Por que Israel é um polo tecnológico preocupado com cibersegurança

A Cyberweek, evento dedicado à cibersegurança sediado em Tel-Aviv, está em sua oitava edição discutindo os impactos e o futuro da segurança digital no mundo. Na plenária principal, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, iniciou seu posicionamento e alguns momentos depois as luzes piscaram. • Alguns hackers provavelmente já sabem como burlar o novo modo […]

A Cyberweek, evento dedicado à cibersegurança sediado em Tel-Aviv, está em sua oitava edição discutindo os impactos e o futuro da segurança digital no mundo. Na plenária principal, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, iniciou seu posicionamento e alguns momentos depois as luzes piscaram.

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“Senhoras e senhoras, esta conferência foi hackeada […] a propriedade intelectual de suas empresas está em nossas mãos, assim como suas conversas privadas”, disse uma voz robótica. Era só uma brincadeira, é claro. A partir desse gancho, Netanyahu destacou a importância que governos, negócios e cidadãos devem dar à cibersegurança: “Estados podem fazer tudo o que você viu neste vídeo e muito mais. Eles podem paralisar e controlar infraestruturas críticas de um país”.

E não é brincadeira. Nos últimos anos pudemos acompanhar uma série de pesadelos cibernéticos: há suspeita de que grupos de hackers tenham grande influência em ações contra a infraestrutura da Ucrânia, por exemplo. No final de 2015, uma grande faixa da Ucrânia sofreu com falta de energia e pesquisam indicam que o apagão pode ter sido causado por um malware destrutivo.

O ransomware WannaCry afetou dezenas de países, incluindo o Brasil, e causou sérios danos ao sistema público de saúde do Reino Unido. Pouco tempo depois, foi a vez do ransomware NotPetya sequestrar computadores da infraestrutura crítica da Ucrânia e Rússia. O sistema público de transporte de San Francisco também sofreu ataques do tipo e, mais recentemente, a cidade de Atlanta se tornou refém de hackers. Isso sem contar a suspeita de influência russa nas últimas eleições dos EUA e as possibilidades de invasão de dispositivos médicos.

Israel tem muito o que compartilhar com outras nações a respeito de cibersegurança. O país recebe grande parte da demanda de acordos relacionados a esse campo, atrás apenas dos EUA, segundo dados de um relatório da CB Insights, publicado em abril de 2018. Existem 420 empresas israelenses e 50 centros de pesquisa e desenvolvimento dedicados à segurança digital. Segundo o governo, o país recebeu US$ 815 milhões em investimentos na indústria de cibersegurança em 2017 – representando cerca de 16% de todos os investimentos privados na área.

Quase todas grandes empresas de tecnologia já adquiriram empresas do ramo de Israel: a Microsoft comprou pelo menos quatro; o Google também já adquiriu startups do ramo de segurança (além do Waze que é original de lá), enquanto a IBM logo implementou um centro de pesquisa na área de segurança no país. Sem contar o governo norte-americano que, quando precisa desbloquear iPhones, procura a Cellebrite, já que a Apple não fez um backdoor para facilitar esse tipo de ação.

Entendendo o ecossistema

Antes de explicar a razão de Israel ter um forte ecossistema de segurança cibernética, é necessário entender as condições locais. Para começar, Israel tem um clima muito seco, apesar de terem uma costa banhada pelo mediterrâneo. Isso fez com que o país criasse uma cultura empreendedora que fez, por exemplo, com que o país pensasse em formas de dessalinizar a água ou mesmo aproveitar água de chuva nos poucos dias em que ocorre.

O governo, inclusive, reserva parte do PIB para investimento em empresas e pesquisa e desenvolvimento, o que torna o país o que tem o maior número de criação de startups do mundo: foram criadas 600 apenas em 2017, segundo a Israel Innovation Authority.

Fora isso, existe uma questão regional histórica. Israel é um país pequeno e já esteve em conflito com boa parte de seus vizinhos. Então, a questão da segurança começa na escola, ensinando conceitos básicos sobre cibersegurança no final do ensino fundamental. E ao ingressar na universidade, muitos dos cidadãos passam por pelo menos dois anos de serviço militar e é lá que os fundamentos de programação e segurança online são desenvolvidos.

Talvez seja uma boa ideia o Brasil começar a se preocupar um pouco mais com o assunto, afinal, até pouco tempo atrás o pessoal de mídias sociais do Planalto guardava suas senhas em um arquivo do Google Docs.

Parte de todo esse ecossistema está estritamente ligado com a colaboração. Yigal Unna, diretor executivo do Diretório Nacional de Cibersegurança, falou durante uma coletiva de imprensa sobre o desenvolvimento de uma proteção cibernética que inclui desenvolvimento de tecnologias e parcerias com outros estados. Uma dessas iniciativas se chama CyberNet, uma espécie de rede social, em que especialistas em segurança da iniciativa privada e pública de diversos países podem compartilhar informações. Recentemente, o país promoveu um seminário com 35 representantes de universidades latino americanas, incluindo universidades brasileiras.

A partir desse cenário quase que apocalíptico do ponto de vista da cibersegurança, o investimento na área tem se mostrado eficiente e rentável: a indústria de segurança digital exportou US$ 3,8 bilhões em 2017 e Israel possui uma defesa sólida contra ciberataques.

*O jornalista viajou para Tel-Aviv a convite da Embaixada de Israel no Brasil

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