentos de familiares após a tragédia. “Hoje ela me inspira muito, muito, muito. Ela está até hoje vivendo a dor dessa perda, mas ao mesmo tempo transformou essa dor em luta, força. É uma mulher invulnerável, uma fortaleza”, pontuou Lamm. 

Outros atores da série também prestaram homenagens às vítimas e familiares que inspiraram seus personagens na série. 

“Agora falta fazer o mundo sentir essa injustiça, que já deveria ter percorrido um caminho óbvio em trâmites legais. Hoje, dia 25 de janeiro, estreamos em mais de 180 países. Espero que em breve se faça o que deveria ter sido feito há muito tempo”, escreveu Manu Morelli no Instagram. 

Thelmo Fernandes, que vive o pai de Mari, também fez sua homenagem. “Pessoas maravilhosas que buscam incessantemente por justiça. Espero que este trabalho contribua imensamente para dar voz e estímulo para que esta luta não cesse enquanto a justiça não for alcançada”, escreveu. “Por memória, por justiça, que não se repita”.

Em que passo está o processo

Um júri realizado em outubro de 2021 condenou os quatro por homicídio simples (242 vezes consumado, pelo número de mortos; e 636 vezes tentado, pelo número de feridos). Mas a defesa dos réus apelou e os quatro acusados seguem em liberdade. Agora, o processo está em fase de recursos. 

Com a repercussão da série da Boate Kiss na Netflix, o Poder Judiciário do Rio Grande do Sul emitiu uma nota que diz que o processo do Caso Kiss segue “à risca” todos os ritos da legislação brasileira. 

Este é um processo de alta complexidade, que ensejou o júri de maior duração e número de vítimas da história do Judiciário gaúcho”, afirma o comunicado. “Todas as partes exercem o direito de se manifestar por meio das ferramentas jurídicas, buscando respostas a seus pedidos”. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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