Denúncia: site diz que Spotify promove artistas falsos para reduzir royalties
De acordo com uma matéria da revista Harper’s Magazine, publicada na última quinta-feira (18), o Spotify deliberadamente promove artistas falsos para evitar pagar royalties a artistas reais.
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Os artistas falsos são os chamados “ghost artists”, um pequeno grupo de pessoas que criam grandes quantidades de músicas para distribuírem em plataformas de streaming sob o disfarce de diferentes artistas. De acordo com a matéria da Harper’s, o Spotify tem um programa interno para priorizar músicas baratas de artistas falsos, evitando pagar os ínfimos royalties que artistas reais recebem da plataforma.
O programa, segundo Liz Pelly, autora do livro “Mood Machine: The Rise of Spotify and the Costs of the Perfect Playlist”, chama-se PFC — sigla para Perfect Fit Content (Conteúdo de Encaixe Perfeito).
Com o PFC, o Spotify se aliava às “networks” de conteúdo, criando milhões de bibliotecas de músicas de baixo orçamento para a plataforma. Em seguida, funcionários da empresa inseriam essas faixas sorrateiramente nas playlists personalizadas do Spotify.
Desse modo, o Spotify agia efetivamente para aumentar o percentual de streamings em músicas que são mais baratas para a plataforma. A estratégia de trilhas falsas em playlists para evitar pagar royalties para artistas reais se tornou um dos esquemas mais lucrativos do Spotify desde 2017.
Um ex-funcionário do Spotify disse à autora que os editores das playlists do Spotify passaram a ver uma nova coluna no painel do sistema. Essa coluna mostrava estatísticas como reproduções, curtidas e taxas de saltos de música. Assim, a coluna servia como uma ferramenta analítica sobre o desempenho de cada playlist que os funcionários criavam usando “músicas encomendadas para encaixar em uma determinada playlist/humor”.
Esquema de artistas falsos aumentou lucro do Spotify
A coluna também mostrava melhorias de margens de lucro com base no desempenho. Logo após sua implementação, executivos do Spotify começaram a “forçar os funcionários” a adicionar artistas falsos às playlists da plataforma.
“No início, eles [os executivos] nos enviavam links dessas músicas falsas, mas diziam ‘não estamos te pressionando a incluir essas trilhas, mas seria ótimo se você pudesse inserir algumas faixas em nossas playlists”, diz o ex-funcionário.
No entanto, segundo o mesmo ex-funcionário, os executivos do Spotify passaram a ficar mais agressivos, sugerindo que o estilo de certas playlists “encaixavam bem” com as músicas falsas.
Em 2018, a playlist “Ambient Chill”, feita pelo Spotify, já não tinha músicas de artistas famosos, como Brian Eno, que os funcionários trocaram por músicas da Epidemic Sound.
Epidemic Sound não é uma banda, mas sim uma empresa sueca. A empresa oferece um catálogo de músicas de produção com base em assinatura, com o tipo de música que toca em comercial de TV.
Com a insatisfação dos editores do Spotify pela tática de evitar pagar royalties usando artistas falsos, a empresa começou a contratar funcionários que não ligavam muito para a ética.
Em 2023, o time responsável por supervisionar o programa PFC criou centenas de playlists com artistas falsos. “Deep Focus”, “Alongamento Matinal” e “Jazz para Coquetéis” são algumas da lista.
O Spotify ainda não comentou sobre o esquema desde a publicação da matéria. Contudo, no início do ano, o CEO da empresa, Daniel Ek disse que “o custo para criar conteúdo é quase zero”.
Today, with the cost of creating content being close to zero, people can share an incredible amount of content. This has sparked my curiosity about the concept of long shelf life versus short shelf life. While much of what we see and hear quickly becomes obsolete, there are…
— Daniel Ek (@eldsjal) May 29, 2024
Ironicamente, com o esquema revelado, o custo para obter e lucrar com conteúdo de artistas também é quase zero para o Spotify.
Entre 2023 e 2024, a fortuna do CEO do Spotify triplicou, indo de US$ 2,3 para US$ 6,9 bilhões, de acordo com a Forbes.