De Turing ao ChatGPT: conheça história da IA, que nasceu como arma de guerra

História da IA começou na 2ª Guerra Mundial, quando tropas adversárias tentavam interceptar mensagens codificadas. O Giz Brasil traz a história do dispositivo que está transformando a vida moderna
Do Turing ao ChatGPT: conheça história da IA, que nasceu como arma de guerra
Imagens: Reprodução

Antes do ChatGPT e das infinitas possibilidades de IA generativas que pipocam todos os dias no mercado, a inteligência artificial foi um experimento de guerra. 

Os sistemas que agem “sozinhos” começaram a ser desenvolvidos pela primeira vez na década de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, pelo matemático britânico Alan Turing, conhecido como o pai da computação. 

Mas foi só em 1956 que o cientista da computação norte-americano John McCarthy, cunhou o termo que deu nome “Inteligência Artificial”, revolução tecnológica que repercute até hoje. A seguir, relembre a história da IA dos últimos 80 anos. 

Como tudo começou 

Ainda não existia o termo “inteligência artificial” quando em 1942, Turing projetou a máquina Bombe, uma bomba eletromecânica capaz de decifrar mensagens emitidas pelas forças armadas alemãs e criptografadas por outra máquina, chamada Enigma. 

Do Turing ao ChatGPT: conheça história da IA, que nasceu como arma de guerra

Bombe, de Alan Turing, pesava 1 tonelada e tinha quase 2 metros. Imagem: WikiCommons

De modo geral, a Bombe era um enorme computador eletromecânico de uma tonelada que tinha como objetivo decodificar os 26 modos de encriptação da Enigma. Em resumo, a comunicação dos nazistas trocava as letras para que os inimigos não identificassem as mensagens via ondas de rádio caso fossem interceptadas. 

A letra A, por exemplo, virava J e assim por diante, com todo o alfabeto. O sistema de Turing, porém, conseguia decodificar as palavras mesmo quando as letras eram atualizadas – o que acontecia diariamente. 

Isso só era possível porque, ao final de todas as mensagens, os nazistas repetiam sempre a mesma frase: “Heil Hitler”, ou “Salve Hitler”. Dessa forma, o sistema entendia qual eram as combinações do dia – o que permitiu uma quebra radical na comunicação dos aliados ao ditador alemão. 

Isso tem a ver com IA porque o sistema funcionava sozinho a partir de conhecimentos básicos da língua alemã e, com um único fragmento de texto, criava textos e conhecimento úteis aos estrategistas de guerra. 

Testes de inteligência de máquina 

Turing teve outro papel importante na história da IA. Em 1950, ele publicou um artigo (acesse aqui, em inglês) em que discute se uma máquina pode pensar e tomar decisões de forma tão racional e inteligente quanto um ser humano. 

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O matemático britânico Alan Turing, aos 16 anos. Imagem: Domínio público

No texto, ele propõe um teste: pedir que um interrogador descubra qual resposta foi dada por um humano e qual pertence a uma máquina. Se o interrogador não fosse capaz de distinguir entre os dois, a máquina se tornaria “indistinguível” de um ser humano. 

Turing, porém, não pôde colocar o teste em prática. Primeiro, porque os computadores da época não armazenavam comandos – apenas executavam ações. Ou seja, eles obedeciam às ordens, mas não memorizavam o que faziam. 

Depois, a computação era extremamente cara. Alugar um computador em 1950 significava pagar US$ 200 mil por mês – hoje, valor equivalente a mais de R$ 980 mil. Por isso, só grandes universidades e governos podiam se aventurar nessa. 

Nasce a “Inteligência Artificial” 

Em 1955, o cientista norte-americano John McCarthy cria o termo “inteligência artificial” para justificar a Conferência de Dartmouth, o primeiro evento de IA da história, que aconteceu no ano seguinte. 

Seu objetivo era projetar uma máquina capaz de pensar e raciocinar como um humano. McCarthy acreditava que isso aconteceria, sem sobra de dúvidas, dentro de “cinco ou 5 mil anos”. 

Apesar de reunir vários pesquisadores engajados em discutir o nascimento de uma IA a longo prazo, a conclusão da conferência foi que a IA era “inalcançável”. Mas isso não desanimou McCarthy: em 1958, ele criou a linguagem Lisp, que se tornou o padrão na linguagem de IA dali em diante. 

Robôs industriais 

Apesar da sensação de inacessibilidade da IA, logo começaram a surgir incentivos para o desenvolvimento da área. No ano de 1961, o inventor norte-americano George Devol criou o primeiro robô industrial, chamado Unimate. 

Essa IA entrou em uma linha de montagem da General Motors para transportar e soldar peças fundidas em carrocerias. Até então, os trabalhadores humanos que realizavam essa atividade sofriam diversos acidentes por envenenamento e até perda de membros.

Eliza, o primeiro chatbot 

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O cientista da computação Joseph Wiezenbaum mexe no bot Eliza, em 1964. Imagem: MIT/Reprodução

O cientista da computação Joseph Wiezenbaum, do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) desenvolveu o primeiro chatbot da história da IA em 1964, nos laboratórios da universidade. 

Eliza é um robô psicoterapêutico que dá respostas pré-alimentadas. Sua programação tinha como objetivo fazer com que os interlocutores acreditassem que dialogavam com alguém que entendesse seus problemas – e não com uma máquina. 

Conheça Shakey, o robô multifunções 

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Shakey, o primeiro robô móvel de uso geral, criado por roboticistas do Vale do Silício, nos EUA, em 1969. Imagem: Sri International/Reprodução

Em 1969, o mercado norte-americano impulsionado pela riqueza pós-Segunda Guerra lança o Shakey, o primeiro robô móvel de uso geral. O sistema foi criado por um grupo de roboticistas do Vale do Silício para “raciocinar com suas próprias ações”.  

Shakey era capaz de perceber seus arredores, inferir fatos implícitos e explícitos, criar planos, recuperar-se de erros e se comunicar em inglês comum, dizia o IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos dos EUA), no lançamento da tecnologia. 

“A arquitetura de software, visão computacional e métodos de navegação e planejamento de Shakey provaram ser seminais em robótica e no design de servidores web, automóveis, fábricas, videogames e rovers de Marte”, diz uma placa ao lado do robô, que está em exposição no Museu da História do Computador, em Mountain View, Califórnia. 

Alice, a inspiração do longa “Ela” 

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Na imagem, uma ilustração da robô de linguagem natural Alice, criada por Richard Wallace em 1995. Imagem: Reprodução

Em 1995, o desenvolvedor Richard Wallace criou a ALICE (Artificial Linguistic Internet Computer Entity), um chatbot de software livre, linguagem aberta, minimalista e de estímulo-resposta capaz de criar personalidades. 

Wallace se inspirou bastante no chatbot Eliza, mas incluiu ajustes que tornam Alice excepcional, como o PLN (Processamento de linguagem natural), o que faz com que o robô converse com humanos de forma fluida e mais natural. 

Em 2013, Alice inspirou Spike Jonze para criar o longa “Ela” (Her), que representa a relação entre um ser humano e uma IA, com Joaquin Phoenix, Amy Adams e Scarlett Johansson. 

DeepBlue 

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Cena do documentário “Game Over: Karparov and The Machine”, que mostrou a derrota do maior jogador de xadrez do mundo para uma IA, em 1997. Imagem: Game Over: Karparov and The Machine/Reprodução

É possível que este jogo de computador para jogar xadrez desenvolvido pela IBM, em 1997, seja o principal divisor de águas da IA. Naquele ano, a lenda do xadrez Garry Kasparov foi desafiado a vencer a máquina no episódio icônico conhecido como “Kasparov x DeepBlue”. 

O mais impressionante é que, sim, a máquina venceu Kasparov, o que deixou muita gente se perguntando se os robôs poderiam superar os humanos facilmente em qualquer outro tipo de tarefa. 

Kismet demonstra emoções 

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O robô Kismet, uma “experiência afetiva” de IA. Imagem: MIT/Reprodução

Em 1998, cientistas do MIT criam o Kismet, uma cabeça de robô que poderia reconhecer e simular emoções. 

IA na limpeza de casa 

No ano de 2002, surgem os primeiros robôs aspiradores do mercado. Foi uma grande descoberta, pois o dispositivo leva sensores que evitam choques com móveis, escadas e assim por diante. 

Surge a Siri 

Em 2008, a Apple lançou a Siri, uma IA assistente virtual habilitada para usar consultas por voz e linguagem natural para responder perguntas, fazer recomendações e realizar ações virtuais em nome dos usuários. 

E depois a Alexa 

Seis anos depois, a Amazon lançou a Alexa, uma versão mais popular da Siri. De lá para cá, a Alexa está em todos os smartwatches, televisão, alto-falantes, monitores de carros e várias outras plataformas. 

Para funcionar, basta que o usuário diga em voz alta “Alexa”, e o dispositivo executa o comando. A caixa toca música, fornece informações, notícias e placares esportivos, além da previsão do tempo e controla uma casa inteligente.

Sophia, a primeiro cidadã robô 

A Hansen Robotics criou a Sophia, um robô humanóide com IA, em 2016. No mesmo ano, ela ganhou cidadania da Arábia Saudita, o que significa que tem documentos e pode viajar pelo país caso necessário. 

O robô imita expressões faciais, linguagem natural e tem opiniões sobre tópicos pré-definidos – além de uma habilidade para ficar mais inteligente com o decorrer do tempo. Sua aparência teve como inspiração a atriz Audrey Hepburn. 

GPT-3 

Não é de se espantar que, a partir de Sophia, a história da IA já não era mais a mesma de 50 anos atrás. A partir daí, a tecnologia já estava mais complexa e dava seus próprios passos involuntariamente.

Em 2020, por exemplo, a organização norte-americana OpenAI lançou o GPT-3, um chatbot que transformou as conversas automatizadas. Isso porque a ferramenta respondia a qualquer comando com um texto apropriado. Além disso, o recurso conseguia aprender tudo – inclusive a programação do próprio código. 

E chega o ChatGPT 

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Imagem: Prachatai/Flickr/Reprodução

Em novembro de 2022, o mundo viu um novo salto na história da IA: o lançamento do ChatGPT, movido com GPT-3.5 da OpenAI. Em seguida, já veio o GPT-4, um chatbot ultrapotente que apresentou aos usuários grandes modelos de linguagem e softwares ridiculamente fáceis de usar e acessíveis a qualquer pessoa com conexão à internet. 

Com eles, basta que o usuário digite um comando e espere o resultado. Essa mudança deve automatizar dezenas de milhões de empregos no mundo, enquanto a indústria de serviços já começa incorporar essas ferramentas em seus produtos. 

Enquanto isso, as primeiras discussões legais sobre IA começam a ganhar forma e volume, especialmente sobre direitos autorais e segurança de dados na rede. O próprio CEO da OpenAI, Sam Altman, falou para que o congresso dos EUA regulamente a questão. 

“Acreditamos que os benefícios das ferramentas que implantamos até agora superam amplamente os riscos, mas garantir sua segurança é vital para o nosso trabalho”, disse ele, aos parlamentares norte-americanos, em maio de 2023. 

Julia Possa

Julia Possa

Jornalista e mestre em Linguística. Antes trabalhei no Poder360, A Referência e em jornais e emissoras de TV no interior do RS. Curiosa, gosto de falar sobre o lado político das coisas - em especial da tecnologia e cultura. Me acompanhe no Twitter: @juliamzps

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